sábado, 7 de maio de 2011

Os presentes de Helena

Helena não sabia como entender aquela aceitação tão fácil do pai em relação a Maria Luísa, mas a menina já fazia parte da sua família, e aquele problema ela já resolvera.


-Meninos, Carlos e Vicente, Não querem o que vos trouxe. Uma camisola quentinha para vos aquecer nos dias mais frios, e um carro para vocês brincarem.
-Tão lindo Helena, nunca vi um carro destes, disse logo o Carlos.
-Calma que trouxe um carrito para cada um de vocês, e ainda quero ver quem estima mais o seu. Olhem, trouxe-vos ainda cadernos e lápis que comprei lá na Capital, para vocês não escreverem só na lousa, e aprenderem a escrever melhor em papel.

-Vicente olha, tantos cadernos e lápis. Que bom. Obrigado Helena.
-Para ti Sara, trouxe-te esta saia e esta blusa, que comprei já feitas, que por lá, há lojas que vendem alguma roupas já prontas para vestir e muito bonitas. Penso que te servem senão a mãe tem que lhes dar um jeito. Um pente bonito para te penteares e esta caixa de sabonetes perfumados, que podes guardar entre as tuas roupas enquanto não os gastas.

-É tudo tão lindo, Helena, e os sabonetes que bem que cheiram. Vou guardá-los sempre para darem cheirinho à minha roupa.

-Também te trouxe um livro para leres. Um livro que a minha patroa me deu e eu já li, “A morgadinha dos canaviais”, e sei que vais gostar de ler. Noutra altura quando o tiveres lido, falaremos da história que conta. Faz-te bem ler, para praticares e depois de o leres, guardá-lo bem guardado que os livros são preciosos, e podes emprestá-lo aos nossos irmãos.

-Claro que o vou ler, pois fiz a quarta classe e sei ler e escrever muito bem. A mim a mãe, obrigou-me sempre a ir à escola para eu não pensar em fugir daqui e ir estudar noutro lugar- e Sara disse isto a rir.
-Para ti Clara, trouxe-te esta boneca e este livro de histórias, que depois será também para os nosso irmão lerem. E trouxe também estes cortes de tecido para a mãe fazer, ou mandar fazer a alguém, um vestido, saias e blusas, que vos quero bem arranjadas.

-Para a minha mãe trouxe este corte de tecido para uma saia, e este saco com roupa bonita e muito pouco usada, que a senhora dona Justina me deu e eu sabia que a mãe ia vestir, blusas, saias e este xaile quentinho.

-É tudo tão bonito. Obrigada minha filha, que vou parecer uma senhora.
-Para o pai comprei uma camisa quentinha para o frio, e é o que recebe menos, pois não sabia o que comprar. Desculpe meu pai.
-Gastaste uma fortuna rapariga, valia mais teres guardado contigo esse dinheiro que gastaste, para cuidar da menina. Mas está bem, estamos no Natal e os teus irmãos como tu, antes de saíres daqui pouco ou nada recebiam, que o dinheiro não abundava, ainda que agora, tu e o João nos ajudem com o que nos enviam.

-Estamos no Natal meu pai, e ganharei ainda para lhes mandar algum para os ajudar, e também vai chegar para cuidar da menina. E o João, não vos vai também mandando alguma coisa de França?

-Vai, de vez em quando vai mandando alguma coisa, sim senhor, mas o que tenho é muitas saudades dele- disse a mãe pesarosa.
-Um dia, ainda vos aparece aí sem vocês contarem. O país está em mudança, e um dia ele volta.
-Não sei minha filha, não sei, pois da última vez que escreveu disse-nos que ia casar. Ora casando lá com uma estrangeira, fica por lá para sempre.

-Não pense nisso agora, minha mãe, então não há-de voltar para mostrar a mulher à família. Agora vamos ver melhor os presentes para saber se todos estão contentes.
-Tens razão filha, pois o que trouxeste é tudo tão bonito.

-A senhora dona Justina deu-me as roupas que lhe trouxe, e o resto, fui comprando aos poucos, para não gastar o dinheiro todo de uma vez. Mas sabe, gostava de falar com vocês sobre o baptizado da menina. Gostaria de a baptizar aqui, talvez em Quintela. A Sara seria a madrinha e o pai o padrinho. O que é que a mãe pensa disto?

-Acho tão lindo. Queres mesmo fazer isso? Pode ser no Natal?
-No dia de Natal, toda a gente iria dar fé da nossa vida, e isso, eu não gostava. Mas podia ser logo a seguir, assim que o senhor prior puder e tiver tempo livre para o fazer, o que importa é que seja antes que eu me vá embora.

-Eu, madrinha da Maria Luísa? – Respondeu a Sara, muito feliz.
-O pai vai combinar o dia e a hora com o senhor padre e havemos de festejar com um almoço melhorado- disse a mãe também satisfeita.

 
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