Saudades de te sentir, em mim toda.
Inteiro no meu corpo
De te ver entrar alegremente pela minha porta verde
Trago-te suspenso a mim, como um raio de sol
Seguro na minha algibeira por um fio tão fino
Que não vejo, não pressinto, mas existe findo
Veio o vento, a tempestade e tu sumiste
Voaste enrolado num tufão
E foi assim que partiste
Espero-te sentada, chorosa, sem saber se evaporaste
Ou se perdido algures, um dia voltas à porta por onde sempre
entraste
Eras tudo em mim, o sopro que me alegrava
Me alentava o dia, me dava graça e de graça por vezes me
fazia rir
Sumiste volátil, levando contigo a força, a potência de um
gigante
Secaste em mim tudo, como seca a água na fonte
Mas ainda assim aguardo-te amorfa, quebrada, desalentada
Pois sei bem que não serei mais tua amada
Nem tu serás meu
amante
Julgava-te meu, diferente, um oceano onde navegava
Procurando em ti incessante, o meu porto, o meu abrigo e
aconchego
O amor que muitas vezes falhava, não me davas,
mas sempre em ti esperava
mas sempre em ti esperava
Que com esperança buscava sempre, e por vezes encontrava
O coração mirrado na dor, a alma de luto
Dona da solidão em que me deixaste
Foste-te num dia de sol, não sei se de chuva,
Algures já distante
E ao olhar-te da minha porta aberta
Vi-te esfumar na rua
Na rua que sempre pisaste
Na rua que vem dar à minha porta
Agonia-se em mim o dia e logo depois a noite,
E um a seguir ao outro e tu longe, perdido
Sem te saber por onde, sem me saberes
Sou, sem te ter em mim, um nada
Pouco mais que um farrapo, um dia nublado, negro e sombrio
Um dia sem sol: nem fechado, nem rasgado
Um dia enevoado
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