sábado, 8 de junho de 2013

Eu sou o teu mar...


Como posso dizer-te adeus eternamente
Se vivo em ti e tu em mim, 
se tu és eu e comigo és inteiro e completo
Se o meu sentir e o teu querer é o mesmo, 
é único e só nosso
Se o que sinto por ti e tu por mim, não é amor, 
pois isso é pouco
É carne, é dor, é um prazer entontecido e louco
É sermos dois num só, 
é sentir-me respirar pela tua boca
É viveres, caminhares, existires eu em ti e tu em mim, 
mas sempre num mesmo corpo
Como posso dizer-te adeus, 
se ao ires eu vou contigo 
e se fores ficas comigo para sempre?

Há muito, desde antes de nascer o “amor”, 
que eu e tu éramos um só e juntos
A mesma pele, o coração coeso a bater sempre um mesmo compasso
E a carne, o nosso sangue e as veias, 
aquilo de que somos feitos,
Fez-nos muito cedo existir num só ser, 
sermos algo singular, cândido e belo:
no sorrir e no chorar,  na alegria e na desgraça, 
no dar e receber,
fomos sempre um e só o mesmo corpo amante, 
mesmo mal amado (isso que  importa),
uma só matéria, um ser perpétuo, inequívoco, 
invisível mas  ligado  para sempre
Viver e caminhar juntos é o nosso desígnio, 
é único, 
é teu e meu, 
é uma pertença nossa.

Eu sou o teu mar, 
tu és o rio, 
em mim entraste e em mim ficaste para sempre
Tu és a fonte viva,
 eu sou a água (pura) que jorra dela: ontem, hoje e eternamente
Eu sou a areia, 
tu, o oceano que se espraia nela, 
que eu consinto e aceito sempre
Tu és o céu e eu sou as estrelas, 
eu sou o Sol tu és a Lua
Eu sou a tinta tu o pincel 
e juntos pela mão do pintor 
damos vida e cor à tela há tanto tempo
Tu és o dia eu sou a noite, 
tu és a noite e eu o dia 
e assim será indefinidamente

Não posso dizer adeus às estrelas 
que mesmo sem brilho existem no firmamento
Vais partir mas não vais só: tu e eu sabemos isso, já to disse

Ligados, aqui ou noutro espaço, 
seremos sempre um só 
ontem, hoje e além da morte.

Inês Maomé


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