Justina andava ultimamente mal disposta, enjoada, cansada e com mau aspecto, sem motivo aparente. Manuel um pouco mais velho que ela, com a direcção na fábrica, andava sempre muito ocupado e dava-lhe pouca atenção. Até das saídas com as amigas Justina estava farta, e com a excepção de uns telefonemas que recebia por vezes à tarde na biblioteca, que a deixavam nervosa e agitada, Justina não fazia nada mas não parecia a mesma de sempre. Não tinha ido à praia e a sua cor era muito pálida, comparada com a de Helena ou mesmo da sogra, que tinham passado muitas horas naquela praia lindíssima alentejana, por isso não tinham como comparar.
No início daquele ano escolar estava resolvida a não ir dar aulas no colégio, sentia-se cansada, vá-se lá saber porquê, pois quase não fazia nada, mas não falava em ir ao médico, e resolveu sugerir ao marido algo que o iria espantar, mas primeiro falou em segredo com Helena, pois precisava do seu apoio.
-Helena queria falar contigo um assunto muito sério, e tu só vais ouvir e se queres a minha ajuda para a tua vida futura, vais ter que estar do meu lado, e dizer que sim a tudo.
-Mas com certeza minha senhora que a ajudarei no que for necessário, diga então pois sou toda, ouvidos.
-Reparaste que fui muito pouco tempo à praia. Não andava muito bem-disposta e juntava-me com uns amigos a conversar. O meu marido está sempre muito ocupado, mesmo quando está de férias nos poucos dias que tira para se juntar à família, tem sempre muito que ler e escrever, e deixa-me muito tempo sozinha. Queria tirar uns tempos e sair daqui, ando enjoada desta cidade, deste movimento todo, queria pensar o que hei-de fazer da minha vida, mas aqui com a dona Joaquina, que é uma jóia de senhora mas é a minha sogra, nunca me sinto bem em minha casa, e assim resolvi pedir ao meu marido para ir uns tempos para a serra, onde temos uma casa perto dumas termas. Tenho umas amigas que também vão, e sei que lá vou conseguir pensar e saber o que quero. Mas ninguém precisa saber que tenho lá amigas, e ao que vou. Digo-te a ti porque quero que vás comigo.
-Eu minha senhora? E o meu Fernando, e o menino Ruizinho? E isso é muito tempo.
-E eu, não te disse para ouvires e não fazeres perguntas? Claro que o Fernando não vai, porque é preciso aqui para servir o dom Manuel, mas vai lá levar-nos, e depois não foge daqui e como o tempo passa depressa, quando voltares comigo estará aqui à tua espera. Quanto ao meu filho, tenho que arranjar uma solução, porque me custa separar dele, mas não sei se o melhor será levá-lo comigo.
-Ai minha senhora, que me vai custar tanto sair daqui e deixar os meus dois homens o pequenino e o grande.
-Cala-te, e não comentes o que te disse com ninguém. Já sabes que se convencer o meu marido, partes comigo para a serra, sem comentários. Ouviste nada de falatórios com a Celeste ou seja com quem for. É melhor para todos.
Mas porque seria que a senhora queria segredo daquela sua saída, e isso seria melhor para todos, e porque a queria levar para a serra se ela estava tão bem na cidade. Ia voltar para a serra, que serra deve ser sempre igual como a de onde viera, e nem sabia o que ia lá fazer. Ia doer-lhe muito separar-se do seu Fernando. O melhor seria o senhor dom Manuel dizer que não, mas isso não iria acontecer, porque a senhora sabia falar-lhe muito ao jeito e havia de o convencer.
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