sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Maria (cont)

Encaminharam-se para a ruela onde ficava a casa de Maria, naquele pequeno canto que em tempos, ela mantinha sempre em ordem como se fosse um pequeno jardim.

Tudo fechado, mas à volta da casa assim como no beiral da, parecia que um jardim de flores campestres e de silvas a tinha invadido sem pedir licença . Assim ninguém conseguiria lá entrar. A natureza tinha-se encarregado de proteger a casa pelo menos pela frente, faltava ver como estaria tudo lá por dentro e no pequeno quintal nas traseiras.
 Depois da algum sacrifício para derrubar todo aquele silvado, com o engenho de Fernando, ao entrar dentro de casa Maria verificou com o pai e o marido que tudo estava como deixou. Cheio de pó é certo, mas recordava  perfeitamente ao olhar a sala, o momento da sua saída daquela casa, num ultimo olhar, ao poisar as malas, os paninhos de renda brancos que colocara na mesa de centro, com a jarrinha e as flores de plástico em cima. Esfregara os olhos e jurara a si mesmo que não ia chorar, endireitara-se e pondo-se a caminho depois de fechar a porta, andou sempre em frente sem nunca mais olhar para trás. Queria muito encontrar o pai e ia conseguir. Estava resolvida.

Ao relembrar estes momentos sentia-se de novo uma grande mulher. Agora na aldeia, aquela casa, tudo lhe parecia pequeno, como um sonho que um dia viveu, mas ao mesmo tempo, tudo aquilo tinha sido muito importante para ela crescer e se tornar na mulher que era naquele dia.

Bastou aparecer uma pessoa na rua, que de repente começaram a surgir outras. Eram curiosas, que sem conhecer o carro nem as pessoas junto daquela casa se questionavam, e gostariam de saber quem era aquela gente nova e diferente, que estava rondando a casa que fora de Maria.

Uma mulher bonita assim, loira, muito bem arranjada, um belo carro novo, um homem daqueles jeitoso, belo como um príncipe, e outro que podia ser pai de ambos ou de um só, quem saberia, mas quem seria aquela gente, era o que todos queriam saber.

E questionavam-se uns aos outros, e as respostas tardavam em chegar.
De uma coisa estava o povo convencido, Maria devia ter-se perdido no mundo como o pai pois nunca mais dera noticias.

Deram um arranjo considerável à pequena casa, e instaram-se num hotel numa zona não muito distante.  Voltariam alivárias vezes para deixar vários assuntos resolvidos. ~
 Enquanto visitaram largamente várias zonas do país, que os três desconheciam, iam conversando o que fazer com a velha casa. Todos tinham achado o interessante para passar férias, além de que naquele sítio Maria e Fernando tinham as suas raízes, a mãe e a avó, e talvez com uma boa reconstrução, aquele fosse um lugar muito bom para no verão, ou primavera, toda a família, a combinar, poder alternadamente vir durante o ano a Portugal passar férias. Estavam entusiasmados com a ideia, o que os levava amiúde ainda mais vezes  à aldeia a estudar o local.

Um dia uma velhota mais curiosa e metediça, perguntou-lhes:
“-Oi meu Senhor, que mal pareça eu perguntar, mas comprastes esta casa a Maria, sabeis dessa rapariga? Saiu daqui há anos e nunca mais voltou, em busca não sei do quê, dizem que em busca de trabalho, ou do pai, coitado outro que tal, também desapareceu e nada dele, nem sombra nem de um nem de outro…., ambos perdidos neste mundo.Ninguém lhe arroubou a casa pois somos gente de bem e temente a Deus, porque meu senhor desaparecer e nunca mais dizer nada. Tá bem que o que tá aí tem dono, mas com isso ela partiu e não disse nada, era arredia, a rapariga....”

..como que interrompendo, Fernando respondeu ;
“-: Minha senhora eu sou o Fernando, o pai de Maria, então não me conhece, e a Maria é aquela jovem ali, com o marido, o Pierre. Não se preocupe agora eu e a minha filha estamos muito bem, e Pierre também. Viemos visitar a nossa aldeia a nossa casa e o nosso país. Agora que já temos posses, havemos de vir mais vezes. No futuro talvez passemos a vir muitas mais vezes pois vamos reconstruir aqui a nossa casa, mas vocês têm que passar a ser muito menos curiosas. Se pretendem saber uma coisa porque não perguntam em vez de inventar. Gostava muito de um dia poder ver os meus netos a correr e a saltar livremente por estas ruas, como não consegui ver Maria”

E continuou:

“-sei que podiam ter ajudado muito mais a Maria, ter sido muito mais generosos com ela, perseguia-na com por tudo e por nada, criticando tudo o que ela fazia. Em resumo foram como uma má madrasta. Não fosse ela boa rapariga, atilada e esperta e estava aí sabe-se lá como e onde, e sabe que mais, já lhe disse mais do que devia. Não me faça soltar a lingua que me arrependo e nunca mais aqui apareço nem com a Maria, nem com mais ninguém...e adeus casa..."

A mulher estava pasmada com tudo o que ouvia. Aquela mulher bonita não parecia nada a Maria que deixara a aldeia. Era uma jovem elegante mais bonita que nenhuma outra que alguma vez ela tivesse visto, com cabelo brilhante, mãos e pele de cera, muito cheirosa ao passar, e falava uma linguagem que por vezes parece que ninguém entendia. Finura no trato que só vendo. A mulher não tinha onde, nem como entender tudo isto, mas ao mesmo tempo estava muito feliz por todos eles, e desatou dali a andar que tinha muito o que contar. A ultima coisa que queria era que aquela gente desaparecesse novamente da aldeia.

No armazém, o antigo patrão dizia a toda a gente que ela merecia aquilo e muito mais, sempre a achara muito competente e trabalhadora. Se fora à luta e vencera tanto melhor para ela. Sentia-se também um vencedor e orgulhoso por um dia a ter tido como empregada(ainda que sendo um explorador). Agora na aldeia, todos tinham coisas maravilhosas a dizer de Maria, o que não deixava de ser curioso.

Os rapazes no café ao vê-la passar achavam-na mais que bonita, e interrogavam-se:
“-Onde teria ela ido buscar tanto encanto e formosura”

Eles não sabiam, mas o amor faz milagres. Ela sempre fora muito bela, só tivera sempre um grande nevoeiro a envolvê-la, protegendo-a e encobrindo-lhe a beleza. Tinha sido o seu grande guardião.

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