domingo, 7 de abril de 2013

SEM LIBERDADE


Na leitura me encontro e me escondo, 
me deleito e amo escondida.
Na escrita me adivinho, 
sou nação, sou alma e condado. 
Nela me resguardo, mas nada valho
Sou fechada, anjo negro sem asas, sou triste e dolente, 
não sou ninguém: nem escritor, nem poeta, nem gente
E sempre se agonia em mim a inspiração 
Na valsa e na salsa me desgasto e canso
Rodopio, amo a música, 
alegro-me com o par que me estreita
Amo nele o abraço apertado e doce 
que me aconchega no seu peito mais perto
E giro e não sendo, mas querendo ser, 
uma musa dançante, eu rodopio no salão inteiro
Sonho que sou feliz e livre, 
uma estrela reluzente, pelo menos essa vez.
Mas se se abala de mim a força e a magia,
 eu grito e choro um pranto de mágoa e desencanto.

O rosto e o corpo marcados pelo tempo, 
perderam a cor e o brilho, 
o fascínio de outros tempos
A liberdade dos movimentos e o pensar, 
o ser senhora e dona das palavras que nunca possui
Mas mesmo assim, não desarmo 
e chorando a dor do desgaste e do não saber
Eu leio, escrevo e danço, e sinto que sou importante: um tubarão, uma borboleta, talvez


No amor eu sinto o desejo do enlace, 
sonho os beijos, os abraços sonhados e nunca vividos
Revivo livre cada suspiro gemido, contido, 
envolvido e sempre demais querido. 
Uma paixão que não foi.
Em tudo eu pressinto amor, cheiro a liberdade, 
mas também a dor e o desamor 
o encanto de existir
Do dançar e não ter com quem partilhar a dor, 
o cansaço, o ter e não ter o amor.

Por isso rio, por isso choro, por isso vivo, 
sonhando que mesmo presa e triste, sou franca
De uma liberdade que não tenho, nunca tive, 
nem de longe lhe senti o cheiro ou a cor
Quanta pena! 
Quanto desamor! 
Que frete, que puta de vida a minha
Maldita sejas tu que te foste 
e nunca me bateste à porta.

Porque me fugiste e foges ainda, 
como parva e louca, 
tu que a mim nunca me deixaste alforria?
Tu que devias ser minha vizinha e amiga, 
de mim que te chamei, 
te dei tudo o que tinha, para onde foste?
Fugiste de mim, levaste-me tudo, 
mas a mim, 
à minha carne viva, 
não levas que eu não deixo!

INÊS MAOMÉ


  

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