quinta-feira, 30 de junho de 2011

..O acordar!


Acordei de novo a chorar!
Vejo tantas coisas nos meus sonhos, que tenho medo de tudo o que vejo.
Vi-o sentado, de fato e gravata, bem arranjado,
vestido como naquele dia que foi o ultimo em que o vi.
E sorria, mas não sei o que dizia ou se me pedia algo.
Não sei o que me queria, sentado, vestido daquele jeito,
 sorria bem disposto, e isso afligiu-me.
Mas podem os mortos sorrir?
E se for um chamamento, um pedido, e eu aqui sem o entender,
e o outro sossegado a meu lado?
   
E no outro dia,
um pouco antes deste,
porque sonhos tenho muitos,
sonhei com o outro, aquele que me acompanha todos os dias,
me apoia e aquece a alma,
me é tudo,  e por vezes nada, nada de nada,
porque me angustia, me quer de forma errada,
 me rasga a alma, me faz sentir fome, medo e dor.
Mas me ama também , me dá  a força que tenho,
me ergue do chão e levanta os resto que eu sou.
 Aquele que amo, estimo, e me apoia, 
me ama daquele jeito que é seu,
me estima e quero comigo sempre.

Vi-o sentado, ferido e magoado.
Vi-o sangrando por todo o lado.
Vi-o de braço ao peito, diferente de hoje, com o rosto de outrora.
Mas vi-o com sangue por todo o corpo,
e sentado, como o outro, sorria-me de lado.

Que quer isto dizer?
Quero este vivo, comigo, hoje, sempre, agora...
Quero-o para toda a vida.
Comigo ao lado, bem perto, todos os dias,
como ontem e hoje ao acordar de madrugada.

Meu Deus, não deixes que me abandone, se vá, parta, me deixe.
Se o fizer,
diz-lhe que me leve com ele, 
porque sozinha não sei viver,
sem ele, não sei estar!
Não sei porque sonho tanto e choro ao acordar?
Será que alguém me pode explicar?


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terça-feira, 28 de junho de 2011

A vida dá voltas..

Era a primeira vez que Maria Luísa chegava a casa e não comentava com a mãe alguma coisa sobre o que lhe tinha acontecido em casa do amigo. Não era fácil, nem possível para ela, dizer a Helena, que a mãe do amigo os tinha encontrado fechados numa sala, em pleno beijo amoroso.


Ela não era infiel ao Pedro, nunca fora, nem pretendia ser. Não sabia muito bem como se deixara envolver daquela forma com o Mané, mas ele era tão possuidor e nunca desistia do que queria, tal como ela, e naquele momento deve ter desejado tanto aquele beijo e com tanta intensidade que a levou com ele a esquecerem-se que ambos eram comprometidos.

Gostava dele como amigo, sentia-se bem e muito confortável junto dele, em todas as conversas e convívios que partilhavam. Apreciava a forma como ele falava, concordava com as suas ideias, a sua forma de encarar a vida, mas daí a envolver-se amorosamente com ele, ia uma grande distância. O que acontecera entre ambos fora um simples gesto impensado, com certeza descomedido, exagerado, mas sem consequências e que não voltaria a ocorrer, pois essa não era a sua firme vontade. Além disso, não queria que Pedro sonhasse sequer, com o que tinha acontecido entre ela e o amigo, porque o amava e era com ele que era queria estar numa relação de amor, portanto quanto menos falasse daquilo melhor.

Mas Helena, que conhecia muito bem a filha que tinha notou-a naquele fim de dia um pouco estranha, e como não conseguiu saber nada que ela lhe contasse de extraordinário, confiou que o que se passava era algo relacionada com as aulas e a adaptação ao novo tipo de exames e avaliações na universidade.

Em casa, Helena estava feliz no seu casamento com o José Carlos. Amavam-se, compreendiam-se e tinham uma vida que não sendo absolutamente de luxo nem riqueza, era o suficiente e essencial para se sentirem realizados e felizes, pois nada lhes faltava. Há muito que Helena estava convencida e tinha convencido a família, que a sua vinda para Lisboa na juventude, fora uma grande opção que tomara na vida.

O pior tinha passado e estava esquecido, e com os dois filhos que tivera do seu casamento, completara a sua união perfeita com o Zé e consolidara fortemente o seu amor e o seu casamento. Era uma mulher feliz, também porque no trabalho era estimada e tinha ascendido na carreira profissional. Ali, nada se fazia sem passar por ela, pois ela sabia sempre onde estava tudo e como resolver tudo de que era responsável.

