Ninguém ao certo sabe porque lhe chamaram Pinóquio, pois era um menino como todos os outros, que se chamava Gianni, e que para a altura apesar das dificuldades com que vivia a familia, e de nem todos estudarem na altura que os tempos eram de crise, os pais obrigavam-no a ir à escola todos os dias. Apesar de pobres, queriam que quando fosse homem, soubesse mais que eles e pudesse escolher uma profissão, ainda que na altura os jovens da vila, e suas familias estivessem todos de abalada, pois não havia recursos naturais, e a inexistência da indústria era completa.
A Itália que era o país de Gianni, em 1920 era ainda um país muito jovem, quase completamente rural, com alto indice de analfabetismo e uma estrutura de impostos desigual criava grandes sobrecargas para o povo italiano , onde o Papa se recusava a reconhecer o país como país. Italia era um país pobre, em crise e insatisfeito, com extrema pobreza que enfrentava difíceis problemas.
A repressão do governo deu origem ao aparecimento de bandidos e na anarquia entre os camponeses que cada vez mais pobres ao sul resolvem emigrar para o Brasil ou Estados Unidos. Estes camponeses sem terra eram arrendatários, ou, na melhor das hipóteses eram donos parciais da terra que ocupavam. Mas os impostos que pagavam e rendas eram diversas, altas e insuportáveis.
Por ser uma hitória ficticia, não se refere aqui a influência de paises como Alemanha, França,Reino Unido, Autria-Hungria, e outros, na fundação do país que é hoje a Itália.
Gianni era um miudo muito atilado, mas também impertinente e regila, e se por um lado queria saber tudo, chegando a saturar o pai Carlo, com tantas perguntas, tantas que a muitas nem lhe sabia responder, pois não tinha conhecimentos nem forma de lhe explicar questões tão ousadas e pertinentes por se viverem tempos politicos conflituosos, por outro lado preocupava-o, que se via com medo de o ver tão interessado com assuntos que não eram próprios para a sua idade.
Por mais que o mandasse calar, mais lhe aguçava a vontade de falar. Gianni não se calava , e todos os dias falava com interesse renovado dos mesmo assuntos:
"-: porque chegava a mãe sempre tão tarde a casa e ele nunca a via, e não faziam as senhoras o trabalho, se eram mulheres como elas, já que não lhe pagavam. Também tinham filhos como ele e elas sim, podiam estar com eles todos os dias, e deitá-los á noite e ele nunca estava com a sua mãe."
":-porque não recebia a mãe dinheiro, se trabalhava como o pai e até chegava mais tarde que ele a casa, porque não recebia dinheiro, só roupa usada , fruta ou legumes."
":-porque tinha o pai que pagar ao governador dinheiro pelo seu trabalho, se pagava os materias, e só levava o justo valor pelas horas que levava a trabalhar. E nem sequer conseguia trabalho todos os dias, seria justo?? "( o miudo não concordava com isto)
":-porque andavam aos pares pelas ruas os guardas e as pessoas se metiam em casa ?""
":-porque estavam as pessoas a sair da aldeia e a ir não sabia ele para onde com os filhos e nunca mais apareciam os jovens da vila pela noite?"
":- porque ia tanta gente presa, e não trabalham, ninguém mais trabalha nas terras?"
Perguntava muitas vezes ao pai
" :- e que vou fazer eu quando crescer, não quero pagar do meu trabalho ao governador ?E se eu não pagar o que me aconteçe ?"
":-porque não vai quase ninguém á escola?"
Gianni ficava com os ouvidos cheios de peguntas sem saber o que responder ao filho.
Tinha muito medo que lhe acontecesse algo ao seu.
Eram tantas as perguntas e todas tão importantes, que também ele gortaria de ter respostas certas para todas elas.
Só tinha Gianni, e Giulia a mulher. Já tinha sido pai um pouco tarde e não queria por nada que um dia pela lingua ele fosse castigado ou quem sabe preso. Era tão pequeno e já tinha ideias de gente grande, tudo porque estava sempre muito atento a tudo, e longe da mãe, o via a ele contantemente curvado sobre a banca de carpinteiro!
Volta e meia quando ouvia passadas marcadas ao longe na rua ficava á escuta. Dizia-lhe que os guardas faziam rusgas em silêncio pela vila, lado a lado.Só se ouvia o eco do bater dos tacões das suas botas nas pedras das ruas, e nessas horas as pessoas se recolhiam. Ele ouvia em silêncio e o seu coração parecia querer sair-lhe do peito, a querer-lhe dar-lhe algum sinal !
Vivia-se tempos muito dificeis. Era a época da primeira guerra mundial e a Itália proclamou-se neutra, mas depois uniu-se aos aliados pelo Tratado de Londres. Com tudo isto Mussolini é convidado pela burgesia que apoia maciçamente o fascismo a formar um novo ministério.
