-Sabes Fernando, só te digo a ti, porque a senhora me pediu para não dizer nada a ninguém, mas vou com ela para uma casa na serra, e tu vais-nos lá levar. Ficas aqui, sem mim, mas esperas-me e escreves-me uma carta todos os dias. Vou morrer de saudades tuas. Não vais arranjar outra namorada.
Isto foi o que Helena disse a Fernando um dia à noite, estando na cozinha, quando o viu passar no jardim das traseiras, para ir embora, e veio correr até junto dele. E ele sem entender muito bem, perguntou o que se passava pois não estava a entender nada.
-Mas, vais para onde com a senhora? Não entendo nada, e o menino, e o colégio, mas o que se passa? Não percebo aquela senhora. Este último ano anda diferente, e no verão fazia-me esperar horas em sítios, casas de amigas que eu não conhecia. Mas não é nada comigo, só cumpro ordens.
-O pior, é que vamos ficar longe um do outro. Não me vais esquecer, pois não Fernando?
-Claro que não, minha flor, sabes que te amo.
-Não digas isso assim Fernando, que me envergonhas.
E agarrou Helena pela cintura, mesmo ali nas traseiras da casa, sujeitos a que alguém passasse ou a Celeste os visse, apesar de encobertos pela noite, e beijou-a como nunca o tinha feito. Esqueceram-se do local onde estavam e os seus corpos colaram-se como se fossem um só. Fernando percorreu com caricias delicadamente todo o rosto de Helena até que chegou à sua boca, e aí ficou num beijo prolongado e doce, quente e amoroso como nenhum outro que alguma vez Helena imaginasse alguém poder dar-lhe, e depois outro e outro. Uma troca de tudo, uma entrega de tanta coisa, um dar e receber mútuos como nunca imaginaram um e outro ser possível acontecer, tudo naquele beijo que significava para ambos, naquele momento, o imenso amor que se tinham e a imensa saudade que iriam sentir um do outro, a certeza absoluta que se amavam de verdade. E ficaram naquele enlace até que os seus corpos pediram mais, mas mais era muito e demasiado intenso para os dois, e a Celeste em boa ocasião chamou Helena da cozinha:
-Helena, depressa que preciso de ti.
-Adeus Fernando, tenho que ir mas não me esqueças porque parto, pois vais no meu coração, e escreve-me sempre, como eu te vou escrever, que quando nos fores levar não podemos estar com despedidas- e Helena disse isto muito triste.
-Claro que te vou escrever, porque te quero todo o bem do mundo e vou esperar por ti, porque te quero para minha mulher. Queria-te já hoje Helena, se pudesse, queria-te já hoje. Mas também não vão lá ficar uma eternidade, ou vão? Raios da senhora, do que se havia de lembrar.
E ela fugiu para dentro com aquelas palavras gravadas no seu coração, e os olhos cheios de lágrimas, pois também ela o queria muito. Só sentia na sua boca o calor e sabor forte, gostoso e quente da boca de Fernando, que ela nunca mais iria esquecer, de tal forma que nem ouviu o que Celeste lhe dizia. Aquela sensação que ela nunca tinha experimentado, era tão forte que lhe parecia ter penetrado o corpo e a alma completamente e parecia ter-se alojado gostosamente na sua boca para toda a vida e ela sentia-se a viver nas nuvens.
-Mulher, hem Helena, houve o que te digo que já não é cedo, temos de ir deitar e ainda tenho aqui umas coisas para arrumar. O Ruizinho já dorme? Vem-me ajudar.
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A História de uma menina triste, franzina e assustada, que só procurava a paz, amar e ser amada!
quinta-feira, 31 de março de 2011
A troca
Justina andava ultimamente mal disposta, enjoada, cansada e com mau aspecto, sem motivo aparente. Manuel um pouco mais velho que ela, com a direcção na fábrica, andava sempre muito ocupado e dava-lhe pouca atenção. Até das saídas com as amigas Justina estava farta, e com a excepção de uns telefonemas que recebia por vezes à tarde na biblioteca, que a deixavam nervosa e agitada, Justina não fazia nada mas não parecia a mesma de sempre. Não tinha ido à praia e a sua cor era muito pálida, comparada com a de Helena ou mesmo da sogra, que tinham passado muitas horas naquela praia lindíssima alentejana, por isso não tinham como comparar.
