sexta-feira, 28 de junho de 2013

Tenho que dizer adeus ao mar!




Tenho que dizer adeus ao mar!

Ele que sempre está aqui, ali, além,
em muitos locais no mundo onde passei e o vi, 
e sei, ele conhece e domina como ninguém,
locais que tem como  seus e certos,
praias, areais imensos, encostas escarpadas, 
rochedos diversos, terras dele,
só seus, de que é dono e mestre
desde o inicio do mundo, desde sempre
eu que o vi sempre assim forte e valente,
a mim que deu sempre saudades ao deixá-lo, 
deixando-me na mente 
a sua força gigante e diferente,
sei que desta vez, ao partir deste lugar, 
quando o olhar, 
vou chorar,  
tal como fiz da primeira vez, 
quando os dois, juntos, de mãos dadas,
partimos para começar uma vida nova, 
a nossa vida.  

Ao contrário das outras vezes, 
que o adeus sempre me doía, mas era doce,
eu sabia, sempre, que voltaria 
algures a visitá-lo num ou outro lugar, incerto,
mas mais renovada
Agora quando me despedir, 
vai-me pesar muito, custar mais que sempre
porque o tempo passou, e sendo ele o mesmo
nós de mãos dadas, hoje já engelhadas,
estamos mais velhos, diferentes.

Não sou como ele, guerreira, 
com mais de mil anos, esforçada e valente.
Quando eu nasci, ele já cá estava, 
a força que tinha era a de hoje,
e no dia em que eu partir de vez, 
ficará isento, sem pena de mim. 
Afinal não me conhece, como eu a ele o julgo conhecer.
Não sentirá nada, nem pena, nem falta, nem a ausência
É forte, constante e valente, continuará o seu bater certo,
resoluto e vibrante, e eu, com ele preso no olhar 
tê-lo-ei como sendo a maior força da natureza.

Tentei fazer como ele
Lutei com força até ao limite
Mas desisti, verifiquei que sou fraca e desisti de uma briga ingrata

Perdi no meu amor, 
a força que me dava a minha valentia
A vida, levou-lhe muito do que tinha 
coisas que lhe davam e a mim, alegria e alento. 
O que eu temia.
Eu olhei, agora olho-o sempre, 
parecendo alheia eu olho-o sempre atenta,
mas sem saber como, não consigo animá-lo
Esforcei-me, lutei mais que o mar se bate 
contra as rochas das encostas milenárias, 
juro que o fiz,
mas foi tudo em vão.

A luta de ambos, a minha vontade, 
o meu querer e ser capaz de fazer o impossível, 
voaram para sempre,
para algures, onde nem o tempo sabe onde estão.


Desisti. Desistimos.
É a vida! 
E o mar no seu movimento imutável, continua no seu batalhar,
não parando de enrolar e desenrolar a cada instante

Estou limitada. 
O meu amor está triste e não tenho como o alegrar
E como não sou forte e valente, persistente e constante como o mar
Vou quedar e deixar de insistir. 
E como o lamento. Lamento tanto!

Sou um simples copo de água,
meio bebido, meio vazio, água morna, ali esquecida,
que até pode matar a sede, 
mas só numa última agonia de secura e vida,
se a sede que se anuncia é extrema  
e promete desidratar o pobre caminhante.

É a vida! 
Somos nós. É o mar que está ali,
que está aqui, forte e possante, 
o mar a quem vou dizer adeus, até um dia, 
eu, um ser frágil, pobre e mutante

Desta vez parto com maior pena, 
pela mágoa de não o levar preso comigo ( ao meu amor)
mesmo que fosse só seguro  por raio fino de um fio invisível
mas que eu sentisse forte e vivo dentro de mim.

Tenho, que dizer adeus ao mar!
Sabendo que desta vez vou chorar....

Inês Maomé





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