domingo, 2 de junho de 2013

...SAUDADES DE TE TER...




Tenho saudades de te ter
Saudades de te sentir, em mim toda.
Inteiro no meu corpo
De te ver entrar alegremente pela minha porta verde

Trago-te suspenso a mim, como um raio de sol
Seguro na minha algibeira por um fio tão fino
Que não vejo, não pressinto, mas existe findo

Veio o vento, a tempestade e tu sumiste
Voaste enrolado num tufão
E foi assim que partiste
Espero-te sentada, chorosa, sem saber se evaporaste
Ou se perdido algures, um dia voltas à porta por onde sempre entraste

Eras tudo em mim, o sopro que me alegrava
Me alentava o dia, me dava graça e de graça por vezes me fazia rir
Sumiste volátil, levando contigo a força, a potência de um gigante
Secaste em mim tudo, como seca a água na fonte
Mas ainda assim aguardo-te amorfa, quebrada, desalentada
Pois sei bem que não serei mais tua amada
Nem tu serás meu amante
Julgava-te meu, diferente, um oceano onde navegava
Procurando em ti incessante, o meu porto, o meu abrigo e aconchego
O amor que muitas vezes falhava, não me davas, 
mas sempre em ti esperava
Que com esperança buscava sempre, e por vezes encontrava



Trago o olhar pregado ao chão,
O coração mirrado na dor, a alma de luto
Dona da solidão em que me deixaste
Foste-te num dia de sol, não sei se de chuva,
Algures já distante
E ao olhar-te da minha porta aberta
Vi-te esfumar na rua
Na rua que sempre pisaste
Na rua que vem dar à minha porta
Agonia-se em mim o dia e logo depois a noite,
E um a seguir ao outro e tu longe, perdido
Sem te saber por onde, sem me saberes

Sou, sem te ter em mim, um nada
Pouco mais que um farrapo, um dia nublado, negro e sombrio
Um dia sem sol: nem fechado, nem rasgado
Um dia enevoado
Um dia sem vida, de trovoada constante

Inês Maomé



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