segunda-feira, 8 de abril de 2013

LIBERDADE...onde andas?????


Sei que existiu um dia!
Mas hoje desprezo essa libertina ingrata.
O cravo vermelho murchou, e, há anos hirto, 
perdeu a cor do sangue e secou.

Gritei por ela e não me quis. 
Acreditem comigo, que ela morreu, findou!
Será que tu que, para subsistires, vendes o teu corpo por leca e meia, 
ou tu, poeta que fazes das palavras espadas e gritas o desagrado, 
será que a viram por aí? 
Eu não a vi!

E tu de bolsos recheados, carteira cheia e coração receoso, conhece-la, viste-a passar por ti? 
Sim, deves ter visto, mas como eu, vives ansioso, 
como o sapateiro, com medo que te saqueiem.



Queria nadar de novo no azul dos teus olhos, afundar no teu o meu corpo faminto. 
Mas não posso. 
Até essa vontade, só minha e nossa, ela nos roubou.

Colher de ti as carícias que mereço era o meu deleite, 
o maior luxo, mas essa tirana iníqua, 
que devia ser nossa aliada, levou-nos até a vontade calma de amar e de eu estar em ti e tu em mim, inteiros.

Espetou-me no peito bem cravado e fundo um espinho, 
que rodopia em mim, me faz sangrar de dor e mágoa, 
por ver sumir de nós o que nos pertence e alguém se acha no direito de nos levar, porque ela, essa tal “liberdade” que é deles, quer e deixa. 


Maldita sorte a minha, a nossa.
Foi-se a mesa farta, o trabalho certo. 
As tuas mãos vazias, magoadas, não têm mais vontade de me tocar, de me saciar a sede e a fome que sinto. 
A nossa luta agora é outra.

Dizem que existe, que anda por aí, mas hoje, mais que nunca, 
não conheço essa “alforria”.
Foi por conta dela que tudo me usurparam. O amor, a paz, o trabalho, a segurança e até a ira de não a ter.
Ela é forte e pode tudo o que quer e lhe apetece.
Já não rio nem sinto. 
Cada dia me furtam mais um pouco, e eu, louca deixo.

Contra os que fruem dessa gaja, 
dessa liberdade apregoada, nada posso.

Gota a gota tudo o que juntei na vida, com suor e luta, esvaiu-se dos meus dedos como gotas de água doce e pura, com dor e amargura.

O amor intenso que nos tínhamos desbotou, foi-se-lhe a cor e o brilho. Estamos esvaziados e sós.
Sopraram-me ao ouvido, quiçá essa louca, 
que não desanime que tudo se arranja. 
Mas é tarde.
O tempo escurece. 
Não creio no sopro. 
Estou velha, sem tempo de a ter de volta.

Essa maldita, que parecia bonita, 
nunca foi minha, e agora que nos roubou tudo, quer enterrar-me viva.

INÊS MAOMÉ

Fotos do Google

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