sábado, 7 de dezembro de 2013

PURA ESSÊNCIA ...


 
PURA Essência

No dia que nasceu

Raiava pela janela o Sol anunciando o verão

Ouviu-se um choro

Uma criança viera ao mundo

Mais uma para colorir a vida 

Mas num segundo

Bastou um olhar e tudo mudou

A cabeça igual, perfeita, tal como o coração

O resto era diferente, disforme

Não parecendo gente

Nos ombros só tinha um braço com mão

O tronco, torcido, parecia sem jeito

E as pernas apesar de duas,

eram distintas de todas as que se tinham visto

Uma, com coxa que podia ser perna,

a outra com perna e coxa, mas muito encolhida

Ambas, diferentes e com pés meio tortos.

Algo acontecera durante a gestação

E a mãe quando a viu pasmou:

chorou, gritou, rejeitou aquele ser estranho.

- “Mas que filho este, que feio é!

Santo Deus que me traíste

 Pedi-te um filho perfeito e deste-me isto Senhor?

Oh meu Deus, que sorte a nossa!

Que vai ser de ti e de mim, minha filha,

filha nossa, concebida com todo o amor….”

Só depois o pai soube, e calado,

um pouco amorfo

Chorou, mas aceitou a menina.

E a menina bebé depois de ver luz do dia

Chorava, gritando num som aflito

Mas ao escutar a palavra “filha” prendeu-se-lhe o respirar

ficou suspensa,

parece ter entendido tudo

olhou a mulher que era a mãe

e calou  o chorar

Ouvindo os seus gemidos de dor e lamentos

quedou-se por encanto

Foi um instante, um segundo apenas

Primeiro a mãe recusou-se a olhar

Mas ao olhá-la de novo

Viu nos seus olhinhos um brilho raiar

Uma chama reluzente que queria amar

Que lhe pedia: colo, amor, carinho e proteção

E foi aí que a mãe a pediu para si,

que a agarrou forte

A pegou bem contra o seu peito

E ambas, unidas,

choraram enfim juntas até que o choro acabar

Tinha que terminar

Já se conheciam há muito,

sentiram-no no cheiro daquele abraço primeiro

No bater do coração de uma encostada à outra

A menina parecia sorrir

Queria a mãe e ambas naquele abraço se reconheceram

“- A minha menina há de ser uma grande mulher”

Foi o que a mãe, resignada, com amor lhe disse.


E a menina cresceu,

A jornada foi longa, penosa,

mas a meta atingida

Ficou pequena, mas fez-se grande na alma

E a mãe de joelhos postos,

foi sempre,

como hoje ainda,

do tamanho dela,

sem complexos, sem mágoas,

que estas o tempo tratou de curar e sanar.


Como todas as meninas, ela brincou

Foi à escola e aprendeu de tudo

Fez amigos que lhe deram colo e mimo

E a menina cresceu, estudou no liceu

E na universidade colocou cartola

E mesmo torta, diferente por fora

Fez-se doutora como muita gente

Com as pernas trocadas,

um braço uma mão

e um coração maior que o universo

Ela aprendeu mais que tudo

Mais ainda que os outros

Muito mais que eu e tu

Aprendeu a dar-se valor

e a cada coisa que via  e dava atenção

Cresceu, cresceu tanto na alma e no coração

Que ama toda a gente

E hoje se diz ser feliz assim

- “Eu não sou diferente,

sou incompleta à vista,

o que não me atormenta

só apoquenta os outros,

 os que não vêm direito, sabias?

Tenho auto estima do tamanho do mundo,

conheço todos e todos me respeitam,

sou escritora e poeta,

trabalho, dirijo uma biblioteca.

Tenho uns pais que me amam,

uma família que adoro e me quer só bem

Sou tudo o que quero

Grande, pequena, torta, direita

Isso não me importa

Sou uma privilegiada,

sou mulher, viajo pelo mundo

sei fazer tudo e o que não sei, invento.

Porque me hei de preocupar?

Só porque para me sentar preciso de um assento baixo?

Porque uso vestidos curtos?

Mas eu gosto!

Ando, corro, faço girar o mundo

Deus deu-me pés e alma para isso”


E com isto cala todos,

calou-me a mim quando a conheci.

Faz feliz a mãe e o pai,

 que vendo-a feliz

são felizes também.

Sendo pequena, disforme no corpo,

tem um saber que não cabe no mundo.

Obrigada Li por tudo o que me ensinaste.

Contigo aprendi a ver o Sol e a vida de forma  atenta

A saber que muitas vezes há luar

Mas com a pressa até me esqueço de mirar a Lua

De olhar o céu e contar as estrelas uma a uma

Apreciar bem o ondular do mar,

o valor e beleza da sua espuma.

A ver as pessoas uma a uma por dentro

E nunca pela figura que por fora apresentam


É tão bom saber viver, amiga minha.

Minha amiga doce e linda Li.

DE :Inês MAOMÉ 

16/10/2013

 

 

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