quarta-feira, 18 de maio de 2011

O início da verdade

E sem dizer mais nada, correu para cima para junto da filha que estava com certeza com dona Joaquina, já que Celeste estava na cozinha.


-Então Helena, vens alegre e pareces diferente, tudo te deve ter corrido bem. E a senhora gostou de ti e tu dela?
-Gostei muito da mãe do Zé, e ela, penso que também gostou de mim. E sabe que mais, o Zé, o meu José Carlos quer casar comigo. Por isso estou tão contente e radiante.
-Que bom. Fico muito satisfeita por ti, pois mereces ser feliz.
-Pediu-me em casamento junto da mãe e olhe o que me deu.
-Um anel de noivado, esse rapaz não está a brincar contigo. Eu não te disse? E a menina já lhe tinhas dito?

-Não, pois não pensava que quisesse tudo tão depressa assim e andava com medo de lhe dizer, mas agora já lhe disse e ele aceitou, porque me quer muito bem. A minha Luzinha vai ter um pai.

-Helena, nem imaginas o quanto desejo que sejas feliz. Olha, sabes, vou dar-te umas boas amêndoas de casamento, mesmo sem me teres ainda convidado.
-Obrigada minha senhora. De facto ele quer casar bem depressa, e com certeza ainda este ano, no final das aulas. Depois lhe direi.
-Estás contente e feliz, como nunca te vi. Se precisares de alguma ajuda minha, podes falar comigo.

Helena acabava o seu curso nocturno nesse ano e fizera também já um curso de dactilografia, portanto estava quase em condições de arranjar outro trabalho. A Maria Luísa como já estava numa ama durante o dia, não era problema. Helena só não queria sair dali sem ter um outro emprego, e esse assunto tinha que o conversar com o futuro marido. Ao sair daquela casa, só levaria saudades de dona Joaquina que a estimara sempre, fazendo-a sentir gente boa.

Estava farta de partilhar aquela casa com a sombra de uma pessoa que há muito deixara de conversar com ela e de merecer a sua confiança, que a traíra por cobardia, uma mentirosa sem coragem, que ela não estimava mais, apesar de em tempos lhe ter confiado a sua vida e terem partilhado ambas momentos muito dolorosos. Sair daquela casa onde trabalhara arduamente durante meia dúzia de anos e onde toda a sua existência tinha sido revirada. Seria recomeçar a vida sonhada, que lhe faltava viver em paz, tranquilidade e muito amor.

Estávamos no final do ano de 1968. Helena não voltara à aldeia, mas depois de casada havia de voltar a visitar a sua família, como o Zé já tinha referido. Muita coisa nova a esperava depois do casamento. Maria Luísa estava crescida, e com a ajuda do marido, a partir daí, seria mais fácil cuidar dela, educá-la como desejava, e não haveria de precisar da ajuda de ninguém daquela casa. Em relação a Henrique, pai de Maria Luísa, havia de falar ao José Carlos para saber o que devia fazer, que agora ele iria partilhar a sua vida em todas as decisões que ela tomasse, e ela queria contar-lhe toda a verdade relacionada com a menina que era sua filha.



Ansiava falar toda a verdade sobre essa menina que amava como sua, para tirar de cima dela um peso que a sufocava havia muito tempo, pois estava cansada de tanta mentira e fingimento. Falar com rigor far-lhe-ia muito bem, e José Carlos iria saber toda a verdade.


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