terça-feira, 20 de setembro de 2011

MÃE CORAÇÃO

Helena arranjou-se o melhor que pode, mas com a singeleza que lhe era exclusiva. Depois de arrumada, a senhora dona Joaquina abençoou-a e disse-lhe que ela estava muito bonita. Sem a farda vestida, com aquele vestido simples mas que lhe assentava lindamente, e o seu loiro cabelo solto, parecia uma menina de família. Decerto a futura sogra iria gostar muito dela. Isto dito por aquela senhora, teve um efeito maravilhoso para dar confiança a Helena que saiu de casa, quando o José Carlos apareceu ao fundo do portão de trás, como sempre, radiosa de satisfação.


- Estás mais bonita que nunca, Helena. Amo-te.

Foi o que lhe disse José Carlos quando ela se aproximou dele.

Helena não se lembrava de ouvir aquelas palavras, ditas pelo namorado naquele tom sedutor, e ficando como que magnetizada corou de forma, que ficou ainda mais bonita, sem ter jeito de lhe retorquir nada. Partiram de mãos dadas e com muita descrição, que os beijos à luz do dia estavam proibidos, ainda que a vontade do José Carlos em a abraçar e acariciar, fosse maior que nunca.

- “Este casal é perfeito”. Foi o que pensou a senhora dona Joaquina, quando os viu ao longe de mãos dadas, a caminhar juntos, à medida que se afastavam, sentada na janela do quarto de cima que dava para aquele lado da rua.

Da Lapa até casa do José Carlos, não foi muito o percurso feito, ou então foi porque ia satisfeita e feliz com o seu apaixonado, que Helena achou que fizeram aquele caminho rapidamente. José Carlos vivia num bairro antigo de Lisboa, mesmo às portas da Lapa, numa zona onde as pessoas se cumprimentavam umas às outras. Helena gostou disso, porque lhe lembrou a sua aldeia. Entraram por umas escadas estreitas, e ao abrir a porta, a casa era acolhedora.

Numa sala de entrada, encostada a uma porta rasgada, protegida por uma varanda, virada para o rio Tejo, de onde se via a outra margem, estava uma senhora já com alguma idade, mas muito direita, vestida de negro, mas que ao vê-los entrar se levantou e sorrindo se dirigiu ao casal para os cumprimentar.

-Não demoraste muito José, ainda bem. Boa tarde menina, tenho muito gosto em a conhecer. É a Helena, não é? O meu filho não se cansa de falar na menina, tanto que quase já lhe gastou o nome.

- Sim mãe é a Helena. Helena, apresento-te a minha mãe.

-Chamo-me Matilde, e tenho muito gosto em a conhecer. Ainda bem que não tardaram, pois ainda temos tempo para tomar um chá com calma. Meu filho, desculpa e a Helena também, mas esqueci-me de te dizer que hoje tenho uma devoção a cumprir na igreja, onde me comprometi estar com algumas senhoras amigas aqui do bairro, por isso gostei que não tivessem demorado. Vou ter que me ausentar um pouco, mas não demoro. Vão ter ambos que me desculpar, mas ficam à vontade, pois já têm idade para saber o que fazem.

- Oh mãe por favor, olhe como fala. Sabes a minha mãe é assim diz tudo que sente.

- E faz muito bem. Não se preocupe minha senhora, que sairemos quando a senhora sair. E não se apoquente com o chá. Não é preciso incomodar-se. O José quis só trazer-me aqui para nos conhecermos, e hei-de voltar outros dias com certeza, não é José Carlos?

- Nada disso- disse Matilde- claro que veio aqui para nos conhecermos, e há-de voltar outros dias, mas tenho tudo preparado e não sairei enquanto não tomarmos o nosso chá, com um bolinho feito por mim. Mas conte-me Helena, então trabalha em Lisboa, mas é da serra, do Norte? Já está cá há algum tempo, pelo que me contou o José Carlos?

- Sou de Malhoa, lá bem para o norte, do concelho de Chaves, mas quis vir trabalhar e estudar para a capital e aqui estou, realmente já há algum tempo.

- Posso falar mãe- atalhou o José- Queria dizer-lhe que gosto muito de Helena, e como já lhe disse, ela trabalha numa casa que não lhe deixa muito tempo livre, assim temos que aproveitar a sua vinda aqui. Como já lhe contei bastantes coisas dela diga-me a verdade: é ou não bonita a minha Helena?

- Envergonhas-me com essas conversas. Que há-de a tua mãe pensar de mim?

- Penso que é muito mais bonita, do que eu imaginava- disse a mãe do José, a Matilde- deve ser porque tem bom coração, como também me disseste, por isso a acho tão bonita, como o meu filho.

- Dona Matilde, a senhora deixa-me sem eu saber o que dizer. Primeiro prepara-me um chá e faz um bolo por minha causa que lhe apareço aqui em casa a uma hora nada conveniente, pois tem mais que fazer. E tu José, que andaste a contar mais de mim à tua mãe?

- A verdade. Que és linda e boa pessoa, que te amo e que te quero para minha mulher.

- Nem sei que dizer, a ouvir isso à frente da tua mãe.



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