domingo, 4 de julho de 2010

A bola de cristal 2

E a bola de cristal saltou no chão e então quebrou,
em mais de mil pedaços se desfez,
e a mãe agitada, porque a peça era única e cara ( coisa rara),
ralhou com o menino e ele chorou.

Chamou-lhe menino feio, que bem ouvi, e na sua mãozinha pequena
deu uma palmada,
e logo ali chorou com ele, não pelo raio da bola que se desfez,
mas pela cena que fizera, sem solução, que tudo aquilo não valia nada!

Ele só queria a bola, brincar com ela….

Fora incentivado por uns meninos, mais velhos do que ele,
 que da varanda,lhe diziam constantemente,
“atira a bola, vá atira ,atira, e ele atirou…”
E brincar com a “bola” foi o que ele fez, só isso apenas!

 A mãe nervosa e agitada com os miúdos, ralhara mais por eles, que pela bola de cristal ali desfeita,
que a bola de cristal sendo redonda, atirada ao chão, nem saltou, nem rolou, caiu ao chão e mal o tocou ficou desfeita...

A mãe limpou os restos do cristal, que rica prenda, que um dia compraria uma outra igual, ou talvez não, isso que importa.

Pegou no menino deu-lhe mil beijos, mas aquela palmadita e aquela frase, martelaram na sua cabeça eternamente…

Das mil lágrimas choradas pelo menino, ficou-lhe nítido o desenho do  rosto do menino, das lágrimas que chorou, do seu olhar, do soluçar, do acalmar, do retornar á paz e de vez em quando de um desassossego, até que finalmente tudo passou e no colo da sua mãe adormeceu ….

Estávamos no Inverno, era sábado e a mãe arrumava a casa como era hábito.

Deitou o menino na sua camita, e enquanto o menino dormia, chorou de tristeza e dor…,até que ela própria adormeceu!

O seu menino, só queria brincar com os meninos da varanda, (mas ela não tinha outro cristal, e na altura nem pensou que ali começava o mundo, e que não precisava de cristais para nada…).

e sentado onde a mãe o colocara, ele fez o que  eles lhe mandaram,
aquilo era uma bola, mas de vidro e quebrou-se….
ele era pequenino, não sabia e a mãe uma tola inconsciente!
Ser de vidro ou de cristal, dá no mesmo, pouco importa,

atirada ao chão, a bola nem rolou ….,porcaria de cinzeiro!

Ficou-lhe na memória aquele choro, aqueles olhos do menino, aquele soluçar…

Ainda hoje, ela vê o menino, e precisava de ir lá atrás, voltar a pegar-lhe ao colo, limpar da mão aquela palmadita, e dizer-lhe vivamente :

-“não ligues meu amor, a mãe não sabe, é jovem, e tu és lindo, muito lindo, o mais lindo de todos os bebés, ela ama-te muito, e vai amar-te eternamente, e tu até seres homem vais ter milhares de bolas e muitas outras coisas para brincar”

Acontece que volta e meia, vive com esta sombra….
e aqueles pequenos pedaços de cristal tiram-lhe o sono!

Quem dera que naquela altura ninguém fumasse lá em casa….!

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