Sozinho, chega à praia a hora menos própria, exactamente quando o sol está a pique, um senhor já com uma certa idade, todo vestido de preto, na cabeça um chapéu de levar à missa, e vestido com roupa um tanto inadequada para o local. Não muito alto, de óculos escuros, usava uma bengala, que dispensou para abrir o chapéu de praia amarelo e o espetar na areia onde achou o sitio mais correcto.
Instala-o junto ao mar, e por baixo coloca os seus pertences. Ao lado estende uma toalha deita-se ao Sol que brilhava intenso e forte.
Nada de cremes, que a sua pele segundo ele, é o que parece, já não deve precisar de protecção, o que não é verdade, a roupa sim, que é preta e o sol pode-lhe tirar a cor, e para isso carrega o chapéu para a proteger.
Afinal, lê muito melhor sem óculos, também eles apesar do Sol, vão descansar para a sombra do chapéu.
Mas tudo isto por muito curto tempo. Afinal aquele sitio, escolhido pelo senhor vestido de preto, com um chapéu de sol amarelo para lhe proteger a roupa preta do Sol, não podia estar ali pertinho a olhar o mar, aquele lugar não podia ser para ele nem, para o seu chapéu amarelo.
O nadador salvador mandou-o levantar dali e sair para outro local. Estava a ocupar a zona concessionada. Depois de bem instalado, mal se tinha deitado na toalha, nem chegou a ler nada, tinha que pegar em todas as suas coisas e mudar para outro lugar.
Mudou tudo, voltou a colocar as suas coisas à sombra do chapéu amarelo, que teve que voltar a espetar noutro local, e sobre a toalha estendida ao Sol deitou-se, sem óculos escuros que guardou igualmente debaixo da sombra do chapéu. Decerto a ver por este exemplo, deve ter todos os seus pertences muito bem estimados.
Não permaneceu muito tempo na praia. Quando o sol começou a declinar , levantou-se da toalha e começou a arrumar todas as coisas meticulosamente organizadas. Vestiu a sua roupa, não parecendo nada que estaria a sair da praia. De repente ao olhar tinha desaparecido do areal. Muito mais tarde ao final do dia, saindo da praia encontrei o senhor ainda a conversar com um outro homem mais ou menos da sua idade, em pé parecendo discursar, gesticulando animadamente virado para o mar. Naquele local estava a fazer o que devia, era para aquilo que se tinha vestido e arranjado. O outro sentado no banco ouvia-o atentamente. Ao lado, descansava calmamente o chapéu e a bengala.
O homem estava feliz.
Foi um dia de praia muito bom, e diferente.