A cena era escura
a vida exaltada pela música
estava ali, inteira e magnética,
estava ali, inteira e magnética,
estilizada, mas autentica
A nostalgia do espaço, o eco da
música,
os corpos deambulando
arrastaram a minha mente para
tempos remotos
quando um dia me supus assim,
talvez num sonho de verão
distante,
mas só isso,
eu não seria capaz de tanto
eu não seria capaz de tanto
de um todo tão desejado,
impossível para mim que sou carente
O grupo de baile era distinto,
primoroso,
e eu deslumbrada e serena,
olhava-os enlevada
olhava-os enlevada
Bem arranjados,
perfeitos
perfeitos
todos pareciam e eram
diferentes de mim
Os fatos dos homens vincados,
marcados no corpo onde era
preciso,
os chapéus, os sapatos variados,
os coletes numa conjugação única com o
restante
Tornavam-nos charmosos,
delirantes de belos no prazer de sedução constante
Tornavam-nos charmosos,
delirantes de belos no prazer de sedução constante
Os rostos seus marotos, desafiantes, provocadores
davam-lhe a forma, o toque final,
falavam de vida,
falavam de vida,
de amor, de dor e tentação
A musica nostálgica e bela,
o gemer das concertinas, o
chorar dos violinos,
falava aos ouvidos dos atentos,
dos mais amantes,
dos mais amantes,
que o que se passava ali: era
tudo,
era a vida vivida,
sentida e dançada no escuro da noite,
sentida e dançada no escuro da noite,
nos bares das cidades,
lugares ditosos,
onde os corpos
colados numa entrega frenética igual e estonteante,
se arrastam na dança
colados numa entrega frenética igual e estonteante,
se arrastam na dança
e ao som da música choram,
reclamam, padecem e se seduzem mutuamente
colados, cingidos num só,
sem pudores
sem pudores
Dançando falam do amor, da
paixão,
contam-se segredos,
zangam-se e arrastam-se por tanto se querer
zangam-se e arrastam-se por tanto se querer
O vermelho, o preto, o amarelo
e roxo
dos vestidos colados aos corpos
delas
eram demais expressivos
eram demais expressivos
Rasgados, mostrando as coxas torneadas,
bem feitas, ditosas e mais que perfeitas
bem feitas, ditosas e mais que perfeitas
apaixonaram-me, deram-me inveja
As rosas vermelhas, cor do
sangue e do amor
os
lenços brancos de puros, que as mãos deles
faziam roçar pelos corpos
e rostos delas
eram um gesto de puro encantamento
e sedução
Tudo isto me atraiu, deslumbrou,
me fascinou inteira
O arrasto dos corpos pela
cena,
as pernas cruzadas de almas
traçadas,
o êxtase que vi nos rostos colados,
nos olhares trocados
nas bocas tocadas que diziam: quero-te, amo-te
Que sedução, que encanto e adoração
e tudo aquilo: a cor dos vestidos pretos, amarelos, roxos, ou
vermelhos
todos numa perfeita sintonia num encanto de fascinação,
todos numa perfeita sintonia num encanto de fascinação,
as rosas oferecidas, as bocas
roçadas
os sorrisos matreiros
os olhares sacanas trocados
os olhares sacanas trocados
os corpos cingidos, esfregados,
sofridos no arrasto da dança
pela vida
fizeram-me sonhar, querer estar ali
fizeram-me sonhar, querer estar ali
Tudo isto eu amei, eu senti e
desejei
eu quis viver ali, eu invejei
pela cor, pelo fascino
no arrasto da dor, na agilidade de cada movimento
na expressão dos sentidos,
na expressão dos sentidos,
tudo aquilo foi dança,
foi tango,
foi vida pela vida,
foi contar com o corpo,
deambulando com a musica em pura magia,
como se ama e fascina
e encanta um homem e uma mulher
quando se dança com amor,
quando a vida é uma dança
vivendo a vida num tango
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