quinta-feira, 15 de março de 2012

Os SINOS TOCARAM

Hoje bem cedo os sinos tocaram.
Não gosto daquele toque, aquele som tem o cheiro de morte e arrepia-me.

Não sei quem morreu, mas alguém não está mais entre nós e permanece inerte naquela caixa  enfeitada de rendas, repleta de flores, com gente que a envolve, triste ou não, porque estar ali é mais uma função, uma obrigação da sociedade que nada mais.


A família sofre, mas sofrerá de facto? Sim, acredito que muitas vezes sofre.
A perda de um filho, de um jovem ou de uma criança.  A perda do marido, a paixão de uma vida, a perda de um amigo, o confidente de sempre, a perda dos que morrem nas guerras que alguém inventa, tantas perdas... Estas e outras perdas semelhantes dão dor e padecimento aos que ficam, fazem dilacerar os seus corações deixando sulcos feridas, marcas que nunca desaparecem.
Mas quem parte leva saudades, sei que leva!
A não ser que tenha tido tempo e capacidade, de neste mundo se despedir de tudo e todos, aceitando com toda a crença e de coração aberto a hora da sua partida deste mundo de emoções, cheiros, desejos e convicções, guerras amargas, sorrisos ardentes, amores e desamores, de tantas fraquezas e de outras coisas infindáveis, boas ou não, que nos prendem e nos fazem desejar ficar mais um bocadinho sobre a terra.
Quem parte leva sempre saudades, mas quem fica também as tem. Que parva que é a morte, ou não?
De manhã ouvi o toque do sino a falar-me de morte, e não gostei, nunca gosto.

Nem gosto de falar nela, porque me soa mal. É uma palavra fria, distante, errada, mas ao mesmo tempo certa,  porque existe em cada canto à nossa espera, escondida, matreira e por isso não gosto dela.

Quando eu morrer, queria estar cega e surda e muda e louca e não me lembrar de nada.
Queria, sei lá o que queria se agora que posso querer, não posso querer nada.

Mas se pudesse queria adormecer, sonhar que a vida é linda e bela, que no mundo não há guerras, queria sonhar que tenho muitos amigos, brincar de roda com eles como se fosse criança, sorrir, chorar de contente, rir às gargalhadas e com eles, depois de muito brincar sossri e pular, cansada queria adormecer profundamente e mais nada.
Ficar-me com esse sonho lindom pronta para recomeçar noutro mundo.

Pois quando eu morrer que me importarão as rendas, as flores as pessoas à volta da caixa onde gelada hei-de estar deitada.
NÃO VEJO, NÃO SINTO MAIS NADA.
Já não sou gente, e aqueles que me rodeiam não são meus amigos, não me são nada.
Sei que  não o são, porque que se são, onde estão eles agora?

AMIGOS, onde estão eles? NÃO os tenho, nunca os tive. Vivo só, e tenho medo, muito medo.
De quê? Não sei! De tudo..talvez do nada! 

Os sinos tocaram hoje a anunciar a morte e eu não gostei, nunca vou gostar.

Mas sei, que um dia quando tocarem por mim não os ouvirei e por hoje isso me basta!

Fotos Do Google

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