No início daquele ano escolar estava resolvida a não ir dar aulas no colégio, sentia-se cansada, vá-se lá saber porquê, pois quase não fazia nada, mas não falava em ir ao médico, e resolveu sugerir ao marido algo que o iria espantar, mas primeiro falou em segredo com Helena, pois precisava do seu apoio.
-Helena queria falar contigo um assunto muito sério, e tu só vais ouvir e se queres a minha ajuda para a tua vida futura, vais ter que estar do meu lado, e dizer que sim a tudo.
-Mas com certeza minha senhora que a ajudarei no que for necessário, diga então pois sou toda, ouvidos.
-Reparaste que fui muito pouco tempo à praia. Não andava muito bem-disposta e juntava-me com uns amigos a conversar. O meu marido está sempre muito ocupado, mesmo quando está de férias nos poucos dias que tira para se juntar à família, tem sempre muito que ler e escrever, e deixa-me muito tempo sozinha. Queria tirar uns tempos e sair daqui, ando enjoada desta cidade, deste movimento todo, queria pensar o que hei-de fazer da minha vida, mas aqui com a dona Joaquina, que é uma jóia de senhora mas é a minha sogra, nunca me sinto bem em minha casa, e assim resolvi pedir ao meu marido para ir uns tempos para a serra, onde temos uma casa perto dumas termas. Tenho umas amigas que também vão, e sei que lá vou conseguir pensar e saber o que quero. Mas ninguém precisa saber que tenho lá amigas, e ao que vou. Digo-te a ti porque quero que vás comigo.
-Eu minha senhora? E o meu Fernando, e o menino Ruizinho? E isso é muito tempo.
-E eu, não te disse para ouvires e não fazeres perguntas? Claro que o Fernando não vai, porque é preciso aqui para servir o dom Manuel, mas vai lá levar-nos, e depois não foge daqui e como o tempo passa depressa, quando voltares comigo estará aqui à tua espera. Quanto ao meu filho, tenho que arranjar uma solução, porque me custa separar dele, mas não sei se o melhor será levá-lo comigo.
-Ai minha senhora, que me vai custar tanto sair daqui e deixar os meus dois homens o pequenino e o grande.
-Cala-te, e não comentes o que te disse com ninguém. Já sabes que se convencer o meu marido, partes comigo para a serra, sem comentários. Ouviste nada de falatórios com a Celeste ou seja com quem for. É melhor para todos.
Mas porque seria que a senhora queria segredo daquela sua saída, e isso seria melhor para todos, e porque a queria levar para a serra se ela estava tão bem na cidade. Ia voltar para a serra, que serra deve ser sempre igual como a de onde viera, e nem sabia o que ia lá fazer. Ia doer-lhe muito separar-se do seu Fernando. O melhor seria o senhor dom Manuel dizer que não, mas isso não iria acontecer, porque a senhora sabia falar-lhe muito ao jeito e havia de o convencer.
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No início daquele ano escolar estava resolvida a não ir dar aulas no colégio, sentia-se cansada, vá-se lá saber porquê, pois quase não fazia nada, mas não falava em ir ao médico, e resolveu sugerir ao marido algo que o iria espantar, mas primeiro falou em segredo com Helena, pois precisava do seu apoio.
-Helena queria falar contigo um assunto muito sério, e tu só vais ouvir e se queres a minha ajuda para a tua vida futura, vais ter que estar do meu lado, e dizer que sim a tudo.
-Mas com certeza minha senhora que a ajudarei no que for necessário, diga então pois sou toda, ouvidos.
-Reparaste que fui muito pouco tempo à praia. Não andava muito bem-disposta e juntava-me com uns amigos a conversar. O meu marido está sempre muito ocupado, mesmo quando está de férias nos poucos dias que tira para se juntar à família, tem sempre muito que ler e escrever, e deixa-me muito tempo sozinha. Queria tirar uns tempos e sair daqui, ando enjoada desta cidade, deste movimento todo, queria pensar o que hei-de fazer da minha vida, mas aqui com a dona Joaquina, que é uma jóia de senhora mas é a minha sogra, nunca me sinto bem em minha casa, e assim resolvi pedir ao meu marido para ir uns tempos para a serra, onde temos uma casa perto dumas termas. Tenho umas amigas que também vão, e sei que lá vou conseguir pensar e saber o que quero. Mas ninguém precisa saber que tenho lá amigas, e ao que vou. Digo-te a ti porque quero que vás comigo.
