quinta-feira, 18 de julho de 2013

Nunca!


Nunca

Mar sem peixes a nadar, sem ondular a bater nas rochas,

sem se espraiar no areal, nunca

Montanhas, terras e vales, nus,

sem verde e água nos rios sem correr a dar vida ao mundo, nunca

Cidades, aldeias e vilas,

pátrias vazias, sem gente viva, a trabalhar, namorar, passear, nunca

Crianças sós, com fome, sem pais, sem família, sem rumo,

perdidas no mundo, nunca

Amor fingido, sem abraço e amasso, sem dar e receber no mesmo compasso, nunca

Mãos sozinhas, sombrias e tristes, nuas, vazias e sem enlaço, nunca

O sabor perdido do primeiro tudo

(beijo, abraço, enleio e partilha de corpos amantes), nunca

Bocas sem beijo, dado, roubado, cobiçado, lânguido e desejado, nunca

Corpos separados, sem amor,

sem o suor do cansaço do sexo amado, dado e recebido, nunca

Olhares vazios, perdidos,

sem anseios de ter, dar, roubar, possuir e oferecer, nunca

Nascentes nos montes, nos vales e colinas, sem água pura e flores a nascer, nunca

Céu sem sol, sem luar, sem estrelas na noite a brilhar,

mundo sem vida a crescer, nunca

Rosas sem aroma, bocas amantes sem paixão, sem delírio no beijar, nunca

Palavras sem som, prosa sem tom, poesia sem amor, nem cor, nem dor, nunca

S. João sem bailarico, sem manjerico, raparigas sem namorico, nunca

Casar para acasalar, parir um filho ao acaso,

só porque é hábito e chique, nunca

Mais guerras de Hiroxima, Hitler(es),muros da Berlim,

Cancro e Sida que destrói e mata, nunca



O meu jardim sem flores, a minha boca calada e seca,

a minha alma sem sonhos, nunca

A minhas páginas brancas, e eu olhá-las vazias e para sempre nuas e ocas, nunca

O meu corpo no outono da vida sem estremecer ao olhar o teu, nunca

O teu corpo forte, que o tempo como o meu envelhece,

sem aceitar o fôlego que parte, nunca


Que o passar do tempo não seja um ponto final,

a ponte que já não se atravessa, nunca

Que eu esteja sempre aqui ou ali,

mas não só e sem ti, nunca

Que os nossos beijos não deixem de ser abraços e as mãos cansadas enlaces, nunca

Que eu e tu não deixemos de ser gente que pensa,


se ama e unidos, sentirá eternamente, nunca.

Inês Maomé


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