domingo, 25 de agosto de 2013

QUANDO EU MORRER…


QUANDO EU MORRER…

Quando eu morrer
e os meus olhos se cerrarem de vez
não quero que seja domingo, nem sábado, nem sexta-feira
quero morrer num dia comum,
sem ser feriado nem dia de festa.
Não quero que toquem os sinos,
mas que passarinhos apareçam e chilreiem
e cantem devagarinho como os escuto agora
como o fazem todas as  Primavera
quando enfeitam o beiral da minha janela
não, que eu o mereça, mas porque gostaria que assim fosse

Para mim não quero o badalar triste e constante,
dos sinos da torre da igreja
que me torturam sempre,
me avisam de fins  que não quero saber
que me fazem sofrer e eu não gosto 
que sei me vão ferir mesmo depois de partir
não quero que se fale que morri: por compaixão ou pena
por misericórdia ou contemplação
quero que se calem as bocas, se faça silêncio, isso apenas
Não quero flores vistosas, malmequeres somente
não quero gritos difundidos, 
nem lágrimas de ninguém, nem ais desmesurados
sim, para quê chorar se só parti para uma outra viagem?

Quando eu morrer, levarei comigo penas e dores,
eu sei,
mas são minhas e comigo nesse dia partirão
pois não as deixarei a ninguém
Sei que partirei com a mágoa de pouco ou nada ter feito
de ter amado mal, não ter dado o que podia,
de não ter partilhado de mim tudo o que devia por direito
de ter recebido em troca a insatisfação do incompleto
Quando eu morrer, quero dormir finalmente
não ter mais sonhos nem pesadelos
não quero sofrer pelo mundo,
nem por vocês que por aí andam
que eu amo tanto, mas não sei porquê,
nunca entenderam como eu sempre lhes quis e quero tanto

Quando eu morrer,
não quero que toquem por mim os sinos da igreja
quero silêncio e paz, malmequeres à minha volta
e a calma da bonança nos corações  dos que ficam.
No vosso coração quedarei para sempre, eu sei!
Essa semente, a da paz, coloquei-a eu em vós
e em vós habitará para sempre.

Inês Maomé




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