Não se chamava Carochinha, nem Gata Borralheira, mas tinha uma historia muito parecida com as delas.
Muito cedo sem saber porquê, viu-se sozinha a cuidar de si própria, trabalhando num pequeno armazém da aldeia onde se vendia de tudo o que se pode imaginar, ganhando assim o seu magro ordenado.
A mãe falecera era ainda muito pequena e o pai emigrara procurando melhor sorte, que ali onde viviam o que ganhava não dava para garantir o futura da filha. Sonhava para ela algo mais do que tivera, e assim um dia pôs-se a caminho e passados meia dúzia de anos, mais meia dúzia de cartas que lha tinha escrito, nunca mais deu sinais de vida.
Deixara a Maria com a avó, já velha e doente, e que um dia gravemente e uma grave pneumonia fizera partir subitamente, deixando a miúda entregue a si própria e ás cartas do pai, a que Maria se agarrava quando em dias de maior desespero precisava da algum consolo.
Maria nunca perdeu a esperança de um dia o pai voltar, de ele lhe voltar a escrever algo, quem sabe até a aparecer e vir buscá-la.
No seu coração restava a esperança, que algo muito importante ainda lhe havia de acontecer. Aquele homem que ela, muito longinquamente mas com ternura recordava, não podia tê-la abandonado.
Na aldeia ninguém acreditava nela, nesses seus sonhos idiotas, mas ela confortava-se com eles, e a ela pouco lhe interessava a opinião dos outros nesse aspecto.
Fartava-se de trabalhar mas não tinha nada, tudo era pouco para as despesas que tinha com a comida e com a casa.
Era uma casa humilde a sua, que lhe ficara da avó, mas sempre muito limpa e arrumada, que tudo que a avó lhe ensinara ela aprendera e colocava em prática.
Cozinhava, costurava, arrumava e trabalhava no armazém da aldeia, onde tudo se vendia, e onde entravam por dia muitos clientes.
Conhecia tanta gente e sendo tão bonita e tão prendada, nunca tinha tido um namorado, ninguém queria saber dela, talvez por ser pobre, porque beleza ela tinha em abundância. Era realmente muito bonita, mas igualmente pobre. Era simples e modesta não se podia dar a grandes luxos nem vaidades.
Namoro, coisa séria mesmo, nunca teve, para se divertirem talvez apareciam lá a rondar no armazém, mas ela que também não era parva, tinha sempre algo em si que lhe dizia que aquele ali o que queria era tudo, menos o que a ela lhe interessava.
Muito cautelosa, já era conhecida por querer algum especial, pobre e mal agradecida, era o que o povo dizia dela, não viam as pessoas que se ela fosse na léria dos homens que se metiam assim no seu caminho, mal conseguissem o que queriam, se punham logo a andar.
Nunca nenhum lhe tinha pedido para namorar, ou sequer lhe tinha dito que gostava dela, só queriam ir lá a casa encontrar-se com ela, ou em qualquer lado a combinar, e ela esquivava-se sempre a isso. Depois, de raiva eles vingavam-se e contavam a sua versão. Todos a maldiziam e chamavam de má pessoa!
A beleza e o amor dela não chegaram para nenhum deles, e ela foi ficando sozinha na esperança de um dia algo mudar…
-“Não quer ninguém”, diziam as pessoas,” se ela não tem onde cair morta”, que quer ela, algum doutor?
E o povo não entendia que o que ela queria, era simplesmeente um homem que a amasse, que quizesse ser seu companheiro e amigo, e quem sabe um dia, viesse a ser pai dos seus filhos, não um companheiro fortuito, de uma noite, de um momento apenas!
E assim Maria vivia sozinha, do trabalho para casa, de casa para o trabalho.
Mas um dia aconteceu! Uma carta veio mudar o rumo da historia da sua vida!
Aquele nome ela sabia, era do seu pai, Fernando Vicente Simões, como ela, Maria Vicente Simões. Então abriu a carta e de um fôlego só, leu e pôs-se ao corrente de tudo, mas como tudo era muito para perceber bem á primeira, leu tantas vezes quantas as necessárias, para entender muito bem tudo o que estava escrito na carta.
E eram muitas as novidades podem crer! (cont.)
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