Helena era uma mulher feliz, completa, forte e resoluta e vencera todas as dificuldades que a vida lhe colocara pela frente.

     
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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ontem..., hoje..., amanhã!

   Nunca irei esquecer esta verdade,
   que uma senhora um dia me disse,
    pelo conteudo, porque me disse naquele instante, tudo o que sinto cada dia que vivo.

   "Há momentos, que se fossem horas,
     não conseguiriamos resistir"

  Se eu pudesse pintava tudo de verde,
  porque gosto de campos verdes e cheios de girassóis.
  O mar estaria sempre azul e calmo,
  e na praia a aragem havia de soprar de forma doce no rosto.
 
  ..e todas as coisas que gosto, queria fazê-las sem pressas,
  com muito amor e todo o sabor. 
  
  No Inverno, no ar, sempre o cheiro de castanhas assadas.
  Em casa a lareira acesa,
 sentindo o calor do aconchego e "todos" presentes.
  Na alma a tranquilidade de envelhecer cada dia, sem medo de nada.



  E sempre, sempre,  mas sempre,
 tu ali, ou em qualquer lado, mas sempre  a meu lado.



  Há dias, a maior parte dos dias, eu não queria mais nada.






sexta-feira, 24 de junho de 2011

...A vida corre!

                                        It´s a outlier!


Uma outra qualidade de existência.


assim parece que se faz


há já muito no tempo




a vida corre


no ralo escorre


mais um instituto


tão pouco conhecido




quem lá está é que sabe


de olhos um tanto turvos


como mostrar os andaimes


a força da obra pública


independente e circunscrita




não vou dizer uma terra nova


junto deste translado


espero apenas


inocente


que, nos seus modos de juro em trânsito,


a dita obra


não me caia em cima


quando posta em lugar de funcionamento






 ´                                                 Publicada por starjammers


                                                   De: JOÃO VASCO COELHO

sábado, 18 de junho de 2011

...Eu quero!!

 
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sexta-feira, 17 de junho de 2011

...sem obediência.

 
                                    
                               Cinco sílabas sem obediência.




esse onde 
em que se pretenderia
obra em verso não medido


foi aí que julguei perceber uma intensidade


no então
fresco
jardim de lírios
e umas quantas árvores reais


os porteiros
encostavam as portas
com um cuidado próprio
da renascença


foi quando saíste


não houve ninguém que sorrisse

 De.: João Vasco Coelho



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...Provavelmernte há uma falta

Estavas tu toda topázio


era notório
o entendimento do acerto
do que contigo trazias


um acrescento de fogo
ias dizendo


longe da visão unívoca
da história antiga


fazias a digestão ainda à mesa
procurando um modo de definição
de uma redenção isenta de verduras,


um consolo fugaz, talvez,
prova bastante de simpatia


deles,
os destinos


tantos
eram
os
que ali passavam


a infância primeira me disseste -
é preciso compreender a vida que nos falta,
fazer melhor as perguntas sobre o que nos interessa,
ter uma vaga ideia do que certas coisas implicam.


Sim - disse, compreendia o acerto que enunciavas,
é difícil tolerar as infidelidades do meio,
e esforcei-me, penso, na resposta à missiva,
ao sair por motivos apensos a coisas minhas.




Posso dizê-lo com a justeza que a distância oferece,
longe agora o azul de mil novecentos e noventa e dois,
fazias a digestão ainda à mesa,
compreendi o acerto que enunciavas - faltava-me a vida para melhor elaborar
as perguntas sobre o que mais te interessava,
não tinha ideia do implicado pelo manuseio de algumas vagas coisas minhas.


                                                                 De . João Vasco Coelho

quinta-feira, 16 de junho de 2011

...sem obediência.

   
                                    
                               Cinco sílabas sem obediência.


esse onde 
em que se pretenderia
obra em verso não medido

foi aí que julguei perceber uma intensidade

no então
fresco
jardim de lírios
e umas quantas árvores reais

os porteiros
encostavam as portas
com um cuidado próprio
da renascença

foi quando saíste

não houve ninguém que sorrisse

 De.: João Vasco Coelho



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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Amigos


Ter amigos é como viver a dobrar cada instante,
mas os meus fugiram, não sei onde estão,
se existem ou não.
Amigos a quem tudo se diz, em quem se confia,
que tudo fazem por nós,
que choram, riem, confiam, choram tristes  ou são felizes 
porquem sentem connosco a vida.
Desses que se entregam plenamente, tudo entendem e estão sempre presentes,
 penso que nunca os tive.