Mas condições politicas injustas ou repressivas, condições de vida ruins, disturbios laborais e maus tratos nas poucas industrias existentes nas zonas urbanas, enfim e todas as situações já enumeradas anteriormente tornavam cada vez mais insustentável a vida campestre de Alessandria ao sul de Itália. E nem todos os cidadãos tinham direito ao voto.
Por mais que trabalhasse, o salário do pai mal dava para sustentar a casa, apesar de ter a ajuda da mãe que cuidava da casa de algumas senhoras mais abastadas da vila, tratando-lhes da cozinha e das roupas, ganhando em troca alguma comida sobrante e roupas dos filhos ou dos marido, ou até delas, e o mais importante legumes das suas hortas, que ela própria ajudava a cuidar, mas que tudo junto era insignificante! A mulher passava o dia fora e á noite sempre que chegava a casa quase sempre encontrava o filho a dormir o que o revoltava, e a entristecia a ela, mas deixava os pais impotentes sem nada poder fazer.
Giulia lamentava-se disso. Com o marido já velho e cansado por se manter todo o dia apoiado ao cerrote, ao martelo e á banca de carpimteiro, no entanto, ficava ainda pior, nos dias em que isso não acontecia pois era sinal que o trabalho faltava.
Vivia-se um tempo de muita crise. Não havia dinheiro a circular e o pouco que havia, seu de direito, os governadores, encarregavam-se de obrigar os cidadãos de o entregar como contribuições de trabalhos feitos ou prestados.
Ou se trabalhava e depois se pagava impostos ao Estado, ou não se trabalhava por não haver o que fazer, e vivia-se igualmente na mais profunda miséria.
Os pais de Gianni viviam em sobressalto com ele, pois achavam que o filho era inteligente demais, questionava demais sobre assuntos perigosos para a época, e de vez em quando havia pessoas sobretudo homens que desapareciam e nunca mais se viam por lá. Eram os fomentadores de greves socialistas e comunistas que trabalhando mais nas zonas (poucas) fabris, que por ali também já iam aparecendo, pelo menos era o que se comentava á boca pequena.
Gianni resolveu que ainda haveria de dar um grande politico, e resolver muitas questões da sua vila, e sem dizer ao pai conseguiu encher-se de coragem, enfrentar os guardas que costumavam bater pé pelas ruas de Alessandria. Encheu o peito de ar e disse de uma vez só:
"- Tenho muitas questões para colocar ao nosso querido governador, será que poderiam marcar-me uma audiência para me receber. Estrei disponivel a qualquer hora assim que sua EXª, ou um seu representante me possa receber. Estarei aqui amanhã para me darem. Obrigada."
Os guardas olharam-se atordoados sem saber o que dizer. Um miudo tão pequeno com aquela conversa.
Disparate. Mas chegados ao quartel comentaram ao comandante que lhes disse:
"-deixa lá vir o miudo que se borra aí todo de medo, vai aprender a não se meter com gente crescida,
ah ah ah ah ah ."
O pai de Gianni quando soube, não conseguiu de forma alguma demover o filho desta intençao. Era uma criança, mas muito decidida, e assim para poder através do seu aspecto, mostrar ao governador que ele falava com uma criança que só queria ser esclarecida mas a quem podia dizer coisas simples, pegou num fato daqueles oferecidos á mulher e aos poucos transformou-o e pintou-o nas cores da seu país(Itália) e nas cores das flores do campo de Alessandria. Ficou mais bonito que algum outro que alguma vez tivesse sido visto. A ideia era distrair o representante que ia ouvir Gianni, para o fato, para não tomar tanta atenção no que ele estava a dizer e o resto ficaria nas mãos de DEUS.
Depois de arranjado, pintado e seco, Gianni com o fato vestido era o retrato vivo de um boneco, nem parecia um menino a sério. Tinha as cores de um jardim em plena primavera. Nesse dia Giulia ficou para o ver sair, e á porta junto com com Carlo, ao vê-lo partir aos saltos estavam orgulhosos do seu menino.
Estava lindo e vistoso, como nunca. Se a mãe não o visse naquela hora nem o iria reconhecer!
O pai recomendou-lhe calma e ainda lhe perguntou ,
":-mas queres mesmo ir,"
":- claro, e é pra já..."
Gritou ele já a correr, sem ouviu as recomendações que o pai lhe fez meio a sério meio a brincar para não o assustar:
"-Porta-te bem e não abuses que podes ir preso, dizem que quando os meninos se portam mal no palácio, lhes cresce o nariz, e ficam assim para sempre até voltarem a dizer a verdade.....ouviste...mas ele já não ouviu nada, já ia a correr a perder de vista e para não perder o seu bonito boné vermelho, tirou-o da cabeça, e saltitava atirando-o ao ar fazendo dele um bola. Ia feliz como se fosse para uma festa, afinal imaginava que ia obter resposta a todas as suas dúvidas.
E meio a rir meio preocupado, o pai veio para dentro aguardando por um final de reunião bem sucedido!
Seria que o seu filho iria ser bem recebido?
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