sábado, 11 de junho de 2011

A Revolução dos Cravos

Um dia o senhor dom Manuel, que também já não era novo com os seus 59 anos, deixou de trabalhar na fábrica a tempo inteiro e deixou-a ser gerida por um administrador eleito, depois de ter acordado com os seus operários, uma série de reivindicações que eles achavam imprescindíveis para o seu bom funcionamento e continuidade de produção. O país tinha mudado e as vidas das pessoas também.




Em França tanto o João, irmão de Helena, que se tornara um empreiteiro com sucesso, como Fernando, o ex-motorista da antiga patroa de Helena, a dona Justina, e seu primeiro namorado, estavam muito bem, tendo ambos, cada um na sua área, após alguns anos de muito trabalho, singrado na vida.


Fernando foi sempre tendo notícias de Helena, sem que esta soubesse de tal, através de Celeste, a quem ele nunca deixara de escrever e encher de perguntas sobre ela em todas as cartas que lhe enviava. O seu casamento com a filha do dono do restaurante, feito meio às pressas mal chegou a França acabara por terminar num divórcio. Eram feitios muito diferentes, resultantes de culturas diferentes, nunca tiveram filhos, e a suposta paixão que sentiram um por outro inicialmente não foi o suficiente para os manter juntos muito tempo. Na verdade nunca conseguiu entender-se com a mulher com quem casou, pois nunca tirou a Helena da sua cabeça nem do seu coração. Muitas vezes, se arrependeu por ter partido sem lhe dar a oportunidade que ela lhe pedira, “confiar nela”. Amor como o que experimentara por aquela mulher, nunca mais sentiu por alguém. Vivia só havia já algum tempo, e sabia que Helena tinha casado e era mãe de mais dois filhos além de Maria Luísa, e isso apesar de o perturbar, deixava-o feliz por saber que Helena seguira com a sua vida em frente.


Agora que se dera a revolução de Abril no seu País e que se vivia em plena liberdade, estava resolvido a voltar e investir em Lisboa na mesma área em que tinha sangrado em França. Montar um restaurante e cozinhar os pratos portugueses que tinha aprendido a fazer tão bem para os franceses. Assim um dia contou a Celeste que sempre considerou uma mãe que ia regressar e montar o seu próprio negócio. Celeste que já não estava muito nova e gostava dele como ninguém mais, recebeu esta notícia com satisfação. Finalmente poderia pensar em deixar de trabalhar naquela casa e ir viver com o seu Fernando, e quem sabe, ainda participar no seu novo projecto de trabalho.


Na casa de Rui Manuel vivia-se uma época mais livre e menos formal. Também aí a Revolução dos Cravos fizera efeito.




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