sexta-feira, 23 de março de 2012

O namoro de Marta

Miguel e Joana namoravam já há muito tempo, tendo em conta que desde miúdos se conheciam e que desde que deixaram o conservatório consolidaram o seu namoro e nunca mais se separaram. Ambos sonhavam, como todos os namorados, mil coisas diferentes para o seu futuro, que havia de começar no dia em que monetariamente Miguel que era o mais velho e adiantado nos estudos, terminasse o seu curso e começasse a trabalhar, visto que ambos desejavam ser independentes.
Joana tinha a promessa da mãe que um dia o andar onde viviam seria para ela, e depois da morte do avô tinha isso como certo pois a mãe prometera-lhe que o libertaria quando ela precisasse e depois de lhe fazer alguns melhoramentos o colocaria no seu nome. Tendo em conta que no seu nome Joana tinha no banco intacto o valor que herdara da seguradora pela morte do pai e na qual já podia mexer, quando casasse com o Miguel haveriam de ter um bom começo de vida.
Mas nem tudo é como parece e como gostaríamos que fosse.
Depois de se esquivar à mãe de todas as conversas possíveis sobre o seu namoro, para evitar o que ele considerava fatal, que seria uma grande discussão com a mãe, um dia o inevitável aconteceu. Sílvia encontrou o filho numa explanada de um café, numa hora a que de facto não costumava passar por ali, pois era o horário do seu trabalho no colégio, mas que naquele dia por qualquer circunstância aconteceu colidir com a hora a que ambos estavam a lanchar. A sua conversa íntima deixava-os tão embebidos um com o outro que não viram a Sílvia nem ninguém que passava ou os rodeava. De facto Joana e Miguel amavam-se muito mas não imaginavam o que os esperava.

Marta já há algum tempo sabia que a filha namorava mas ainda não conhecia o jovem. Joana mantinha em segredo tal como Miguel o que ambos tinham combinado. Mas Marta via a filha feliz e não se apoquentava nem criava atritos com essas questões. Era a sua vida e sabia que quando chegasse a hora a filha lhe havia de contar e apresentar o namorado, e isso por enquanto bastava-lhe.
O mesmo não acontecia com Sílvia, que vivia atormentada com os homens que eram a sua vida. Filipe há muito que não era o mesmo. Esperava dizer-lhe definitivamente que iria sair de casa.

Mas ia deixando correr o tempo vivendo com Sílvia debaixo do mesmo tecto mas não partilhando com ela a intimidade que era devida a um casal em união perfeita.
A paixão e o fogo que sentia por ela quando se amavam, tinha terminado e Sílvia contribuíra para esse final. Saturara-se de tanta coisa que ouviu dela, de tanta acusação infundada baseada nos ciúmes, e ia deixando passar o tempo um pouco por comodismo, primeiro para não lhe dizer abertamente que queria o divórcio e depois por pena dela, o que para ele também era um castigo, mas fazia-o para acompanhar o filho até final do seu curso.
Depois esperava que também ela se saturasse do relativo abandono a que fora posta e lhe pedisse para sair da sua vida, o que não era provável. Filipe ultimamente preocupava-se muito mais com o trabalho do que com o que Sílvia dizia, pensava ou fazia e era assim que viviam até àquele dia em que Sílvia viu o filho com a jovem que bem conhecia.

- Então Miguel, tudo bem meu filho? Hoje vi-te.
- Então porque não foste ter comigo, não te vi.
- Estavas de namorico com aquela miúda que sempre te disse que não gostava para ti. Foi a mãe dela que estragou a minha relação com o teu pai.

- Mãe calma. Estás a confundir tudo. Nem a Joana tem culpa do que te acontece com o pai, nem a mãe dela teve nada a ver com isso. Não vês que foste tu com esse teu feitio que lentamente destruíste a tua relação com o meu pai, que apesar de tudo permanece aqui, está junto de ti, quem sabe por piedade?

- Marta, a mãe dessa rapariga, afastou o teu pai de mim. Isso é o que sei com toda a certeza. Sabes que ela é viúva, jovem bonita e que o enfeitiçou. Essa filha dela não deve valer grande coisa.
- Vês o que dizes, reparaste bem no que acabaste de afirmar? Como podes avaliar uma pessoa só porque é jovem, viúva e amiga ou conhecida do meu pai? Pensa mãe, pensa, pois estás completamente errada.
- Mato-me se continuares com essa rapariga cuja mãe afastou o teu pai de mim, ouviste o que disse?
- Só podes estar louca. Não podes chantagear-me dessa forma, tens esse direito. Estás a interferir numa parte da minha vida que é só minha. Esqueces-te que sou teu filho, e que devias querer ver-me feliz?
- Serás mais feliz com outra rapariga, tua colega. Digo-te que me mato, e faço-o, pois não suporto perder os homens da minha vida para essas mulherzinhas.
- Não sei que te diga, deixas-me aterrado e confuso. Estás completamente alterada. Sei apenas que meteste loucuras na tua cabeça, infernizastes a vida do meu pai a ponto de ele se querer libertar de ti para ter um pouco de paz e agora fazes isto comigo. Julgas que não sei o que se passa entre vós apesar de tu o tentares disfarçar? Porque julgas que nunca te falei do meu namoro? Porque sabia que irias reagir mal, mas nunca desta maneira. Mãe, tens que ir ao médico.
- Tens-me andado a enganar este tempo todo mantendo essa relação, e não queres que esteja neste estado?

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