sexta-feira, 12 de abril de 2013

Por onde anda a LIBERDADE??


Sei que existiu um dia! 

Mas hoje desprezo essa libertina ingrata.

O cravo vermelho murchou e, há anos hirto, 
perdeu a cor do sangue e secou.

Gritei por ela e não me quis. 
Acreditem comigo que ela morreu, findou!

Será que tu que, para subsistires, vendes o teu corpo por leca e meia, 
ou tu, poeta, que fazes das palavras espadas e gritas o desagrado,
será que a viram por aí? 
Eu não a vi!

E tu de bolsos recheados, carteira cheia e coração receoso, conhece-la, viste-a passar por ti? 
Sim, deves ter visto, mas, como eu, vives ansioso, como o sapateiro, com medo que te saqueiem.

Queria nadar de novo no azul dos teus olhos, 
afundar no teu o meu corpo faminto. 
Mas não posso. 
Até essa vontade, só minha e nossa, ela nos roubou.

Colher de ti as carícias que mereço era o meu deleite, 
o maior luxo, mas essa tirana iníqua, 
que devia ser nossa aliada, 
levou-nos até a vontade calma de amar 
e de eu estar em ti e tu em mim, inteiros.

Espetou-me no peito bem cravado 
e fundo um espinho que rodopia em mim,
me faz sangrar de dor e mágoa, 
por ver sumir de nós o que nos pertence 
e alguém se acha no direito de nos levar, 
porque ela, essa tal “liberdade” que é deles, quer e deixa. 
Maldita sorte a minha, a nossa.

Foi-se a mesa farta, o trabalho certo. 
As tuas mãos vazias, magoadas, 
não têm mais vontade de me tocar, 
de me saciar a sede e a fome que sinto. 
A nossa luta agora é outra.

Dizem que existe, que anda por aí, 
mas hoje, mais que nunca, não conheço essa “alforria”.

Foi por conta dela que tudo me usurparam. 
O amor, a paz, o trabalho, a segurança e até a ira de não a ter.

Ela é forte e pode tudo o que quer e lhe apetece.



Já não rio nem sinto. 
Cada dia me furtam mais um pouco e eu, louca, deixo.

Contra os que fruem dessa gaja, dessa liberdade apregoada, nada posso.

Gota a gota tudo o que juntei na vida, 
com suor e luta, 
esvaiu-se dos meus dedos como gotas de água doce e pura, com dor e amargura.

O amor intenso que nós tínhamos desbotou, 
foi-se-lhe a cor e o brilho. 
Estamos esvaziados e sós.

Sopraram-me ao ouvido,
quiçá essa louca, 
que não desanime que tudo se arranja. 
Mas é tarde.

O tempo escurece. 
Não creio no sopro. 
Estou velha, sem tempo de a ter de volta.

Essa maldita, que parecia bonita, 
nunca foi minha, 
e agora, que nos roubou tudo, 
quer enterrar-me viva. 


Inês Maomé


Fotos do Google

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