terça-feira, 27 de julho de 2010

Osaco

O calor intenso desse dia, fê-la subir lá cima!

Ia ver se todas as janelas estavam fechadas e depois com o ar condicionado ligado dar um olhadela nos emails, ou escrever umas linhas, escrever algo no seu blogue, que havia já alguns dias, o não fazia!
A janela do seu quarto estava aberta e o calor entrava sem pedir licença, tomando conta de todo o espaço como se fosse desde sempre assim!
Lembrou rapidamente os dias, em que com temperaturas semelhantes na rua, no seu quarto o frio era muito, o suficiente para ele se manter alerta para estudar, isto porque na altura, como então, o calor era visita constante nos tempos de exames, e para se concentrar ele precisava sentir-se gelado! Dezassete graus era a temperatura que usava colocar no aparelho!
Que distantes iam esses dias…

Fechou a janela e olhando a secretária reparou numa toalha, que já procurara e não tinha encontrado. Por algum motivo ele tinha precisado dela , e tinha-a deixado ali esquecida! Pegou nela e reparou num pequeno saco preto aveludado que estava por debaixo dela, e que não gostaria nada de ter visto ali, mas mesmo nada!
Um forte arrepio percorreu todo o seu corpo. Ela não queria complicar nada , mas aquilo podia querer dizer muita coisa ou talvez não, mas o seu coração de mãe adivinhava que sim, aquilo queria dizer algo menos bom, e o seu pobre coração apertado chorou, e os seus olhos também…

Será que aquela menina ainda estava assim zangada? Mas se isso fosse verdade, tudo era muito mais grave do que alguma vez imaginara. Esse gesto podia significar milhares de coisas, uma vida modificada para sempre…Não, ela não podia ter feito aquilo….

Aquele saco não devia estar ali, ao acaso, não em silêncio, não naquele dia, naquela hora, naquele lugar, sem uma palavra!
Era ainda muito cedo para aquele saco voltar ao seu lugar! E aquele nem sequer era o lugar do saco !
Mas que faria ali o saco escondido debaixo da toalha, se fora levado com tanta vontade e tanto empenho, por ela tempo antes?
Se era para não ser usado, porque não entregá-lo em mão, como seria mais próprio e delicado?
Ou então guarda-lo em casa em sitio discreto e entregá-lo depois como seria correcto, ou ainda colocá-lo em lugar mais recatado de forma quase invisível?
Mas mandá-lo de volta assim sem jeito, e deixá-lo solto, porque não ficou ela com ele em casa, esquecido num canto qualquer, mesmo junto ao lixo e depois da festa o mandava então de volta…?
O saco não se importaria, debaixo da toalha nada teria sido encontrado! Quantos pensamentos, interrogações, tanta complicação evitada!

Mas também, porque só do lado de cá se luta para simplificar e do lado de lá é sempre e cada vez mais imperativo que tudo seja complicado, complexo, rigorosa e estranhamente intransigente…
Com o coração muito apertado resolveu guardar o saco, as lágrimas, encolher a dor, porque o sentiu subir as escadas!
Mas está tudo dentro dela , e tudo junto é muito, demais…, e o seu coração é pequeno para tanto sentimento…

Quando irá tudo isto acabar, ter um ponto final, ou pelo menos um pequeno interregno para poder recuperar…
Há que aprender a sobreviver…

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