Será que existe um amigo assim?
Não sei nem me interessa, mas queria um destes 
 verdadeiro, puro e honesto a tempo inteiro, só para mim.
 

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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dia de Santo António


E hoje que é  dia de SANTO ANTÓNIO, que ele esteja comigo e com quem precisar da sua ajuda, e faça com que a minha prece se realize ;) *

ESTA É A MAIS PURA VERDADE

Que Santo António conserve os meus amigos e me livre dos inimigos!

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A Felicidade

 Se eu conhecesse a felicidade, aquela que todos procuram,
 convidava-a para um chá, sem a querer demorar.


 Queria  conversar com ela, conhecê-la, saber quem é de verdade...
 Foge-me sempre que a vejo, escapa-se-me por entre os dedos sempre que a consigo agarrar.


 Desculpa-se com  falta de tempo e visita-me só de repente ao passar....
 Quando entra, nem sequer se quer sentar,
 e mal me dá os bons dias voa, desparece, talvez para outro lugar.




Mas gosto do cheiro que deixa, da brisa com que me presenteia, e dos sorrisos que me faz dar.


Do prazer que sinto ao vê-la, mesmo que seja ao longe num lançar de olhos, num simples pestanejar.


 Sinto que me faz falta vê-la, de qundo em vez, mesmo que seja mais a sair, que a entrar..


 Sentir o seu abraço quente e forte, e quieta eu, deixar-me  assim ficar.


 Mesmo que o chá esfriasse, por não ter tempo de sobra, para me ouvir, para me escutar...


 Gostava de poder vê-la entrar em mim, sentar-se com calma e ali  ficar, comigo, só  comigo um pouco a   conversar.
.....Tinha tanto que lhe perguntar.


 Mas ela não gosta de chá, e desconfio que nunca pode parar.


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sábado, 11 de junho de 2011

O amor é lindo

           

                                              Cada segundo conta por si,
                                               vamos vivê-los intensamente com AMOR ....,
                                               e ser FELIZES!
                             
       


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A Revolução dos Cravos

Um dia o senhor dom Manuel, que também já não era novo com os seus 59 anos, deixou de trabalhar na fábrica a tempo inteiro e deixou-a ser gerida por um administrador eleito, depois de ter acordado com os seus operários, uma série de reivindicações que eles achavam imprescindíveis para o seu bom funcionamento e continuidade de produção. O país tinha mudado e as vidas das pessoas também.




Em França tanto o João, irmão de Helena, que se tornara um empreiteiro com sucesso, como Fernando, o ex-motorista da antiga patroa de Helena, a dona Justina, e seu primeiro namorado, estavam muito bem, tendo ambos, cada um na sua área, após alguns anos de muito trabalho, singrado na vida.


Fernando foi sempre tendo notícias de Helena, sem que esta soubesse de tal, através de Celeste, a quem ele nunca deixara de escrever e encher de perguntas sobre ela em todas as cartas que lhe enviava. O seu casamento com a filha do dono do restaurante, feito meio às pressas mal chegou a França acabara por terminar num divórcio. Eram feitios muito diferentes, resultantes de culturas diferentes, nunca tiveram filhos, e a suposta paixão que sentiram um por outro inicialmente não foi o suficiente para os manter juntos muito tempo. Na verdade nunca conseguiu entender-se com a mulher com quem casou, pois nunca tirou a Helena da sua cabeça nem do seu coração. Muitas vezes, se arrependeu por ter partido sem lhe dar a oportunidade que ela lhe pedira, “confiar nela”. Amor como o que experimentara por aquela mulher, nunca mais sentiu por alguém. Vivia só havia já algum tempo, e sabia que Helena tinha casado e era mãe de mais dois filhos além de Maria Luísa, e isso apesar de o perturbar, deixava-o feliz por saber que Helena seguira com a sua vida em frente.


Agora que se dera a revolução de Abril no seu País e que se vivia em plena liberdade, estava resolvido a voltar e investir em Lisboa na mesma área em que tinha sangrado em França. Montar um restaurante e cozinhar os pratos portugueses que tinha aprendido a fazer tão bem para os franceses. Assim um dia contou a Celeste que sempre considerou uma mãe que ia regressar e montar o seu próprio negócio. Celeste que já não estava muito nova e gostava dele como ninguém mais, recebeu esta notícia com satisfação. Finalmente poderia pensar em deixar de trabalhar naquela casa e ir viver com o seu Fernando, e quem sabe, ainda participar no seu novo projecto de trabalho.


