segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ELE na televisão

Isabel estava de férias, no seu país. Estávamos ainda no Verão, no seu final, mas os dias uns pelos outros ainda se apresentavam risonhos, quentes, convidando à praia e ao lazer. Mudava de local naquele final de semana, pois nesse ano as férias eram um pouco mais longas que o habitual.

Tinha passado com Pedro um ano muito difícil, por motivos de trabalho, de uma recidiva de uma doença muito aborrecida do Pedro e porque não dizê-lo, por falta de dinheiro, que naquele ano na sua família como em todo o país parecia escassear cada vez mais. Na verdade, aquele ano até ali tinha sido muito complicado, e o que estava para vir logo se viria.

Mas naquele ano os filhos juntaram-se à mãe e ofereceram ao pai, pelo aniversário, uma semana numa Albergaria que ao percorrer com olhar atento fez lembrar a Isabel as pousadas maravilhosas que de vez em quando, recordava com nostalgia do seu Brasil, aonde ainda pretendia voltar, mas não sabia quando. Poderia ser que o fizesse só em sonhos.

Naquela tarde algo muito importante iria acontecer. Era absolutamente imperioso que ela e o Pedro estivessem na Albergaria, no seu quarto, ou num outro lugar qualquer, onde atentamente o pudessem ouvir. Sem saber como, nem porquê, o filho mais velho iria falar na televisão. Um convite chegado sem contar, e sem Isabel conhecer ao certo o motivo, mas que a deixou cheia de curiosidade e interesse. De facto o que sabia é que o seu filho mais velho iria falar na TV, naquela tarde exactamente a uma hora determinada, e o que ela sabia é que isso era muito bom. Sabia que ele tinha muito valor. Era inteligente, culto, bem-falante, conhecedor de tudo, além os assuntos da sua área, mas também modesto e humilde, para ter nele o exemplo do que deviam ser os homens no mundo, para que este evoluísse e andasse para a frente. Não havia nada que ele não dominasse, era o que Isabel mãe orgulhosa e babada pensava do seu primogénito.

E de facto ocuparam o quarto na Albergaria, a tempo de à hora exacta, estarem em frente à TV. Sentados na cama em frente à televisão esperaram ambos que o programa começasse. Pareciam duas crianças. Isabel estava tão nervosa que quando o programa começou, queria logo que ele aparecesse. E apareceu, mas primeiro numa curta apresentação e depois de escutado o primeiro convidado, foi um prazer ouvir e ver o seu rebento. Um homem lindo, talentoso só de olhar, simples no aspecto, mas grandioso em tudo o que dizia, que para Isabel aquele era o seu menino, ou não, pois era um homem que ela ouvia. E baralhada, pois sabia que o seu menino era um homem, aquele homem com letra grande que falava, que sabia bem o que dizia, respondendo com enorme eloquência e sabedoria a tudo o que lhe era perguntado, Isabel não sabia se havia de rir ou de chorar, pois cada coisa que ele dizia deixava o seu coração repleto de felicidade.

Isabel atenta, não perdeu uma palavra do que ele disse, nem sobre o trabalho, nem sobre os seus gostos pessoais, e muito mais haveria para dizer, que apesar da vida ainda não ser muito cumprida, ele aproveita cada segundo e o seu curriculum já é longo e muito rico.

E gostou de tudo o que ele disse. Confirmou que sabia ainda, as coisas de que ele gostava. E que bem que o conhecia o seu menino. Apreciava, como há-de gostar eternamente de música e de escrever, e ler, ler todos os autores que cuidadosamente escolherá sempre, como sendo uma riqueza, algo precioso e especial, importante demais para o ensinar e dar a conhecer exactamente o que pretende ou não, mas sempre uma valia a aproveitar.

Isabel estava agitada, e da emoção de tão bem o ver e ouvir falar, nem sabia se havia de rir ou se chorar. Deixou-se ficar nesse encantamento, recebendo mensagens de elogio e parabéns de amigos que também o ouviram. Nesse dia quase que pensou que o mundo podia acabar. Mas não, era tudo emoção, tinha a sua filha e ela ia casar, uma emoção tão grande que nem sabia bem em qual pensar. A sua princesa ia casar, e o seu menino era um homem que falava com nenhum outro, com sabedoria e total competência.
O seu menino era um Homem, e era o maior. Um dia havia de lá chegar, àquele lugar onde só chegam as estrelas, por nunca desistirem de subir, de lutar e trabalhar. Ela sabia, que um dia o seu brilho chegaria longe, e a partir dali nunca mais pararia de brilhar.



E a sua princesa vestida de branco, naquele dia ia entrega-la a alguém que para sempre havia de a fazer feliz.

E deliciou-se a pensar nos seus dois filhos e tanto o fez, com tanta energia, tanto amor e empenho, que nesse dia chegada a noite, os seus olhos não dormiram. Tinha sido tão forte a emoção que Isabel não estava nela. Será que tudo aquilo era verdade?

Naquele dia vivera de facto momentos de imensa felicidade.

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