Como posso dizer-te adeus eternamente
Se vives em mim e em ti,
se comigo me completas e em ti te
faço um ser inteiro,
Se o meu sentir e o teu querer é o mesmo e nosso
Se o que sinto por ti e tu por mim,
não é amor, pois isso é
pouco
É carne rasgada,
dor com amor sofrido e doce,
é um prazer
estonteado e louco
É sermos dois num só,
é sentir-me respirar pela tua boca e tu
pela minha
É viveres, caminhares, existirmos eu no teu e tu no meu ser,
mas sempre num mesmo corpo
Como posso dizer-te adeus,
se ao ires eu vou contigo,
se
fores ficas comigo para sempre?
Há muito,
desde antes de nascer o “amor”,
que eu e tu já
éramos um só e juntos
A mesma pele,
o coração coeso a bater sempre e só um mesmo compasso
E a carne o nosso sangue e as veias,
aquilo de que somos
feitos,
era único
Na dor e no prazer cedo percebemos em nós algo singular,
cândido e belo
No sorrir e no chorar,
na alegria e na desgraça,
no dar e
receber
fomos um do outro no mesmo corpo amante,
mal amado eu sei,
mas isso que importa,
somos uma só matéria,
um ser perpétuo, inequívoco,
ligado
para todo o sempre
Viver e caminhar juntos,
foi o nosso lema eterno,
algo que
nos pertence, só nosso.
Eu sou o teu mar,
tu és o rio que me inundaste, em mim
entraste e ficaste para sempre
Tu és a fonte viva,
eu sou a água pura que dela jorra: ontem,
hoje e eternamente
Eu sou a areia,
tu o oceano que em mim se espraia e eu consinto sempre violento ou calmo
Tu és o céu e
eu sou as estrelas, eu sou o Sol tu és a Lua,
tu és o trovão eu sou o raio
Eu sou a tinta tu o pincel,
pela mão do pintor existimos e juntos
damos vida e cor à tela
Tu és o dia eu sou a noite,
tu és a noite e eu o dia e assim
será indefinidamente
Não posso dizer adeus às estrelas
que mesmo sem brilho
existem senhoras do firmamento
Vais partir amor,
mas não vais só e nem eu assim fico: tu e
eu sabemos isso.
Unidos na vida,
aqui ou noutro espaço,
juntos seremos um só,
mesmo para além da morte.
INÊS MAOMÉ
Fotos do Google
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