A ti, que conheço bem,
me maltratas,
me fazes passar mil
tormentas,
que me ultrajaste e mentiste mais de mil vezes
A ti, sonho, nada
dedico.
Contigo não estou com meias medidas,
a ti nada ofereço, ilusão maldita.
Empurras-me
cada dia até ao fundo dos oceanos profundos ou,
vendo-me tremer de medo e frio,
fazes-me levitar no universo e deixas-me aí perplexa,
angustiada e aflita, não
como se eu fosse uma estrela,
mas dolosa mentes-me e abandonas-me como algo
ignóbil
e estranho que me assusta e não admito.
Fazes-me
girar ansiosa,
perdida no escuro,
num fundo negro que ignoro,
sem conhecer nada
nem ninguém, e não te importas.
Ris de mim, de escárnio porque és hipócrita,
porque és ruim.
A ti, sonho, em que não acredito, nada dedico, já disse!
Não o mereces,
não de mim,
tu que nunca me apareceste às cores, risonho,
transformando as
minhas noites na força que preciso
para continuar nesta luta,
fazendo-me
acreditar, mesmo que,
por um segundo,
ao abrir a minha
janela, o sol, um dia, brilhará e sorrirá para mim.
Tu, muito
mais que eu e como muitos que andam por aí,
mereces ficar escondido, bem fundo
numa gaveta.
Sonhos quem
os não tem?
Os amantes enganados, os bancários,
os políticos corruptos,
as
crianças, o meu gato enrolado no meu regaço.
E eu também, mas sempre ruins,
por
isso vos renego e abomino malditos.
Cada um fica com os que tem,
mas eu quero
esquecer os meus,
senão
sinto que cada dia morro um pouco.
Sonhos, o
engano dos mortais.
Sonhos, irrealidades virtuais.
Sonhos, nuvens de algodão,
que não o são.
Sonhos: afinal o que são?
Sonhos, o êxtase
dos noivos, dos que vão ser pais,
dos que beijam a primeira vez
e pela primeira
vez se esfregam
e se entregam na troca dos seus corpos imortais,
amando-se ou
desejando-se como animais.
Que se
forniquem os sonhos,
que vão todos para o inferno,
que os leve um raio para
onde calhar.
Eu não os
quero. Ouviram?
Eu nada dedico ao sonho que a mim nunca teve nada para dar!
Puta que
pariu os sonhos.
Todos eles: mentirosos, traiçoeiros, enganadores,
mesmo os que
parecem fofos, cor-de-rosa,
que brilham como estrelas e nos parecem conduzir ao céu.
Acredito e
dedico um louvor aos “sonhos” que comia,
em miúda,
com café, sentada ao lume
com a minha avó.
Desses sim,
e dela,
ficou-me o cheiro,
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