quinta-feira, 26 de julho de 2012

Entardecer ...!



Foi-se o sol e a chuva não pára de cair.

Metida no meu canto, sinto frio e a dor intensa de não ter como sonhei e não saber o que fazer há muito tempo.

Penso até, que já não sei amar, que já não sei fazer mais nada.

Queria dormir eternamente e não ter que sentir o afastamento dos que amo, de tudo o que tive e já não tenho, do que julgava meu e me fugiu.

Pergunto a mim mesma se um dia alguém me amou, se alguém me desejou perdidamente?

Será que alguém me quer ainda desse ou de outro jeito?

Não sinto esse amor, não sinto que alguém me queira ainda. Sei mesmo que nunca ninguém me quis dessa maneira, da forma como sonhei um dia ser querida.

O vazio que me habita corrói-me até à mente, e eu morro aos poucos, devagar, mas não me importo.

Este meu ser, este meu pensar constante põe-me louca, despejada de tudo que mais quero, mais que vazia despe-me de todas as vontades e desejos. E devagarinho eu deixo que esse pensar louco me habite.

Não tenho mais nada, não quero mais nada. Deixem-me agora, já que se foram. Só quero ficar aqui quieta, surda, muda de cansaço e não me digam nada. Quero pensar, deixem-me pensar que estou perdida.

Habita-me o silêncio das longas noites escuras mal dormidas, mas esse quero-o comigo, porque me entende e me conforta.

Deixem-me agora ficar assim, parada e queda, emudecida, que assim parece que sou gente inteligente. Deixem-me e não me digam nada.

Que falta me faz a ausência do amor ardente que não tive que nunca senti febril e nem vou sentir. O amor, se é amor o que ainda sinto, é pouco, é muito pouco.

Que falta me faz sentir vibrar de emoção por sentir o teu corpo junto ao meu, repleto de paixão.

O teu corpo afoga-se no meu, mas eu já não o vejo, não o sinto, pois por me doer, me ferir de dor continuamente, prefiro fugir dele. Há muito que perdi o desejo que tinha de te querer daquele jeito.

Desisti de te querer como outrora, de te sentir como ansiava, para me poupar à dor e não sofrer.

Perdeu-se em vielas estreitas, ruas escuras da vida o meu prazer e nunca mais o encontrei em parte alguma.

Estou sedenta, mas não tenho água que mate a minha sede. A fonte de água pura há muito que secou e já não recordo ter bebido dela.

Para quê beber agora água inquinada se esta me faz mal, se me dá mais sede ainda? Prefiro morrer desta ansiedade.

Sim, prefiro morrer de sede que inundar o meu espirito no pesar que me causa a água que me dás, que me destrói de mansinho, me seca mais o corpo sedento e a alma mal-amada.

Faz-me falta demais o teu amor quentinho, o teu carinho, o fervor do teu corpo em silêncio colado ao meu devagarinho, mas que hei-de fazer se me fugiu?

Sinto falta dos meus sonhos de menina, os sonhos que abalaram, os que não vivi contigo porque ambos nos perdemos, eu e tu noutros embaraços desmedidos.

Não sei viver assim. Dói-me muito tudo e todos terem partido. Parecia-me tão cedo ainda.

Permaneço no meu canto, cansada deste pensar penado.

Sem ver, sem sentir, sem cobiçar já o amor que idealizei um dia, tardo neste meu estado apático pois pressinto que assim tudo será mais fácil neste meu entardecer.

Inês MAOMÉ

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