Minha filha
Na hora que parto,
olho-te
e num ápice ávida de ti,
vejo-te menina
Cada visão destas é uma pérola
que vai ajudar a passar o tempo
E a sobreviver meses de lonjura sem te ter por perto
e só em pensamento
Vejo-te bebé,
deitada no meu regaço a mamar no meu peito
depressa adormeces saciada,
linda, perfeita a minha princesa
depois vejo-te de trancinhas e peúgas brancas
vestidos com laços,
chapéu de palha fina
Brincas às bonecas,
De sacola aos ombros vais para a escola,
fazes os trabalhos
aplicaste como aprendiz e aluna,
Choras pelo gato que te pulou do
regaço.
Brincas no escorrega,
jogas à macaca
Fazes de senhora de sapatos altos
Aprendes música,
Estudas viola e depois piano
Entras para a tuna,
vestes traje preto,
És uma estudante, aplicada a sério,
e sem eu dar conta
acabas o curso de bengala e cartola
Começas no trabalho,
a ter férias tuas
só em tempo exato
Cresces,
fazes-te mulher,
és uma senhora
Dás-me mil conselhos,
és mais que minha filha,
és uma amiga, a melhor que tenho.
És a minha ventura e reparo agora: já não és menina
-“Uma vida passa tão depressa”
Foi o que vento disse
Segredando doce preso ao meu ouvido
Tu, em cada abraço,
apertado e doce, dás-me sempre alento
e carinho doce, os mimos que preciso
Um tormento meu é sentir-te longe.
Coisas do Alberto que comanda a vida
E o tempo voa e dispersa as gentes
Doí-me muito menos ter-te na lembrança como te vi sempre:
a minha menina, a minha princesa, a minha rainha.
No coração tenho o orgulho de olhar para ti e ver-te diferente:
a filha que gerei, que nasceu de mim
não mais a menina,
hoje uma mulher linda
o ser mais que perfeito em que te transformaste.
Inês Maomé
10/12/2013
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