Na leitura me encontro e me escondo,
me
deleito e amo escondida.
Na escrita me adivinho,
Na escrita me adivinho,
sou nação, sou alma e condado.
Nela me resguardo, mas
nada valho
Sou fechada, anjo negro sem asas, sou
triste e dolente,
não sou ninguém: nem escritor, nem poeta, nem gente
E sempre se agonia em mim a inspiração
Na valsa e na salsa me desgasto e canso
Rodopio, amo a música,
alegro-me com o
par que me estreita
Amo nele o abraço apertado e doce
que me
aconchega no seu peito mais perto
E giro e não sendo, mas querendo ser,
uma musa dançante, eu rodopio no salão inteiro
Sonho que sou feliz e livre,
uma estrela
reluzente, pelo menos essa vez.
Mas se se abala de mim a força e a magia,
eu grito e choro um pranto de mágoa e desencanto.
O rosto e o corpo marcados pelo tempo,
perderam a cor e o brilho,
o fascínio de outros tempos
A liberdade dos movimentos e o pensar,
o
ser senhora e dona das palavras que nunca possui
Mas mesmo assim, não desarmo
e chorando
a dor do desgaste e do não saber
No amor eu sinto o desejo do enlace,
sonho os beijos, os abraços sonhados e
nunca vividos
Revivo livre cada suspiro gemido,
contido,
envolvido e sempre demais querido.
Uma paixão que não foi.
Em tudo eu pressinto amor, cheiro a liberdade,
Em tudo eu pressinto amor, cheiro a liberdade,
mas também a dor e o desamor
o
encanto de existir
Do dançar e não ter com quem partilhar a
dor,
o cansaço, o ter e não ter o amor.
Por isso rio, por isso choro, por isso
vivo,
sonhando que mesmo presa e triste, sou franca
De uma liberdade que não tenho, nunca
tive,
nem de longe lhe senti o cheiro ou a cor
Quanta pena!
Quanto desamor!
Que frete,
que puta de vida a minha
Maldita sejas tu que te foste
e nunca me
bateste à porta.
Porque me fugiste e foges ainda,
como
parva e louca,
tu que a mim nunca me deixaste alforria?
Tu que devias ser minha vizinha e amiga,
de mim que te chamei,
te dei tudo o que tinha, para onde foste?
Fugiste de mim, levaste-me tudo,
mas a
mim,
à minha carne viva,
não levas que eu não deixo!
INÊS MAOMÉ
INÊS MAOMÉ
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