quarta-feira, 7 de julho de 2010

A carta de Maria 2

Maria lera a carta que recebera tantas vezes, que sabia de cor e salteado dada palavra cada frase, e o que todas juntas queriam dizer !
O pai, o seu pai estava vivo e não a esquecera!
Primeiro tivera dificuldade em arranjar emprego. Ficara inicialmente por Espanha onde andara  só algum tempo, porque não se entendia com aquela gente, que dizia ele, o trataram como pedinte, pior que escravo!
Fora depois até França, onde percorreu o país até que, a força humana lhe permitiu. Fez de tudo um pouco, mas em lugar nenhum se fixara e as cartas que enviava á filha e á avó, iam narrando mais o que lhe ia na sua imaginação, do que o era a realidade da sua vida dura.

Numa quinta a sul de França, onde mostrou ser bom trabalhador e aplicado, tratava do gado com todo o zelo, das culturas, das vinhas, trabalhando de sol a sol, as pessoas já o estimavam, mas a certa altura caiu doente. Uma febre estranha, na altura pouco conhecida, deixou-o muito mal e abalado durante longo tempo! Esteve muito mal, ninguém pensava que sobreviria . Nessa altura deixou de escrever, perdeu o norte ás coisas! Esteve hospitalizado e depois de restabelecido já tinham passados alguns anos! Na altura em que estava para começar a enviar algo lá para a terra, fica doente e tudo se vai....

Ninguém sabia quem era aquele homem, e na sua memória quando saiu do hospital só tinha a imagem da quinta, e foi para lá que se dirigiu!

Todos o receberam de braços abertos e a patroa uma senhora já de idade, e então viúva, lembrando-se do bom trabalho que tinha feito na sua quinta, mandou que ficasse sim, que muito trabalho haveria para lhe dar, assim ele o pudesse realizar.

Fernando dedicou-se de tal forma ao trabalho, que não via mais nada, os animais procriavam mais, e nunca adoeciam, que ele zelava por eles com todo o cuidado e dedicação. A quinta e as plantações encantavam quem as via, floresciam e estavam prontas para as colheitas no tempo próprio, sempre com grandes proveitos.

A nível de trabalho, com muito sacrifício, Fernando tinha-se fixado e progredido, vinha-lhe ultimamente de vez em quando á memória, o rosto meigo de menina, a sua menina, que deixara na aldeia de onde partira, e o seu coração triste, ficava ainda  mais triste, e chorava de dor.  Q ue seria feito dela, da sua menina ?Esse problema não sabia como, mas tinha que o resolver!

Um dia a patroa mandou chamá-lo, queria falar com ele, estava doente e cansada e andava preocupada com o futuro da quinta!

-“Vejo-te a trabalhar como nunca vi ninguém, não tens horários para nada, és lutador persistente, mas a continuares assim qualquer dia fico sem gerente!

-“Vejo-te sempre triste e só, nunca me falaste da tua família, estiveste doente tanto tempo e ninguém veio ter contigo, nunca te vi com uma mulher , não tens família, não deixaste ninguém na tua terra?

-“É que gosto tanto de ti aqui, e como já estou velhota, doente e sem forças, se tivesses alguém lá na terra que quisesses mandar vir para junto de ti, fazia contigo um grande negócio, oferecia-te o pedaço da quinta que eu sei que gostas mais, que é a que tem os animais(a estrebaria) e o quintal de cultivo que tem a casa junto ao lago, e deixava a vinha e a casa da quinta, para os meus sobrinhos, que só cá vêm para levar algum e dar trabalho. Acho que mereces o que te estou a oferecer e em troca continuas a gerir a quinta, que sem a tua ajuda, em breve, mal feche os olhos, põem tudo em pantanas. Tens sido o meu braço direito e se não fosses tu, agora não tinham nada , a não ser terra seca e pouco mais…”

Ao ouvir tudo isto, Fernando estava estupefacto mas reconhecido, não tendo como rejeitar, gostava do trabalho que fazia, queria continuar ali e o que mais queria, era ter a sua filha junto dele, coisa que nunca fora capaz de sugerir com medo de não ser entendido, e que de outra forma nunca seria possível.

Tudo isto vinha escrito na carta, e tal como o pai, também Maria ficou surpresa mas feliz . Não sabia se havia de rir ou se chorar, sabia sim que a sua vida ia mudar, e com certeza para melhor. Só a ideia de voltar a ver o pai, fez nascer nos olhos dela, um brilho diferente que a fez ainda mais bonita.

Na carta o pai enviava-lhe dinheiro para ela comprar tudo o que era necessário incluindo o bilhete para viajar até junto dele. Um bilhete de avião, outro de comboio de comboio, tudo com dias e horas marcados!

Tudo aquilo era demais para ser verdade. Tinha que ir dormir e acordar para saber que  não estava a sonhar!

Maria vivia um sonho, fechou-o a sete chaves numa caixinha no seu coração!

Sem comentários: