quinta-feira, 31 de março de 2011

A separação

-Sabes Fernando, só te digo a ti, porque a senhora me pediu para não dizer nada a ninguém, mas vou com ela para uma casa na serra, e tu vais-nos lá levar. Ficas aqui, sem mim, mas esperas-me e escreves-me uma carta todos os dias. Vou morrer de saudades tuas. Não vais arranjar outra namorada.


Isto foi o que Helena disse a Fernando um dia à noite, estando na cozinha, quando o viu passar no jardim das traseiras, para ir embora, e veio correr até junto dele. E ele sem entender muito bem, perguntou o que se passava pois não estava a entender nada.

-Mas, vais para onde com a senhora? Não entendo nada, e o menino, e o colégio, mas o que se passa? Não percebo aquela senhora. Este último ano anda diferente, e no verão fazia-me esperar horas em sítios, casas de amigas que eu não conhecia. Mas não é nada comigo, só cumpro ordens.

-O pior, é que vamos ficar longe um do outro. Não me vais esquecer, pois não Fernando?

-Claro que não, minha flor, sabes que te amo.

-Não digas isso assim Fernando, que me envergonhas.

E agarrou Helena pela cintura, mesmo ali nas traseiras da casa, sujeitos a que alguém passasse ou a Celeste os visse, apesar de encobertos pela noite, e beijou-a como nunca o tinha feito. Esqueceram-se do local onde estavam e os seus corpos colaram-se como se fossem um só. Fernando percorreu com caricias delicadamente todo o rosto de Helena até que chegou à sua boca, e aí ficou num beijo prolongado e doce, quente e amoroso como nenhum outro que alguma vez Helena imaginasse alguém poder dar-lhe, e depois outro e outro. Uma troca de tudo, uma entrega de tanta coisa, um dar e receber mútuos como nunca imaginaram um e outro ser possível acontecer, tudo naquele beijo que significava para ambos, naquele momento, o imenso amor que se tinham e a imensa saudade que iriam sentir um do outro, a certeza absoluta que se amavam de verdade. E ficaram naquele enlace até que os seus corpos pediram mais, mas mais era muito e demasiado intenso para os dois, e a Celeste em boa ocasião chamou Helena da cozinha:

-Helena, depressa que preciso de ti.

-Adeus Fernando, tenho que ir mas não me esqueças porque parto, pois vais no meu coração, e escreve-me sempre, como eu te vou escrever, que quando nos fores levar não podemos estar com despedidas- e Helena disse isto muito triste.

-Claro que te vou escrever, porque te quero todo o bem do mundo e vou esperar por ti, porque te quero para minha mulher. Queria-te já hoje Helena, se pudesse, queria-te já hoje. Mas também não vão lá ficar uma eternidade, ou vão? Raios da senhora, do que se havia de lembrar.

E ela fugiu para dentro com aquelas palavras gravadas no seu coração, e os olhos cheios de lágrimas, pois também ela o queria muito. Só sentia na sua boca o calor e sabor forte, gostoso e quente da boca de Fernando, que ela nunca mais iria esquecer, de tal forma que nem ouviu o que Celeste lhe dizia. Aquela sensação que ela nunca tinha experimentado, era tão forte que lhe parecia ter penetrado o corpo e a alma completamente e parecia ter-se alojado gostosamente na sua boca para toda a vida e ela sentia-se a viver nas nuvens.

-Mulher, hem Helena, houve o que te digo que já não é cedo, temos de ir deitar e ainda tenho aqui umas coisas para arrumar. O Ruizinho já dorme? Vem-me ajudar.


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