Na casa de Rui Manuel vivia-se uma época mais livre e menos formal. Também aí a Revolução dos Cravos fizera efeito.




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quinta-feira, 9 de junho de 2011

A reviravolta no país

          Apesar de por duas ou três vezes Helena ter procurado dona Joaquina, esta nunca mais aparentou ser a mesma pessoa. O seu coração cada vez mais frágil, alegrou-se no dia, em que de táxi, Helena a visitou com os dois filhos mais novos, o Luís e a Leninha. A senhora ficou radiante, mas de facto Helena verificou que ela já não era a mesma pessoa. Sentia-se cansada, a tensão arterial sempre alta, reumatismo que lhe causava dores fortes e diminuía a capacidade de se movimentar, e várias outras fraquezas que a tornavam uma pessoa mais envelhecida e muito abatida.
        Rui Manuel estava um jovem lindo, atraente, muito educado e bem formado, e por vontade do pai continuou os seus estudos na Academia Militar. Em 1974, Rui com os seus 18 anos começava os seus estudos superiores na área da aeronáutica.  Maria Luísa, com 12 anos, continuava a ser uma belíssima aluna no liceu, mas nunca mais se tinham encontrado. O país estava a travessar um período crítico, que já se vinha a arrastar há anos atrás, e demasiado importante para não se reflectir na vida das pessoas.
           Manuel, patrão da fábrica que possuía e onde trabalhava desde muito jovem juntamente com o pai, até que este faleceu, passava já há meia dúzia de anos atrás, algumas preocupações com as reivindicações que os trabalhadores constantemente lhe intimavam. Aumentos de ordenados, menos horas de trabalho, ordenado igual para homens e mulheres que faziam o mesmo trabalho ou idêntico, e muitas outras exigências que gradualmente conforme entendia mais justo, dom Manuel ia satisfazendo. 
          Após este ano tudo se alterou. Todas as vidas verificaram alterações e não houve local de trabalho ou ensino, lugar publico ou privado que não tivesse oscilado com os acontecimentos político-sociais, que se verificaram nesse ano.
          As pessoas finalmente tinham liberdade plena de pensamento e expressão, podendo falar nos cafés, na rua, onde lhes apetecesse, conscientes de que dali em diante isso as pudesse colocar em risco de prisão. Acabou o medo de olhar para o lado por alguma palavra eventualmente caída em algum ouvido persecutório. As pessoas pensavam por si, libertaram-se do medo com que viviam quando falavam do que se passava no seu país ou no seu trabalho e condições de vida. Igualdade perante a lei, e tolerância, também apareceram gradualmente para todos, trabalhadores de todos os níveis e de todas as áreas, poetas e escritores que agora podiam livremente expressar o seu pensamento.
        O país abriu-se completamente ao mundo, e a informação de tudo passou a circular através das fronteiras e não só dentro do país. A mulher criou um lugar de direito na sociedade, e Helena que já se sentia muito bem naquele gabinete onde trabalhava, continuou ainda com mais energia e vontade de evoluir naquelas áreas de processos jurídicos onde já se movimentava muito bem, talvez porque os seus patrões fossem pessoas evoluídas e já com ideias avançadas para a época.
         Menos bem ficou o senhor Manuel que muito depressa perdeu o dom. Os trabalhadores, tanto exigiram que a certa altura determinaram que melhor que ele, eles próprios, fariam a gestão daquela fábrica. Tinha surgido um movimento social marcado pela autonomia, e na fábrica formou-se um movimento social que originou uma comissão de trabalhadores assalariados assumindo a direcção de processos de produção de organização de trabalho em regime de auto gestão.
     O poder exercido pelo senhor Manuel na fábrica, foi suspenso, retirando-lhe os trabalhadores o controlo de parte muito importante das actividades económicas. Surgem as greves, que dão continuidade e força à luta crescente dos operários e o senhor Manuel que pensou ter sido sempre um óptimo, senão o melhor de todos os patrões, viu-se de um momento para o outro, despojado de todos os seus poderes ou quase todos, pois concordar com todas as exigências que lhe eram propostas, eram na sua opinião, um exagero.
         Num prazo estipulado, todas as reivindicações exigidas pelos operários tinham que ser satisfeitas, caso contrário os trabalhadores paravam o trabalho, fazendo greve, mas o senhor Manuel entendia que a exigência de uma cantina e uma biblioteca para a fábrica, assim como um sítio para as mulheres trabalhadoras deixarem todo o dia os filhos, eram em demasia. Manuel andava muito abatido, revoltado e não conseguia aceitar as alterações que via diariamente na sua fábrica.
         Com estas alterações e constantes revelações de acontecimentos ocorridos na fábrica em casa, que não ficava nada bem era a dona Joaquina que achava uma injustiça um conjunto de trabalhadores armados em comissão mandatária, dirigir agora a fábrica que o seu marido deixara para os filhos.  Gradualmente a sua saúde foi piorando até que um dia nunca mais saiu da cama. Justina e o filho não sabiam mais o que lhe fazer. Vista pelos médicos, nada havia a fazer. Estava velha, doente e como tal medicada, só havia que esperar que melhorasse. Mas a senhora já tinha 74 anos e a família já não esperava que dali já não houvesse mais melhoras.
        Este último desgosto, roubara-lhe a derradeira réstia de vontade que tinha de viver. E na verdade um dia de manhã sem que nada o fizesse prever quando Celeste lhe foi levar o pequeno-almoço ao quarto e a medicação habitual, a senhora dormia de um sono profundo de que nunca mais acordou, sem saber que mais tarde os problemas na fábrica iriam encontrar solução.
        Um dia o senhor dom Manuel, que também já não era novo, pois já tinha 59 anos, deixou de trabalhar na fábrica a tempo inteiro e deixou-a ser gerida por um administrador eleito, depois de ter acordado com uma série de reivindicações dos seus operários. O país tinha mudado e as vidas das pessoas também.
   

