quinta-feira, 15 de abril de 2010

O dia do casamento

Isabel acordou cedo, e para sua admiração não estava nervosa.
De um pulo, saltou da cama e deixou a prima a dormir, sem se preocupar com ela. Depressa pôs mãos ao trabalho. No terraço uma quantidade de mesas esperavam  ser preparadas para levar a comida que serviria para receber os convidados.

Isabel preparou as mesas como estava combinado. Fez tudo isso em camisa de dormir. As suas roupas estavam já todas na mala, ou na sua futura casa.

Um telefonema especial encheu-a de alegria. João que estava a especializar-se a milhares de quilómetros da aldeia, queria desejar-lhe felicidades. Ficou comovida. Não conseguia evitar uma certa tristeza pelo facto do irmão estar tão longe dela. Há dois anos atrás, desde que o João tinha casado, que em casa sentia muito mais solidão, mas especialmente naquele dia teria sido bom ele estar ali.
Tomou um duche rápido e meteu-se no quarto, já arrumado, á espera da modista, que lhe traria o vestido de noiva.

Os convidados começaram a chegar, e só então apareceu a senhora com o vestido. Enquanto se vestia foi avisada que o fotógrafo já chegara. Não sabia nada da mãe nem do pai. Naquele momento, só pensava nela. Quando se olhou ao espelho depois de vestida, achou-se tão linda, que até corou.

Um tom azul claro nos olhos, um pouco de rímel e um pouco de blush no rosto, deram-lhe um ar mais bonito ainda. Olhando-se ao espelho pensava que aquilo não era verdade, vivia um sonho.

Isabel estava vestida de noiva, não com o vestido dos seus sonhos, mas estava linda. A sua imagem reflectida no espelho ficou-lhe gravada para sempre. Pela primeira vez não se preocupava com tudo o que os pais, podiam estar a fazer ou dizer.

Nunca mais se tinha preocupado com o facto da avó aparecer ou não. Ela tinha-lhe dado alguma ajuda monetária, e se não fosse ao casamento era porque era essa a sua vontade. A mãe seria a madrinha.

Em casa, tirou fotografias com os pais e sozinha em todas as posições possíveis, e chegada a hora saiu para a igreja pelo braço de António.

Na rua os convidados esperavam a noiva e faziam comentários. Isabel estava muito simples mas graciosa.

Daí a pouco quando chegou á entrada da igreja e viu Pedro, achou que ele estava mais lindo que nunca, ao lado da mãe que vestia de azul. Não recorda mais ninguém. Com o pai a seu lado subiu ao altar, seguida do Pedro pelo braço da mãe. Junto ao altar o chão estava completamente forrado, por um enorme tapete bordado, desenhado com pétalas de flores naturais.

De um momento para o outro reparou que a seu lado estava a avó Olinda e o avô Francisco, que seriam ali os seus padrinhos. Parecia que tudo estava em ordem.

Os olhares que Isabel e Pedro trocavam durante a cerimónia eram de muito carinho. O tempo voou e depois da missa, livros assinados e uma quantidade de fotos tiradas, começou o percurso a pé, até ao salão onde seria servido o almoço. Pelo caminho as mãos de Isabel e Pedro unidas diziam que estavam felizes, enquanto pessoas que os viam passar lhes atiravam flores desejando felicidades.

Sentados á mesa, noivos e convidados, comungavam de um mesmo sentimento, a felicidade daquele casal.

Isabel estranhava a ausência da mãe que só vira na igreja. De vez em quando, referia isso ao Pedro que a acalmava dizendo que devia estar ocupada. Chegado o fim do almoço quase ao final do dia, ficou combinado com o tio de Isabel, irmão de Nélito e Graça, em casa de quem a avó Teresa tinha vivido quando da construção da casa nova, que seria ele a levá-los á Falésia, para onde iam passar alguns dias antes de se mudarem para a sua nova casa, no local de trabalho de Isabel.
Chegados a casa para mudar de roupa, Isabel continuava preocupada com a ausência dos pais, mas sobretudo da mãe.
Pedro ajudou-a a desabotoar uma imensidão de botões que Isabel tinha nas costas do vestido, e sem gestos de afecto ou quaisquer actos de carinho, despiram ambos o traje de noivos e vestiram as roupas para saírem dali. Muito bem comportados como se estivessem a ser vigiados nada mais fizeram além de trocar de roupa. Sem comentar nada Isabel sentiu essa falta, mas estava preocupada demais com a ausência da mãe, e não disse nada.
Estava habituada demais a aceitar tudo, calada. Daí  em diante esperava dialogar todos os assuntos com Pedro.
Na rua o tio já esperava com o  carro e a Graça não dava sinal de si.
De repente apareceu António, que se vinha despedir de ambos e justificou a ausência da Graça pelo excesso de trabalho no salão para o jantar.
Isabel não queria acreditar, como era possível que a sua mãe não estivesse ali…

Só vira a mãe na igreja e naquele momento em que se despedia daquela casa que tinha sido a sua casa, daquela rua, daquela que não seria mais a sua aldeia, a mãe não estava ali para lhe dar beijos e abraços e desejar todo o bem do mundo.

Isabel estava muito triste com isso.

Entrou dentro do carro, e pela primeira vez pressentiu na voz do pai, quando ele se despediu dela, algo que lhe disse que ele estava triste por a ver partir, ou então era o que ela gostava que ele estivesse a sentir . Enquanto viu o pai e a sua casa ao longe, não deixou de olhar para trás…sempre.
 Os olhos iam cheios de lágrimas e no coração uma dor que nunca mais teria fim...

A sua mãe, onde estaria a sua mãe?

Porque não tinha ela pelo menos vindo dar-lhe um beijo?

A partir dali tudo seria novo e desconhecido para Isabel, mas ela esperava, com o  apoio do Pedro, conseguir construir um lar calmo e feliz, muito diferente daquele em que foi criada.

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