quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Pia morre!


Diego abraçara Camila e não mais a deixara, dizendo-lhe sempre:
-“Tem calma, não sabes o que é, acalma-te, estarei sempre contigo.”
No gabinete o médico-cirurgião explicou:

-Fizemos tudo como tinha que ser feito. Nada foi deixado ao acaso. Tudo estava a correr muito bem. Mas mesmo no final da intervenção, um problema que não estávamos a prever aconteceu e não foi possível reverter a situação por mais que tivéssemos tentado. Todos lamentamos o que aconteceu à sua mãe, mas o que é pouco provável aconteceu e Pia não resistiu a uma paragem cardíaca.

Camila parecia que estava adormecida, não queria acreditar que aquilo que aquele homem lhe dizia era verdade. Ultimamente a sua vida era um pesadelo. Tinha tido uma infância e adolescência maravilhosas, e de repente a vida mostrara-se completamente madrasta para ela. Naquele instante sentiu-se perdida no mundo, pequena, indefesa, sentiu medo, queria fugir, gritar, sair dali, queria que lhe dissessem que tudo aquilo era um sonho medonho, e começou a ver tudo a andar à roda, a girar, girar, de tal forma que quando voltou a si estava deitada numa cama e Diego fazia-lhe carinhos, afagando-lhe o rosto.

-Então é verdade a minha mãe não resistiu à operação?

E chorou, como antes jurara que nunca mais choraria por ninguém. Não tinha explicação a dor que sentia por perder a sua mãe, a mulher que lhe dera a vida. Agora que era mãe, esse sentimento tinha para ela um peso muito maior, e essa dor caiu mais fundo ainda dentro dela.

Camila nunca mais seria a mesma a partir daquele dia. Privara a sua mãe de tanta coisa, e por muito que quisesse evitar naquela hora esse pensamento, sentia-se culpada de muitas horas de sofrimento que lhe tinha causado.

Camila estava sozinha com Carlinhos e Alberto continuava a pensar a melhor forma de lhe pedir perdão, sem imaginar a tortura por que ela passava.

Perdera o pai, o seu apoio, o seu amor e carinho imensos, aquele braço forte sempre presente, que nunca lhe faltou em nenhuma circunstância, quando precisou de fazer algo que precisasse do seu aval, da sua força, do seu bem-querer. Dele só recebeu bons exemplos e uma formação modelo para transmitir aos seus filhos.

Agora perdia a mãe, e com ela desmoronava-se a família que os pais tinham construído com ela, tanto amor e carinho. Sentia saudades daquele colo, do regaço da sua mãe, dos seus afagos, dos seus aconchegos, e no seu coração crescia uma dor sem fim, uma saudade sem limites, uma mágoa infinda de todas as coisas que deixou por lhe dizer.

Restava-lhe pelo menos a certeza de não a ter magoado com as desavenças dos problemas da sua vida.

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