-Eu minha senhora? E o meu Fernando, e o menino Ruizinho? E isso é muito tempo.
-E eu, não te disse para ouvires e não fazeres perguntas? Claro que o Fernando não vai, porque é preciso aqui para servir o dom Manuel, mas vai lá levar-nos, e depois não foge daqui e como o tempo passa depressa, quando voltares comigo estará aqui à tua espera. Quanto ao meu filho, tenho que arranjar uma solução, porque me custa separar dele, mas não sei se o melhor será levá-lo comigo.
-Ai minha senhora, que me vai custar tanto sair daqui e deixar os meus dois homens o pequenino e o grande.
-Cala-te, e não comentes o que te disse com ninguém. Já sabes que se convencer o meu marido, partes comigo para a serra, sem comentários. Ouviste nada de falatórios com a Celeste ou seja com quem for. É melhor para todos.
Mas porque seria que a senhora queria segredo daquela sua saída, e isso seria melhor para todos, e porque a queria levar para a serra se ela estava tão bem na cidade. Ia voltar para a serra, que serra deve ser sempre igual como a de onde viera, e nem sabia o que ia lá fazer. Ia doer-lhe muito separar-se do seu Fernando. O melhor seria o senhor dom Manuel dizer que não, mas isso não iria acontecer, porque a senhora sabia falar-lhe muito ao jeito e havia de o convencer.
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quarta-feira, 30 de março de 2011
terça-feira, 29 de março de 2011
O silêncio..
Quando as palavras não dizem tudo o que o coração sente, o melhor é parar, e sentir
unicamente o que vai dentro da gente.
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Um vazio...
Não tenho vindo aqui porque a solidão anda comigo.
Visita-me quando me levanto, um desalento que não é normal, que desconheço mas me domina por completo, muito mais que tudo que se possa imaginar.
Queria libertar-me, fugir de tudo isto e correr para outro lado, para algures onde pudesse estar mais confortável, sem temores nem angustias, sem medo de sonhar, porque os meus sonhos devoram-me por serem pesadelos negros e tristes.
Não sei que tenho, não sei que sinto..
Um vazio percorre-me inteira, uma ausência de tudo o que tive e de tudo que nunca imaginei possuir.
Um vazio que é meu, que eu não quero, mas que teima em não me abandonar.
Visita-me quando me levanto, um desalento que não é normal, que desconheço mas me domina por completo, muito mais que tudo que se possa imaginar.
Queria libertar-me, fugir de tudo isto e correr para outro lado, para algures onde pudesse estar mais confortável, sem temores nem angustias, sem medo de sonhar, porque os meus sonhos devoram-me por serem pesadelos negros e tristes.
Não sei que tenho, não sei que sinto..
Um vazio percorre-me inteira, uma ausência de tudo o que tive e de tudo que nunca imaginei possuir.
Um vazio que é meu, que eu não quero, mas que teima em não me abandonar.
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sexta-feira, 18 de março de 2011
Um novo livro- A troca
Era uma aldeia bonita, com a sua capela barroca onde se destaca a torre do sino galaico-português, mais elevada que os dois pináculos graníticos que a enquadravam. Helena e toda a aldeia eram devotos do Santo desta capela, Santo Amaro, e em Janeiro festejavam os seus milagres e feitos, numa romaria a preceito, fazendo o mesmo em Agosto, durante a primeira quinzena numa romaria em honra de Nossa Senhora da Natividade. Nestas alturas a povoação das aldeias vizinhas, como Quintela, Gondar, Santiago do Monte e outras, visitavam Malhoa, e viviam com eles estes momentos religiosos e de festa.
