sábado, 18 de maio de 2013

O SEU MENINO



E o apito do comboio
trouxe à minha mente aquele dia,
o cinzento do céu, os gritos de dor
o falar do povo incrédulo

Entre os ferros paralelos jazia morto
tão jovem, ainda escusou-se à vida
que lamento, que estranha sina
que tortura e mágoa tamanha
para aquela que o trouxe no ventre
que o pariu, lhe deu amor e do melhor que tinha
Tudo menos o fio sublime 
que o devia segurar à vida

E a dor no seu peito avolumou-se
Transformou-se em nada e em tudo 
e da dor e do lamento perdeu a vontade,
e o ser viva, existir e ser gente
rasgou-a inteira. ´
Estava perdida.

Um dia quando se olhou por dentro
reparou que dela não restava nem um pingo
Via-o a ele de novo em si.
Queria-o de novo. 
Precisava senti-lo no seu colo, 
dar-lhe mimos

Viver assim, não era vida
era uma dor negra e permanente
um sacrilégio, 
um estar por estar algures sem lá estar
Um desgastar de dias 
pensando só no que seria feito dele
Do seu menino que tão novo se cansara desta vida

Saudades, tristeza magoada, 
algo que não se explica
fazia-a pensar e ver só aquelas linhas negras de ferro paralelas
contínuas, duras e frias, 
de onde ele se fora um dia
e quem sabe a levariam até ele

E pensando nisso 
foi lá que um dia se deitou
e num repente, 
se sentiu a morte ninguém sabe
mas do seu coração o grito que saiu foi de esperança
um ai profundo, 
um grito de força e coragem
o querer voltar para ele e partir da vida para outra vida

A felicidade de estar com ele de novo, tinha-a como certa
tal como a certeza de lhe dar de novo colo e carinho
de voltar para junto do que fora sempre o seu menino

Diz, quem a viu que no rosto levava um sorriso lindo

INÊS MAOMÉ


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