quinta-feira, 1 de setembro de 2011

AQUELA mulher velha

Afinal, ela não estava completamente errada.
Aquele preto que vestia sempre, o seu semblante carregado e olhos descaídos, onde nunca consegui ver pestanas, e talvez por isso, nunca consegui notar algum dia a cor, velha, casmurra, sempre de mau humor, indisposta e capaz de abrir a boca a qualquer momento para dizer coisas que criavam entre eles,( ela, o filho e a nora), um ambiente o pior possível, quem sabe por ciúmes dela ou da nora, afinal tinha alguma razão de existir com tamanha mágoa e tristura.

Não fazendo dela, com isto, uma santa mulher, porque sempre a considerei má, nada carinhosa, nem meiga, nem atenta, nem disponível para nada que não fossem as coisas que a ela diziam  estritamente respeito, alivia um pouco o sentimento que sempre nutri por ela, de a considerar estranha e conflituosa, capaz de me amedrontar continuamente, quase por gosto, assustando-me até ao fim do mundo.

       Afinal ela não amava ninguém como devia, porque não sabia, pois também nunca foi amada, garantidamente, como desejaria e como deveria ter sido amada. Mãe acima de tudo, depois esposa e amante de seu marido, por obrigação tenho a certeza, pois me afiançou muitas vezes que gostaria muito mais de ter entrado para um convento, esta mulher vestida de negro sempre foi uma mulher fria, quezilenta, implicante, sem amor a ninguém, egoísta, e muito autoritária, capaz de fazer sempre tudo o que queria e garantidamente sabia bem que ninguém naquilo que podia seria capaz de a contradizer nunca.
     Mas uma mulher só no meio de muita gente, a sua gente, uma mulher incompreendida e infeliz, que hoje compreendo um pouco melhor que naquela altura.
   
    A falta de amor, de auto estima, pode fazer-nos impertinentes e maus, duros, terríficos, e aquela mulher mal-amada sempre de semblante carregado e entristecido, sofria de amor tão somente.

      Aquele “serrar” a que se referia, entendo-o hoje muito bem, por que também o vivo e sinto. Não ser amada como se deve, esquecida, egoistamente usada como um objecto, sem se saber mentir, ou cansada de fingir, pode tornar-nos maus, tristes, egoístas, cansados da vida, pois quando se dá e não se recebe na mesma moeda, com o tempo, pode levar-nos a destruir o melhor que temos e somos.
    Ficamos fartos, desesperadamente saturados de tanta monotonia e tanto desamor.
     O melhor é desistir e aceitar resignados, foi o que fiz há muito.

     Perdoa-me a incompreensão, mas considero que não te devias ter vingado nos que inocentemente te rodeavam, só por que nunca foste amada como desejaste, por quem querias.
Eu  não deixei de amar quem me rodeia e não procurei essa vingança, e sabes uma coisa, se tivesses deixado eu podia ter-te amado naquela altura.

   Assim perdeste a oportunidade de amar e ser amada por todo o resto do mundo que não quiseste conhecer, e também pelos que conheceste.
   Não deixaste que te amassem porque lhes mostraste sempre má cara, vestida com as tuas vestes negras, tal era a cegueira que te rodeava por desejares aquele amor que não te souberam dar, não por mal, mas porque não souberam amar-te como deviam.
    Sei isso muito bem. Mas como te compreendo melhor hoje, desculpo um pouco o teu permanente mau humor a tua tristura infinita para comigo.
    Que Deus te recompense agora, e eternamente.
     Fica em PAZ!

    Fotos do Google

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