Mas Helena vivia cansada de ter tão pouco. Na altura em que devia ter ido à escola, até foi inscrita pelo pai em Quintela, a maior aldeia de todas vizinha de Malhoa, que tinha uma boa escola para a altura, e Helena lá ia descendo e subindo todos os dias, alguns quilómetros até á escola, com frio, neve e chuva intensos, ou então um calor intenso quando chegava o final da escola no mês de Junho, para aprender a ler e a contar como era seu desejo. Mas a mãe precisava dela em casa para cuidar dos irmãos que foram nascendo depois dela, pois tinha que acompanhar o pai no tratamento ta horta e cuidado do gado que tinham, e ela, sem desobedecer à mãe, e porque o caminho era duro, faltava muitos dias à escola. O que aprendeu foi tão pouco, que mal dava para ler alguma carta, que um dia se o tivesse, algum namorado lhe escrevesse.
O irmão que se lhe seguia era um rapaz, reguila que não podia ser mais, mas de bom coração, e que a ajudava como podia e sabia, quando lhe apetecia, pois muitas vezes alegava que estava cansado e quando mais crescido, dizia estar farto daquela vida. Tal como ela, o João, muito cedo aspirou a descobrir outros mundos, sair dali, pois dizia sempre que o mundo não podia ser só aquela montanha e aquelas duas ou três aldeias. E a ele a mãe não permitia faltas da escola, pois era homem, e já bastava o pai saber tão pouco de números e letras, e portanto apesar das caminhadas tanto ele, como os dois irmãos homens que se seguiram ao João, aprenderam na escola bem mais que Helena que só encontrou algum apoio mais tarde depois de criar a quarta irmã também mulher como ela. Depois desta irmã nascer, Helena ainda teve mais dois irmãos para cuidar, um rapaz e outra irmã, a mais nova se todos os irmãos e como a mãe dizia, criada noutra época já como se fosse uma rainha, com todos os irmão a paparicá-la.
Durante a década de cinquenta, e como sabia Helena ajudou a mãe e o pai e foi á escola os dias que conseguiu e lhe foi permitido ir. Em 1960 tinha ela 16 anos e João 15, e a mais nova, a Clara 6 anos e muitas vezes João comentava com Helena.
-Um dia destes fujo daqui. Sei de uns homens que partiram para longe, galgaram Espanha, para ganhar a vida no estrangeiro. Aqui nunca vou ser nada, nem fazer mais que o pai, criar ovelhas, e não quero isso para mim.
-Estás maluco João, e vais com que dinheiro? A mãe sabendo morre de desgosto, e já não anda muito bem. Para o estrangeiro não, mas gostava de ir para a capital. Sei de uma rapariga que andava na escola que foi com uma prima servir uns senhores lá na capital. Para aí também eu ia, e sabes que mais, e depois gostava de estudar que aqui não aprendi nada. Um dia gostava de ser doutora, saber muito de letras e números, ler livros, sei lá, queria ser como a professora que tive na escola, mas queria saber coisas do mundo que deve ser muito lindo.
-Ainda és pior que eu. Sonhas alto rapariga. Mas vamos combinar, se eu conseguir abalar daqui, quando tiver dinheiro mando-te algum e com ele vais para a capital. Que achas?
-Está bem, mas vê onde te metes, não conheces os caminhos, nem ninguém, não achas que devias falar nisto ao pai?
-Se lhe digo, não me deixa ir. Não, só te conto a ti, pois para o fazer tenho de ir pelo escondido da noite, como ouvi dizer na outra aldeia, aos homens que falavam na taberna. Vão a salto, pelas montanhas e de noite e depois lá se safam.
João não tirava esta ideia da sua cabeça, e se o desejava fazer nessa altura, no ano seguinte, em 1961 quando rebentou a guerra no ultramar, e começou a ver abalar alguns jovens para a guerra, na primeira oportunidade que teve, juntou-se a grupo e quase só com o que tinha no corpo abalou, dizendo à irmã.
-Diz à mãe que não se preocupe comigo. Um dia hei-de voltar. Cresci nas montanhas, não quero ir para a guerra que nem sei porque existe, nem onde é. Ela que não se apoquente, que à guerra não vou. A ti, logo que possa, mando-te dinheiro para ires para a capital como desejas.
