sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O nascimento de MANUEL

Quando o Manuel nasceu, Isabel sentiu-se a mulher mais feliz do mundo. No final do parto Isabel não ficou muito bem, pois antes passou por uma grande angústia, visto que a vida do bebé esteve em risco. O médico prevendo que tinha chegado a hora do bebé nascer, colocou-a a soro o que provocou o enrolar do cordão umbilical à volta pescoço do bebé dentro do ventre de Isabel, de forma que a certa altura se deixou de ouvir. Rapidamente tiveram que ser providenciadas todas as medidas para que o parto fosse provocado e se pudesse salvar uma criança que durante nove meses não causara, nem tivera, quaisquer problemas de maior durante a gestação.
 Estava instalada a confusão na maternidade, Isabel tinha rapidamente que ser submetida a uma cesariana, pois os batimentos cardíacos do bebé já não se ouviam. E o mais grave, é que não encontravam anestesista. Isabel nervosa com tanta gente à sua volta nem sabia como respirar, e nem percebia bem o que se passava mas o seu coração de mãe dizia-lhe que o filho estava em risco. Fez tudo o que lhe disseram, esqueceu as suas ânsias e pediu a ajuda a Deus, que ela soube esteve sempre presente. E tudo teve um bom desfecho. O anestesista apareceu, o Manuel saiu ileso do ventre da mãe e ainda que o seu pescoço durante muito tempo permanecesse vermelho, estava vivo e cheio de saúde. Isabel um dia contou-me, como muitas outras coisas que me revelou ao longo da sua vida, que não esquece os comentários das pessoas que nos corredores da maternidade a viram passar de maca para a sala de operações, dizendo umas para as outras:

-Então é esta, coitada, vamos ver se o bebé se safa.

Decerto todos deviam saber, por escutarem os comentários das enfermeiras, que o Manuel estava em perigo, mas felizmente escapou ileso, e tal como o médico disse e ela bem ouviu, era uma pena perder-se, porque era um rapagão, um bebé forte e rijo, cheio de saúde com o peso certo e tudo em ordem para crescer e dar um belo homem no futuro.

Sempre que as enfermeiras pegavam nele para lhe dar banho ela ia atrás. O seu filho era o mais bonito, o maior e mais perfeito de todos, claro era o seu bebé, e ela a sua mãe. Isabel estava louca para chegar a casa e tratar sozinha daquele menino que ela criara dentro dela durante nove meses e que já amava com todo o amor do mundo. Ninguém nunca seria capaz de cuidar tão bem dele como ela. Depois de dez dias de internamento, saiu vaidosa da maternidade para a sua pequena casa, orgulhosa com o Manuel deitado na sua alcofinha, que o Pedro carregava com mil cuidados. Isabel ainda se movimentava mal, mas cheia de vontade depois de chegar a casa, que nesse dia valorizou como se fosse a melhor de todas as casas, cuidou do seu menino o melhor que soube e pode. Deu-lhe banho, mama, mudou fraldas claro, várias vezes que nesse tempo eram de pano, e deitou-o a dormir, sempre curvada, pois na sua barriga ainda estavam alguns dos pontos da cesariana, e o corte tinha sido grande e estava bastante colóide.

O Manuel mamava e dormia muito bem. Era um bebé tranquilo, que dava vontade de cuidar, ou então era o jeito de Isabel e a sua agilidade para o fazer. Não lhe faltaram as consultas necessárias e os respectivos conselhos médicos para que o filho crescesse sem nada lhe faltar, mas cuidados maternais esses é que nunca lhe faltaram, e nunca foi preciso pedir ajuda a este ou aquele para lhe dar banho ou fazer fosse o que fosse, Isabela assumiu sozinha e integralmente esse trabalho juntando-o ao seu trabalho profissional o que naturalmente muitas vezes se tornou algo penoso e difícil, mas sem ela nunca fazer grande contestação.

Mas com a ajuda de Pedro não foi difícil conciliar ambas as áreas e despojando-se da vida social do convívio de amigos, Isabel, entregava-se a cuidar do filho em primeiro lugar, depois da casa e de Pedro e depois ou em igual plano do trabalho. Isabel era mãe, e isso enchia o seu coração de felicidade, mas como tinha feito uma cesariana, muito baixinho para ela mesmo, para ninguém ouvir, muitas vezes pensava:

-Não sei ainda, como é ter um filho. Tive tanta dor no pós parto por causa da contracção do útero, custou-me tanto a cicatrização dos pontos, mais de vinte, do corte que me fizeram alto a baixo apanhando toda a minha barriga até ao umbigo, passei tanta aflição com medo que o Manuel morresse, e não sei como é exactamente a dor de um parto, por causa de uma teimosia do médico que me colocou a soro porque achou que estava na hora do Manuel nascer, porque a minha barriga estava grande e o obstetra dizia que eu me devia ter enganado no tempo, sabendo eu tão bem que tinha engravidado naquele dia de Março, exactamente naquele dia (…)

E pensava estas coisas com uma vontade enorme de voltar a engravidar e ter outro filho, logo que passasse o prazo que o médico lhe deu sobre a cesariana, porque Isabel queria saber como era ter um filho de parto normal, e havia de se chamar Maria. Sentir nascer um filho, vê-lo nascer e poder estar com ele logo ali, junto dela, na hora em que depois de sair de dentro dela o médico lho colocasse sobre o peito. Com o Manuel, como estava sob o efeito da anestesia, só mais tarde teve oportunidade de o olhar e ver o seu rosto. O maroto, inteligente, chegou muito mais cedo ao quarto do que ela e quando esta regressou, ele já muito bem instalado dormia o seu primeiro sono neste mundo terreno onde minutos antes, cerca de quarenta e cinco, tinha aterrado pronto para enfrentar o bem e o mal, que para isso e muito mais é que e Isabel e Pedro o iriam educar.

Um dos sonhos de Isabel estava concretizado. Isabel era mãe, e poderia cuidar do filho de forma que ele crescesse saudável e robusto, feliz e tranquilo. Iria dar-lhe tudo o que ele precisasse para se sentir uma criança calma e equilibrada, e sobretudo iria amá-lo muito para toda a vida, que o amor de mãe nunca se esgota. Os seus problemas porque os tinha, ia evitar que o filho os percebesse e alterassem ou modificassem o crescimento tranquilo do seu dia-a-dia dentro do possível. Manuel era uma criança e tinha direito a crescer como tal, com todos os direitos que lhe eram assistidos.
E assim foi sempre.


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