quarta-feira, 7 de julho de 2010

A viagem de Maria 3

No dia seguinte Maria confirmou que era tudo verdade, junto á carta do pai tinha dinheiro para comprar o necessário para a viagem, um bilhete de avião com reserva marcada, e indicações para se encontrar com o pai em Paris. A partir daí faria a viagem acompanhada pelo pai e não tinha que ter mais preocupações.

Já tinha idade suficiente para viajar sozinha e seria uma experiência diferente e única chegar a Paris. Uma emoção como nunca vivera outra!

Tinha que apanhar um autocarro até á cidade mais próxima, depois ia de comboio até Lisboa, de táxi até ao aeroporto, e depois era meter-se no avião e descer em Paris . Decerto que seria capaz de fazer essa viagem. Tinha só o nono ano de escolaridade, mas fora sempre bastante desenrascada no armazém resolvendo muitos problemas, e também iria conseguir chegar junto do pai.

Sem telemóvel, nem telefone resolveu não responder por carta, chegaria junto do pai, primeiro que qualquer resposta!

Quando chegou ao armazém bem cedo, comunicou ao patrão que aquele seria o ultimo dia do seu trabalho ali.
Ia embora para Paris!
Claro que não a levaram a sério, pensaram que estava a brincar! Coitada, de tanta solidão estava a ficar tolinha!

E a noticia propagou-se pela aldeia, e pelas aldeias vizinhas e a pessoas já diziam coisas estranhíssimas, e ela simplesmente se tinha limitado a dizer que ia para Paris!

Surgiram muitas hipóteses:
- saiu-lhe o totoloto e não contou a ninguém, e vai para a Europa,
-Vai casar com algum velho rico,
-Vai servir alguma velha chata e resmungona,
-está doida e vai-se perder pelo mundo como o pai…
E muitas outras coisas foram ditas, mas ela guardou a carta, mais o dinheiro, mais o bilhete de avião, confiou no que o pai lhe dizia na carta, comprou o que precisava para a viagem, arrumou muito bem os pertences que queria levar consigo, fechou a casa depois de bem arrumada, e no dia aprazado pôs-se a caminho no autocarro a caminho de Lisboa, e deixou o povo a falar á vontade, cada um o que lhe apetecia!

Não confiava em ninguém. Naquela terra só a tinham visto para trabalhar e dizer mal do pai, os rapazes e homens quiseram brincar com ela sem a levar a sério, se agora ela contasse que o pai estava a trabalhar numa quinta e a chamava para ir ter com ele, não faltaria gente a querer ajudar , mas só por interesse.

Maria, pela vida que levava tinha-se transformado numa pessoa desconfiada e demasiado cautelosa, mas tinha que ser assim. Ela era muito bonita para viver sozinha e ainda bem que lhe aparecia o pai nesta altura, porque muito mais tempo só, e um dia algum mafarrico iria conseguir seduzi-la.

Durante a viagem a alegria de Maria só ela é que sentia!
A mãe morrera-lhe muito cedo, já mal se lembrava dela, da avó tinha uma imagem terna e meiga, mas também já se fora. As amigas da escola, estavam a trabalhar na cidade, namoravam, pouco ou nada conversavam com ela, talvez por despeito da sua beleza, não lhe ligavam importância, nunca chegaram a ser amigas.

Ao olhar para trás, á medida que via a aldeia ficar mais distante e esfumar-se no, ia esquecendo o passado e crescia nela uma vontade enorme de voltar a ver aquele homem de quem guardava o calor do colo e o até logo risonho. Como tinha saudades do pai!

O seu coração enchia-se de alegria quando pensava que não estava mais só e que nunca tinha perdido o pai. Ela e o pai iam viver juntos o resto das suas vidas e isso era maravilhoso. E foi com estes pensamentos que adormeceu e que rapidamente, depois das respectivas mudanças, chegou á estação de Santa Apolónia em Lisboa!

Só faltava ir para o aeroporto que estava ali a dois passos!
E assim fez, de táxi depressa lá chegou, e que mundo aquele !
Não tinha nada a ver com nada do que já vira até então, mas aquilo era a vida que começava para ela !

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