Helena preparou ao irmão, um saco com alguma coisa de comer para o caminho, e alguma roupa, pouca, pois também não tinha muita, e pela noite dentro, quando todos dormiam, recolhida no seu canto, daquele quarto onde dormia com a maioria dos irmãos, senti-o partir, mas ficou quieta em silencio, pedindo a Deus que tudo lhe corresse bem. Também ela, não gostaria de ver o irmão partir para a guerra, sabe-se lá para onde.
De manhã quando deram por falta do João, não disse nada, deixou que o tempo passasse, e só muito tarde, à hora da ceia, com todos à volta do lume, lhes contou o que sabia.
-O João foi com um grupo de homens para Espanha e depois deve ir para algum lado trabalhar, não sei aonde. Disse-me que não quer ir para a tropa, para depois o enviarem para a guerra sem saber para onde. Não vos disse mais cedo, para ver no que dava, pois ele até podia ser apanhado ou voltar para trás, mas a esta hora o pior já passou.
Não houve muitos comentários, e a mãe só disse que também não o queria ver partir para a guerra nem aos irmãos, mas fugir à tropa tinha ideia que seria perigoso. O pai pelo seu lado comentou.
-Nenhum de vocês vai comentar na rua o que aqui foi dito. O João partiu, deixá-lo ir.
Fotos do Goggle
Mas Helena vivia cansada de ter tão pouco. Na altura em que devia ter ido à escola, até foi inscrita pelo pai em Quintela, a maior aldeia de todas vizinha de Malhoa, que tinha uma boa escola para a altura, e Helena lá ia descendo e subindo todos os dias, alguns quilómetros até á escola, com frio, neve e chuva intensos, ou então um calor intenso quando chegava o final da escola no mês de Junho, para aprender a ler e a contar como era seu desejo. Mas a mãe precisava dela em casa para cuidar dos irmãos que foram nascendo depois dela, pois tinha que acompanhar o pai no tratamento ta horta e cuidado do gado que tinham, e ela, sem desobedecer à mãe, e porque o caminho era duro, faltava muitos dias à escola. O que aprendeu foi tão pouco, que mal dava para ler alguma carta, que um dia se o tivesse, algum namorado lhe escrevesse.
O irmão que se lhe seguia era um rapaz, reguila que não podia ser mais, mas de bom coração, e que a ajudava como podia e sabia, quando lhe apetecia, pois muitas vezes alegava que estava cansado e quando mais crescido, dizia estar farto daquela vida. Tal como ela, o João, muito cedo aspirou a descobrir outros mundos, sair dali, pois dizia sempre que o mundo não podia ser só aquela montanha e aquelas duas ou três aldeias. E a ele a mãe não permitia faltas da escola, pois era homem, e já bastava o pai saber tão pouco de números e letras, e portanto apesar das caminhadas tanto ele, como os dois irmãos homens que se seguiram ao João, aprenderam na escola bem mais que Helena que só encontrou algum apoio mais tarde depois de criar a quarta irmã também mulher como ela. Depois desta irmã nascer, Helena ainda teve mais dois irmãos para cuidar, um rapaz e outra irmã, a mais nova se todos os irmãos e como a mãe dizia, criada noutra época já como se fosse uma rainha, com todos os irmão a paparicá-la.
Durante a década de cinquenta, e como sabia Helena ajudou a mãe e o pai e foi á escola os dias que conseguiu e lhe foi permitido ir. Em 1960 tinha ela 16 anos e João 15, e a mais nova, a Clara 6 anos e muitas vezes João comentava com Helena.
-Um dia destes fujo daqui. Sei de uns homens que partiram para longe, galgaram Espanha, para ganhar a vida no estrangeiro. Aqui nunca vou ser nada, nem fazer mais que o pai, criar ovelhas, e não quero isso para mim.
-Estás maluco João, e vais com que dinheiro? A mãe sabendo morre de desgosto, e já não anda muito bem. Para o estrangeiro não, mas gostava de ir para a capital. Sei de uma rapariga que andava na escola que foi com uma prima servir uns senhores lá na capital. Para aí também eu ia, e sabes que mais, e depois gostava de estudar que aqui não aprendi nada. Um dia gostava de ser doutora, saber muito de letras e números, ler livros, sei lá, queria ser como a professora que tive na escola, mas queria saber coisas do mundo que deve ser muito lindo.
