Isabel estava de férias, no seu país. Estávamos ainda no Verão, no seu final, mas os dias uns pelos outros ainda se apresentavam risonhos, quentes, convidando à praia e ao lazer. Mudava de local naquele final de semana, pois nesse ano as férias eram um pouco mais longas que o habitual.
Tinha passado com Pedro um ano muito difícil, por motivos de trabalho, de uma recidiva de uma doença muito aborrecida do Pedro e porque não dizê-lo, por falta de dinheiro, que naquele ano na sua família como em todo o país parecia escassear cada vez mais. Na verdade, aquele ano até ali tinha sido muito complicado, e o que estava para vir logo se viria.
Mas naquele ano os filhos juntaram-se à mãe e ofereceram ao pai, pelo aniversário, uma semana numa Albergaria que ao percorrer com olhar atento fez lembrar a Isabel as pousadas maravilhosas que de vez em quando, recordava com nostalgia do seu Brasil, aonde ainda pretendia voltar, mas não sabia quando. Poderia ser que o fizesse só em sonhos.
Naquela tarde algo muito importante iria acontecer. Era absolutamente imperioso que ela e o Pedro estivessem na Albergaria, no seu quarto, ou num outro lugar qualquer, onde atentamente o pudessem ouvir. Sem saber como, nem porquê, o filho mais velho iria falar na televisão. Um convite chegado sem contar, e sem Isabel conhecer ao certo o motivo, mas que a deixou cheia de curiosidade e interesse. De facto o que sabia é que o seu filho mais velho iria falar na TV, naquela tarde exactamente a uma hora determinada, e o que ela sabia é que isso era muito bom. Sabia que ele tinha muito valor. Era inteligente, culto, bem-falante, conhecedor de tudo, além os assuntos da sua área, mas também modesto e humilde, para ter nele o exemplo do que deviam ser os homens no mundo, para que este evoluísse e andasse para a frente. Não havia nada que ele não dominasse, era o que Isabel mãe orgulhosa e babada pensava do seu primogénito.
E de facto ocuparam o quarto na Albergaria, a tempo de à hora exacta, estarem em frente à TV. Sentados na cama em frente à televisão esperaram ambos que o programa começasse. Pareciam duas crianças. Isabel estava tão nervosa que quando o programa começou, queria logo que ele aparecesse. E apareceu, mas primeiro numa curta apresentação e depois de escutado o primeiro convidado, foi um prazer ouvir e ver o seu rebento. Um homem lindo, talentoso só de olhar, simples no aspecto, mas grandioso em tudo o que dizia, que para Isabel aquele era o seu menino, ou não, pois era um homem que ela ouvia. E baralhada, pois sabia que o seu menino era um homem, aquele homem com letra grande que falava, que sabia bem o que dizia, respondendo com enorme eloquência e sabedoria a tudo o que lhe era perguntado, Isabel não sabia se havia de rir ou de chorar, pois cada coisa que ele dizia deixava o seu coração repleto de felicidade.
Isabel atenta, não perdeu uma palavra do que ele disse, nem sobre o trabalho, nem sobre os seus gostos pessoais, e muito mais haveria para dizer, que apesar da vida ainda não ser muito cumprida, ele aproveita cada segundo e o seu curriculum já é longo e muito rico.
E gostou de tudo o que ele disse. Confirmou que sabia ainda, as coisas de que ele gostava. E que bem que o conhecia o seu menino. Apreciava, como há-de gostar eternamente de música e de escrever, e ler, ler todos os autores que cuidadosamente escolherá sempre, como sendo uma riqueza, algo precioso e especial, importante demais para o ensinar e dar a conhecer exactamente o que pretende ou não, mas sempre uma valia a aproveitar.
Isabel estava agitada, e da emoção de tão bem o ver e ouvir falar, nem sabia se havia de rir ou se chorar. Deixou-se ficar nesse encantamento, recebendo mensagens de elogio e parabéns de amigos que também o ouviram. Nesse dia quase que pensou que o mundo podia acabar. Mas não, era tudo emoção, tinha a sua filha e ela ia casar, uma emoção tão grande que nem sabia bem em qual pensar. A sua princesa ia casar, e o seu menino era um homem que falava com nenhum outro, com sabedoria e total competência.
O seu menino era um Homem, e era o maior. Um dia havia de lá chegar, àquele lugar onde só chegam as estrelas, por nunca desistirem de subir, de lutar e trabalhar. Ela sabia, que um dia o seu brilho chegaria longe, e a partir dali nunca mais pararia de brilhar.
E a sua princesa vestida de branco, naquele dia ia entrega-la a alguém que para sempre havia de a fazer feliz.
E deliciou-se a pensar nos seus dois filhos e tanto o fez, com tanta energia, tanto amor e empenho, que nesse dia chegada a noite, os seus olhos não dormiram. Tinha sido tão forte a emoção que Isabel não estava nela. Será que tudo aquilo era verdade?
Naquele dia vivera de facto momentos de imensa felicidade.
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