sexta-feira, 18 de março de 2011

O desencanto

A vida lentamente foi dando a Isabel, um pouco daquilo que ela buscou e lutou muito por conseguir. Pelo seu caminho já algo longo, encontrou basicamente de tudo, viveu bons instantes como os que já foram mencionados, mas também momentos terríveis. Dos seus sonhos de menina, muitos foram-se perdendo pelo caminho, esfumando-se como nuvens efémeras, como se nem sequer existissem no mundo táctil e real onde habitava. Factos que nunca conquistou, decerto, por não lhe estarem à partida destinadas, ou porque simplesmente só faziam parte unicamente do seu imaginário.


Queria ser feliz, decerto como todos que cruzavam com ela no caminho, pois não existe ninguém que não sonhe com a felicidade. Olhando as gentes à sua volta, todos lhe pareciam tranquilos, sorridentes a cada instante, e Isabel não conseguia entender este seu sentimento de tristeza e nostalgia, tão permanentes e castrantes. Ela não conseguiu colocar de lado as suas inquietações, e se nuns dias respirava mais serenamente, outros havia, que sentia sobre ela o peso do Universo, como se tudo e todos se tivessem voltado contra ela, acusando-a de tudo o que não fez, ou fez, mas erradamente, que para ela era quase toda a sua vida, pois sentia-se constantemente insatisfeita e incompleta.

Isabel lutou sempre como pode para tapar esta nuvem que pairava sobre si, como uma sombra persistente e avassaladora, e iludiu-se muitas vezes pensando e fazendo de conta, que tudo estava bem.

Sentiu-se recompensada pelos filhos que teve, estudiosos, presentes sempre que possível, saudáveis e fortes, pelo companheiro fiel e amigo, grande amigo, bom pai, o melhor e maior de todos, que não conseguiu fazê-la sentir-se mais que mal-amada, é certo, mas que a compensou mais tarde, pelo apoio persistente e firme, e uma amizade extremas, pela companhia possível, tudo atitudes que não encontrou nunca em mais ninguém que conheceu.

Mas tentou suplantar todas as ausências que sentia de afecto, carinhos, estima, compreensão, e esquecer o sensação que tanto a prejudicava de auto-estima muito precária, temor e perturbação quase constantes, com uma capa de ferro que arranjou sabe-se lá onde, e que mal ou bem, a foi protegendo ao longo da vida, mesmo que transformando-a dia após dia.

Isabel confiava nas pessoas, era amiga delas, entregava-se aos seus afectos totalmente, e se lhe faziam algo que a desiludisse ficava mais triste do que já era, não conseguindo esquecer facilmente a troca que lhe faziam, do bem pelo mal. Mas ia sobrevivendo a todas estas situações, como toda a gente, com calma e ponderação, não culpabilizando outras relações que poderia ter com outras pessoas diferentes. Engolia e sofria para dentro e tentava caminhar em frente de cabeça erguida.

Quando casara trouxera de casa dos pais, apenas umas argolas de ouro, coisa simples, pequena e fina, que o pai lhe dera na adolescência, assim como um fio de ouro singelo que ele lhe oferecera pela sua quarta classe, que nem medalha tinha. No dedo a aliança de casamento e o anel de noivado que Pedro lhe tinha oferecido. Pedro trazia consigo, além da aliança de ouro do casamento, um fio de ouro fininho que a madrinha lhe tinha dado à nascença.
Estes eram os pertences de ouro de Isabel e Pedro.



Depois de casados, claro que não havia dinheiro para aumentar o pouco que tinham, pois primeiro ponderaram no melhoramento da casa, depois num carro em terceira mão, e mais tarde com o nascimento dos filhos, o importante era que nada lhes faltasse, para o seu crescimento normal e saudável, e assim aquelas eram compras simplesmente inimagináveis, para ambos.



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