-Ainda és pior que eu. Sonhas alto rapariga. Mas vamos combinar, se eu conseguir abalar daqui, quando tiver dinheiro mando-te algum e com ele vais para a capital. Que achas?
-Está bem, mas vê onde te metes, não conheces os caminhos, nem ninguém, não achas que devias falar nisto ao pai?
-Se lhe digo, não me deixa ir. Não, só te conto a ti, pois para o fazer tenho de ir pelo escondido da noite, como ouvi dizer na outra aldeia, aos homens que falavam na taberna. Vão a salto, pelas montanhas e de noite e depois lá se safam.
João não tirava esta ideia da sua cabeça, e se o desejava fazer nessa altura, no ano seguinte, em 1961 quando rebentou a guerra no ultramar, e começou a ver abalar alguns jovens para a guerra, na primeira oportunidade que teve, juntou-se a grupo e quase só com o que tinha no corpo abalou, dizendo à irmã.
-Diz à mãe que não se preocupe comigo. Um dia hei-de voltar. Cresci nas montanhas, não quero ir para a guerra que nem sei porque existe, nem onde é. Ela que não se apoquente, que à guerra não vou. A ti, logo que possa, mando-te dinheiro para ires para a capital como desejas.
Helena preparou ao irmão, um saco com alguma coisa de comer para o caminho, e alguma roupa, pouca, pois também não tinha muita, e pela noite dentro, quando todos dormiam, recolhida no seu canto, daquele quarto onde dormia com a maioria dos irmãos, senti-o partir, mas ficou quieta em silencio, pedindo a Deus que tudo lhe corresse bem. Também ela, não gostaria de ver o irmão partir para a guerra, sabe-se lá para onde.
De manhã quando deram por falta do João, não disse nada, deixou que o tempo passasse, e só muito tarde, à hora da ceia, com todos à volta do lume, lhes contou o que sabia.
-O João foi com um grupo de homens para Espanha e depois deve ir para algum lado trabalhar, não sei aonde. Disse-me que não quer ir para a tropa, para depois o enviarem para a guerra sem saber para onde. Não vos disse mais cedo, para ver no que dava, pois ele até podia ser apanhado ou voltar para trás, mas a esta hora o pior já passou.
Não houve muitos comentários, e a mãe só disse que também não o queria ver partir para a guerra nem aos irmãos, mas fugir à tropa tinha ideia que seria perigoso. O pai pelo seu lado comentou.
-Nenhum de vocês vai comentar na rua o que aqui foi dito. O João partiu, deixá-lo ir.
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O desencanto
A vida lentamente foi dando a Isabel, um pouco daquilo que ela buscou e lutou muito por conseguir. Pelo seu caminho já algo longo, encontrou basicamente de tudo, viveu bons instantes como os que já foram mencionados, mas também momentos terríveis. Dos seus sonhos de menina, muitos foram-se perdendo pelo caminho, esfumando-se como nuvens efémeras, como se nem sequer existissem no mundo táctil e real onde habitava. Factos que nunca conquistou, decerto, por não lhe estarem à partida destinadas, ou porque simplesmente só faziam parte unicamente do seu imaginário.
Queria ser feliz, decerto como todos que cruzavam com ela no caminho, pois não existe ninguém que não sonhe com a felicidade. Olhando as gentes à sua volta, todos lhe pareciam tranquilos, sorridentes a cada instante, e Isabel não conseguia entender este seu sentimento de tristeza e nostalgia, tão permanentes e castrantes. Ela não conseguiu colocar de lado as suas inquietações, e se nuns dias respirava mais serenamente, outros havia, que sentia sobre ela o peso do Universo, como se tudo e todos se tivessem voltado contra ela, acusando-a de tudo o que não fez, ou fez, mas erradamente, que para ela era quase toda a sua vida, pois sentia-se constantemente insatisfeita e incompleta.
Isabel lutou sempre como pode para tapar esta nuvem que pairava sobre si, como uma sombra persistente e avassaladora, e iludiu-se muitas vezes pensando e fazendo de conta, que tudo estava bem.
