segunda-feira, 13 de maio de 2013

JÁ NÃO É O TEMPO



Espero há tanto o beijo que não tenho e o resto
O abraço que não vem, 
que parece viajou para o espaço
As noites de amor que se esfumaram 
hoje que durmo num silêncio profundo e cansado

Ando drogada por tudo, 
saudosa do mundo que vive fora de mim
Sinto a ausência do mar, do seu frio salgado
que há tanto não vejo, 
não sinto molhar-me os lábios
tocar-me a pele, 
abraçar-me num repente
e num arrepio dizer-me que estou viva,
que não morri e ainda é tempo de tudo, 
quem sabe de ti e de mim

Estou presa a muito pouco
Seguro-me a algo que não vejo
que só indelevelmente pressinto
que é muito pouco e não me sacia os sentidos
Mas lerda, amorfa e queda, deixo-me ficar assim
como se o mundo tivesse parado em mim
e nada mais me reste agora,
que o respirar, o ser  e estar por estar e ser
o existir na mágoa do que não sinto 

Tenho os sentidos adormecidos
Sei que é tarde, 
e resto-me encostada ao que fui
Vendo as ervas e o resto do mundo crescer, 
olho para dentro de mim
enquanto mirro e seco
e perco a cor e o brilho, a vontade e a força de ser gente
E devagar tudo desaparece,
perco tudo, até o vento que me afagava  o rosto
coisas banais que afinal só sonhei e pouco tive
pois não me seriam devidas,
mas que eu queria tanto e  agora  tão profundamente
que me dói e fere pensar que nunca serão mais minhas
mas já não é o tempo...


Inês Maomé



Fotos do Google

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