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O tempo passou

O tempo passou e eu fiquei sempre aqui, quieta e insegura com os meus anseios.
Permiti que ele levasse  a matéria e tudo o que com ela se degenera.
Dos sonhos, os mais torpes, desenvencilhei-me, mas enrolei-me nas
fantasias manhosas, impossíveis que me viciavam, mas que eu desejava,
fazendo-me crer que iriam acontecer a qualquer altura, no sonho mais profundo que sempre idealizara.
Preferi ficar com a mente e a alma  no passado..., presos lá atrás, onde ninguém já vê nada.
Em espírito, sentimento, coração, paixão e todos os amores vividos então.
Lá onde os guardei, numa caixinha lacrada,
todas as emoções sagradas da noite e do dia,
todos os risos dos instantes de euforia, de brincadeira, ou de choro rasgado de dor, 
toda a luz de cada manhã que amanhecia e a certeza de amores infindáveis, 
ficaram registados para sempre como se fosse possível voltar a um dia a tê-los na minha mão...

Então escolhi o melhor tempo em cada dia,
aquele registado nos momentos de maior ilusão,
onde vivi meus melhores momentos, sem utopia,
e a realidade era um sonho de não se acordar,
onde eu corria solta e a felicidade vinha
de braços abertos me abraçar.
E o tempo vai passando devagar, e a minha alma não quer fugir dos sonhos e  vir ter comigo agora,
enroscada cada dia nas alegrias de outrora....


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segunda-feira, 6 de junho de 2011

O dia do casamento

E Helena sorriu e beijou a filha com carinho, que vestida quase igualzinha a ela, parecia uma boneca, antes de entrar no carro que as levariam dali para a igreja.

Ninguém viu, mas numa janela da biblioteca espreitando aquela saída do carro, estava Justina, dizendo adeus a alguém que tendo o seu sangue nunca fora dela e partia para sempre da sua casa e da sua vida. Anos antes a sua boca negara toda a verdade, e todos os dias seguintes, tinha-os vivido num tormento, olhando aquela menina da sombra, apreciando a forma como Helena a criava com amor, sentindo uma dor enorme, mas fingindo que não sentia nada, pois há muito que o seu coração escondera por vergonha, humilhação e cobardia o que a sua boca nunca fora capaz de proferir, e aceitara isso como a única realidade possível. Aquela menina era sua e acabava de a perder para sempre, e isso, sem que ela o impedisse, fê-la chorar em vão de muita dor e raiva.