Sentiu-se recompensada pelos filhos que teve, estudiosos, presentes sempre que possível, saudáveis e fortes, pelo companheiro fiel e amigo, grande amigo, bom pai, o melhor e maior de todos, que não conseguiu fazê-la sentir-se mais que mal-amada, é certo, mas que a compensou mais tarde, pelo apoio persistente e firme, e uma amizade extremas, pela companhia possível, tudo atitudes que não encontrou nunca em mais ninguém que conheceu.
Mas tentou suplantar todas as ausências que sentia de afecto, carinhos, estima, compreensão, e esquecer o sensação que tanto a prejudicava de auto-estima muito precária, temor e perturbação quase constantes, com uma capa de ferro que arranjou sabe-se lá onde, e que mal ou bem, a foi protegendo ao longo da vida, mesmo que transformando-a dia após dia.
Isabel confiava nas pessoas, era amiga delas, entregava-se aos seus afectos totalmente, e se lhe faziam algo que a desiludisse ficava mais triste do que já era, não conseguindo esquecer facilmente a troca que lhe faziam, do bem pelo mal. Mas ia sobrevivendo a todas estas situações, como toda a gente, com calma e ponderação, não culpabilizando outras relações que poderia ter com outras pessoas diferentes. Engolia e sofria para dentro e tentava caminhar em frente de cabeça erguida.
Quando casara trouxera de casa dos pais, apenas umas argolas de ouro, coisa simples, pequena e fina, que o pai lhe dera na adolescência, assim como um fio de ouro singelo que ele lhe oferecera pela sua quarta classe, que nem medalha tinha. No dedo a aliança de casamento e o anel de noivado que Pedro lhe tinha oferecido. Pedro trazia consigo, além da aliança de ouro do casamento, um fio de ouro fininho que a madrinha lhe tinha dado à nascença.
Estes eram os pertences de ouro de Isabel e Pedro.
Depois de casados, claro que não havia dinheiro para aumentar o pouco que tinham, pois primeiro ponderaram no melhoramento da casa, depois num carro em terceira mão, e mais tarde com o nascimento dos filhos, o importante era que nada lhes faltasse, para o seu crescimento normal e saudável, e assim aquelas eram compras simplesmente inimagináveis, para ambos.
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Queria ser feliz, decerto como todos que cruzavam com ela no caminho, pois não existe ninguém que não sonhe com a felicidade. Olhando as gentes à sua volta, todos lhe pareciam tranquilos, sorridentes a cada instante, e Isabel não conseguia entender este seu sentimento de tristeza e nostalgia, tão permanentes e castrantes. Ela não conseguiu colocar de lado as suas inquietações, e se nuns dias respirava mais serenamente, outros havia, que sentia sobre ela o peso do Universo, como se tudo e todos se tivessem voltado contra ela, acusando-a de tudo o que não fez, ou fez, mas erradamente, que para ela era quase toda a sua vida, pois sentia-se constantemente insatisfeita e incompleta.
Isabel lutou sempre como pode para tapar esta nuvem que pairava sobre si, como uma sombra persistente e avassaladora, e iludiu-se muitas vezes pensando e fazendo de conta, que tudo estava bem.
Sentiu-se recompensada pelos filhos que teve, estudiosos, presentes sempre que possível, saudáveis e fortes, pelo companheiro fiel e amigo, grande amigo, bom pai, o melhor e maior de todos, que não conseguiu fazê-la sentir-se mais que mal-amada, é certo, mas que a compensou mais tarde, pelo apoio persistente e firme, e uma amizade extremas, pela companhia possível, tudo atitudes que não encontrou nunca em mais ninguém que conheceu.
Mas tentou suplantar todas as ausências que sentia de afecto, carinhos, estima, compreensão, e esquecer o sensação que tanto a prejudicava de auto-estima muito precária, temor e perturbação quase constantes, com uma capa de ferro que arranjou sabe-se lá onde, e que mal ou bem, a foi protegendo ao longo da vida, mesmo que transformando-a dia após dia.
Isabel confiava nas pessoas, era amiga delas, entregava-se aos seus afectos totalmente, e se lhe faziam algo que a desiludisse ficava mais triste do que já era, não conseguindo esquecer facilmente a troca que lhe faziam, do bem pelo mal. Mas ia sobrevivendo a todas estas situações, como toda a gente, com calma e ponderação, não culpabilizando outras relações que poderia ter com outras pessoas diferentes. Engolia e sofria para dentro e tentava caminhar em frente de cabeça erguida.
