Tudo muda quando os sonhos se destroem pela ventania do
tempo
O ar que respiramos
deixa de ser nosso
é mais denso e impuro
engole-se e exala-se a custo enquanto é tempo
No nosso coração fica a dor do que não foi feito
e ficará para sempre incompleto
Põe-se em causa a vida,
a existência nula,
fútil e vã que temos hoje
do que era nosso
e se foi por entre os dedos sem o vermos
Os sentidos
que não sentem mais tudo o que cobiçámos sempre
perdem-se,
deixam de ter cor ritmo e alegria
Pensamos na morte como coisa certa,
Já não deve tardar muito,
mas isso que importa
se tudo parece estar já pronto
Tudo muda e o mais associado à nossa penúria de ser gente
é não conseguirmos amar e sentir o amor
como o fazíamos
antigamente
é não poder andar, dançar, correr,
amar rebocando-se no
chão, na lama, na cama
como o fizemos ou sonhámos fazer antes,
sempre e cada vez com mais alento
porque ainda era tempo
e havia a força
e o resto do tudo que
era nosso
Tudo muda com o tempo e a vontade deixa de ser,
anula-se e morre à nascença
e o coração magoado,
ferido de morte,
ausenta-se e sente o tempo que passa
mas fica quieto,
estático, imparcial
e de tanto sentir dor,
aquieta-se, chora e rebenta finalmente
E num desassossego tremendo
a mente tudo pede,
menos sentir que já não é nada ,
não é gente como foi antigamente,
como sonhou ser sempre
Tudo muda com o tempo,
o tempo que voa e nos leva e rouba tudo
e só nos acrescenta
aquilo que quando partirmos de vez
voará alto
para algures além do
espaço
e não será mais nosso
só do infinito
Inês Maomé
Inês Maomé
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