segunda-feira, 31 de maio de 2010

Os pais das filhas

 
Todos eles queriam ter razão, estar inteirados de tudo, dar opiniões, saber as verdades, se é que existem verdades!
 Deviam estar loucos, ninguém sabe nada, nem a própria Helena sabia, como foi que a sua vida se transformou, naquilo que passou a ser desde  menina,  desde que se lembra de existir….

Nadavam  todos no vazio da mais pura ignorância, ninguém podia entrar no espírito de Helena e sentir como ela, o que a perturbava todos os dias e noites,todos os segundos da sua existência, desde que se conhecia como gente.

Sempre sério e sisudo, de barba muito bem feita e mãos muito bem lavadas, aquele homem nunca a olhou com carinho, nunca lhe dirigiu um olhar terno ou atento, nunca confiou nela, nunca lhe pegou na mão para lhe ensinar a fazer fosse o que fosse…. Que ela se lembre nunca lhe chamou” de minha filha “, só de Helena, ou "ela" para abreviar …

Tudo seria diferente se um dia, ele lhe tivesse acariciado os cabelos, tivesse brincado ou passeado quem sabe conversado alguma coisa com ela, lhe tivesse dito que também para ela, esperava um futuro risonho, que queria que ela fosse feliz, que acreditava nela, que sabia que ela era capaz, que um dia ela seria alguém na vida como o irmão, bastava querer, que ela era forte e valente e iria conseguir, que confiava nela, que tinha orgulho nela, ….. e tantas outras coisas, milhares delas, todas aquelas coisas que os pais devem dizer ás filhas, que é delas que falamos, e que ele lhe devia ter dito ao longo da vida,  como dizia ao filho, mas não, em vez disso, ficou-se no direito feito ordem, de receber um beijo dela, á chegada a casa por ser pai, e a obrigação de a educar, como os pais o educaram a ele, por Helena ser sua filha.
 Tudo para que mais tarde, ela não o acusasse de ter sido injusto e mau pai,não cumprindo os seus deveres de tutor....
Coitada da Helena que sempre se sentiu filha do medo, do vazio, do nada. A ovelha negra da familia.
Sempre assustada e aflita, era como se nem tivesse espaço para respirar.

Nunca pensou como era ter um pai de outra maneira, e enquanto pequenina sempre imaginou que os pais seriam todos assim, frios, distantes, austeros, altivos, sem carinho para as filhas, e não de outra maneira.

Só muito mais tarde, quando cresceu um pouco e conheceu pais de outras meninas, portanto outras filhas,  ela compreendeu que os pais podiam ser de outras formas diferentes do seu, e então começou a sentir-se mais triste e infeliz e muito mais dificuldade em respirar.

Helena nunca se lembra de ver ou sentir o pai feliz, de o ver sorrir ou dar gargalhadas. Nunca o ouviu a ser feliz, que a felicidade também se ouve…

Isso perturbava-a e deixava-a ainda mais infeliz.

Ainda hoje Helena pensa nisso, porquê tanta angustia ou sabe-se lá que chamar, aquele estado permanente  de angustia de viver em casa... Porque era no convivio familiar que ela via o pai assim, sempre sizudo e muito sério.

Como podiam, áquela hora, tão longe do seu país depois de tantos anos decorridos, sabererem fosse o que fosse acerca da vida dela, se desde cedo Helena  viveu a fazer  de conta e deixou crescer ás escondidas, um sentimento enorme de mal amada. A carapaça que Helena usa ninguém conhece!
 Só conhece Helena a própria Helena…,e  por vezes nem ela se conhece muito bem!

  Essa maneira de ser, influencou negativamente todos o que o rodeavam, alterou-lhes a vida , o pensar, nem ele sabe quanto. A Helena sua filha a quem ele amou  tão mal, que assim mais vale ignorar completamente, influenciou para todo o sempre, a sua maneira de estar na vida, de sentir,de ser, de amar, de pensar...,de tudo!
 Ignorar  o passado é impossível. É muito tarde.
 Só se vive uma vida. E a um novelo pequenino, muitos fios se enrolaram  e hoje o novelo é gigante e pesado, e muitos dias difícil  de suportar.

Mas é urgente continuar, porque a vida se anuncia todos os dias.
 O sol nasce, e todos os dias se deita e há muitos anos que Helena engana a alma dizendo que está tudo bem, e tem superado..., mas os amigos não imaginam nem em sonhos o que Helena esconde por trás daquele corpo e mente de mulher!

 Permanece  nela, um  sentimento de dor profundo, que não tem medida, que de mansinho  lhe corroe por dentro a alma.  Mas algo a empurra a continuar, tal como o Sol que nasce  todos os dias e nem sempre brilha radioso,  mas  não deixa de iluminar o dia....


em brilhar...
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1 comentário:

Anónimo disse...

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