Não queria como em outras ocasiões anteriores, sentir aquilo, mas era mais forte que ela. A partir daquele dia a sua vida teria que mudar, pois quase todos a consideravam já um pouco louca, e até ela se sentia assim um pouco. Sabia, bem no fundo, que não seria capaz de a deixar de vigiar de longe sem que ninguém o percebesse, mas isso era uma coisa que nem mesmo ela admitia, mesmo sabendo que o faria com toda a certeza.

-Estás linda meu amor. Como estás linda.

Foi o que José Carlos lhe disse, quando se colocou no altar da igreja do bairro, ao seu lado. A mãe dele achou que ela estava belíssima, e a família dele presente, decerto também, pois durante o almoço que se seguiu, não se pouparam a elogiar Helena e o noivo, pela noiva que ele escolhera. Maria Luísa, tinha sido aceite há muito sem muitos comentários, pela mãe de José, que afinal era quem ia viver com Helena, e naquele dia a menina para os convidados não foi mais que a menina das alianças.

Ao final da tarde, o motorista levou dona Joaquina, Celeste e Alzira para casa, e os noivos foram para casa de José Carlos, que já tinha sido adaptada para todos conviverem em união. Maria Luísa não cabia de contente com o quartinho que lhe coube. Gostava daquele sítio de onde conseguia ver o rio e os barcos a navegar. Os noivos ficaram no quarto que já era o quarto de solteiro de José Carlos e que Helena conhecendo muito bem, reorganizara para ambos, e a mãe de José tinha o seu quarto habitual. Esta só tivera que prescindir de um velho quarto de costura e arrumações, e que o casal convertera lindamente no quarto da menina.

Triste, partiam Celeste, e mais que ninguém a senhora dona Joaquina, que tinha a certeza que a sua vida iria mudar. Não iria ter mais com quem conversar como antes, apesar de Helena lhe dizer que haviam de continuar a encontrar-se. Dona Joaquina sabia que a sua vida em casa do filho nunca mais seria a mesma sem ter Helena e Maria Luísa.

Alzira só imaginava que na terra ninguém iria acreditar em tudo o que ela vira, se lhes contasse. Não fora as fotografias tiradas, ninguém acreditaria, pois durante todo o dia, tudo esteve perfeito.

Quem lhe dera a ela semelhante sorte, mas quase já desistira de arranjar um namorado, além de que, ainda que ninguém soubesse, o patrão dela, era um presumido autoritário, atrevido e tudo o mais, e se bem que lhe pagasse um bom ordenado, moía-lhe a cabeça, e em tempos idos, perseguia-a, quando ela ainda não se sabia proteger, abusando dela quanto queria, sem que ela pudesse dizer nada à patroa para não se enxovalhada e desacreditada no meio de todos. Por isso nunca saíra daquela casa, mas esse era um segredo que nunca contaria a ninguém. Ir para onde, se não sabia que razão dar à patroa. Depois podia cair noutra casa bem pior.
 Para ela, a filha de Helena era um caso mal contado, e pelo que Celeste lhe contara ficara com as suas dúvidas, mas como diz o ditado, “casou-se, honrou-se”. Que tinha ela com a vida de Helena se a sua, era o que ela sabia. Mas Alzira não era uma lutadora como Helena, conformando-se com a sua sorte, e assim não iria ter a sorte da amiga.


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sábado, 4 de junho de 2011

...O feio da vida!

Não é bonito, não pode ser bonito o que nasce de forma feia e brutal, através de dor e sofrimento.


Podia ser mais disforme ainda, horrendo, feio de meter medo, mas não é o que acontece, pois pensando bem, ele é a vida que resta, longa, que lá fora há muito para ver e sentir,

e viver é urgente.

Quanto mais o olho, mais me encanta, porque me revela que tudo é possível, porque me ensina que tudo vale a pena.

Acho-o sublime, diferente, por certo por ser mais curto, mas sem ter perdido o seu mérito, porque postura não lhe falta, e de resto, tudo voltará a ser como antes, porque mesmo diminuto voltará a funcionar e a ser muito elegante.

É só uma questão de tempo….

Como gosto dele. E alguma mãe, não gosta dos seus meninos? Se isso acontece é porque não é mãe de verdade.

E o filho mais estranho e distante, difícil, mesmo o mais inquieto e complexo, que mais problemas dá, não é o que mais amor lhe merece?

Gosto dele assim, daquele jeito ou de outro qualquer, mesmo que um dia desapareça e exista na sombra do que foi e nunca mais será.


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