Todos julgavam que ele era mau, era o que o Zé pensava, porque quando passava na rua a correr, gritava bem alto:
"-Eu sou o Zé bonitão
alegre e engatatão,
cuidado quem por mim passar
ou se arreda ou leva com um pau
porque sou mau, sou mau, muito mau !
Coitado, o Zé não era nada mau, ele vivia numa casa de cartão, bonita, toda pintada de azul e amarelo com flores e riscas, igaulzinha ao seu pijama, com um catavento no telhado que girava o dia inteiro, para equilibrar a casa nos dias de maior ventania, dizia ele, mas não deixava de ser de cartão, e então com medo dos larápios e rapazes destruidores, que de noite costumavam fazer estragos pelas redondezas, resolveu inventar aquela cantilena, que imaginem, afastava toda a gente incluindo as raparigas bonitas, do seu caminho. De que lhe adiantava ser bonito e engatatão se depois lhes dava com um pau, às raparigas, por ser mau. A avó bem lhe dizia, não cantes isso óh Zé, assim ninguém te leva a sério, e vai trabalhar que já tens idade para isso.
Alguma coisa devido ao seu excessivo medo, tinha de mudar: ou a cantilena, ou a casa, ou o próprio medo, afinal já não era mais uma criança, mas também com uma casa de cartão....
Naquele dia não pensou em mais nada. Ia arranjar um trabalho. O ideal era mudar o tipo de casa e de cantilena também.
Ninguém tinha uma casa de cartão como a sua, e com essa casa, mesmo com trabalho e mudando a cantilena ninguém o ia querer para marido, disso estava certo, foi a conclusão a que chegou.
Ia contruir uma casa de madeira. A partir desse dia, em vez de passar o dia pela aldeia a passear e a cantarolar, ou deitado á sombra da sua casa de cartão, começaria a árdua tarefa de constução da sua nova casa, antes que o vento feroz a levasse pelo ar, ou alguém de má fé lhe pegasse o fogo.
Logo de manhã começou a subir á montanha para começar a recolha dos toros de madeira com que havia
de construir a sua nova casa. As pessoas habituadas a verem-no só a preguiçar e a cantarolar, já muitas vezes comentavam entre si, que um dia ele iria ficar na rua e não lhe dariam guarida porque ele não queria era trabalhar, desconhecendo um pouco os seus receios, achavam agora naquela atitude que ele tinha tomado juizo.
:-"Temos homem", era o que muitos diziam.
E o Zé, que ganhara um pouco de juizo porque um dia em sonhos, quem sabe, algum anjo lhe dissera que sua casa em madeira seria muito mais segura, e não seria a sua canção idiota que afastaria os ladrões e malfeitores, pois com ela afastaria qualquer um, começando ele por cantar uma nova canção:
-:Eu sou o Zé guardião,
guardo tudo até o feijão,
sou muito trabalhalhador,
alegre e sedutor,
quem me quiser visitar
bate á porta e pode entrar.
Sentia-se muito mais feliz agora, enquanto construia a sua nova casa e ia cantando a sua nova cantiga.
"-Olá Zé tás bom, a tua casa está a ficar muito bonita"
Eram só elogios que recebia. Tinha e certeza que uma nova etapa na vida o esperava.
É bem verdade que a força está dentro de cada um, não adianta ter medo ou esconder-se atrás seja do que for, o que é preciso quando surge um problema é enfrentá-lo, que ele de uma forma ou de outra há-de ter sempre uma solução.
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