Quando casara trouxera de casa dos pais, apenas umas argolas de ouro, coisa simples, pequena e fina, que o pai lhe dera na adolescência, assim como um fio de ouro singelo que ele lhe oferecera pela sua quarta classe, que nem medalha tinha. No dedo a aliança de casamento e o anel de noivado que Pedro lhe tinha oferecido. Pedro trazia consigo, além da aliança de ouro do casamento, um fio de ouro fininho que a madrinha lhe tinha dado à nascença.
Estes eram os pertences de ouro de Isabel e Pedro.
Depois de casados, claro que não havia dinheiro para aumentar o pouco que tinham, pois primeiro ponderaram no melhoramento da casa, depois num carro em terceira mão, e mais tarde com o nascimento dos filhos, o importante era que nada lhes faltasse, para o seu crescimento normal e saudável, e assim aquelas eram compras simplesmente inimagináveis, para ambos.
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terça-feira, 15 de março de 2011
A dança e Isabel
Continuavam a ser muitas as horas que passava sozinha, e cada vez mais, pois os filhos, crescidos, ausentavam-se também primeiro pelos estudos depois pelo trabalho, até que finalmente passaram a viver independentes. Era a vida a andar ininterruptamente para a frente, e Isabel a querer aproveitar dela o que ainda não tivera. Por vezes revoltava-se por achar que fora roubada em muitas épocas, de tempo, de prazeres, de sensações, que a privaram de sentir indevidamente. Mas já nada havia a fazer, só caminhar e seguir em frente, aprendendo e usufruindo ainda, o que a vida lhe podia conceder.
Um dia, nesta fase de meia soledade e vazio, resolveu que era a altura de aprender a dançar como sempre sonhara desde criança. Estavam a chegar a Portugal, danças que estavam a entrar pela Europa vindas da Argentina, de Cuba e de África. Pesquisou, informou-se e encontrou. Correu várias escolas até se fixar numa definitivamente, mas os primeiros dois, quase três anos, passou-os numa escola onde conheceu algumas pessoas que amou verdadeiramente, pela singeleza, porque se mostraram amigas e afáveis, mas também porque a ensinaram no que Isabel quase achou impossível aprender.
Um, dois, três, cinco, seis, sete, foi uma contagem que passou a fazer parte da sua vida. Iniciar-se no Merengue não foi tarefa fácil, quando começou a introduzir passos mais complicados na dança, para não falar, em tentar dançar numa Roda de Casino, ou a par um Funaná. Tudo aquilo que só a ver parecia simples ao princípio, lhe mostrava demasiado complicado a executar, com um ritmo que o seu corpo não assimilava. Mas Isabel conseguiu desembrulhar-se do complicado, que parecia simples, mas tinha que ser trabalhado para ser conseguido, e apreendeu o ritmo de Salsa Cubana. Depois, com alguma dificuldade, no kizomba e no Semba, lá conseguiu captar à sensualidade dos movimentos, apaixonando-se por essa forma de dança.
Mas mais difícil que isso, conseguiu que o Pedro aderisse a esse prazer e se inscrevesse na sua escola, para também ter aulas de dança. Essa era uma batalha ganha, mas ficava sempre triste, quando lhe diziam que para a sua idade, dançava muito bem. Ela não queria, que na dança houvesse idade, só queria dançar bem, e de facto dançava mas o seu tempo tinha passado um pouco, e de facto dançava mesmo bem mas para a sua idade, pois nunca seria como uma jovem a dançar.
Sei de algumas histórias, que me contou e que viveu nestas lides das danças, que não as vou descrever, por serem tão reais e sinceras que não têm porque, nem como ser descritas, por serem tão intensamente sentidas, mas dançar bem e não ter com quem dançar não é fácil suportar, bem melhor, é não saber dançar, nem querer aprender, nem ir ver dançar, detestar mesmo a dança, para depois não ter que olhar os outros e ficar parada no canto da sala a ver a sua agilidade e beleza, a forma como os seus corpos se contorcem e bamboleiam, sempre ao ritmo sincopado da música.
Olhar e contemplar sem saber como fazer, apreciar só, não custa nada, mas a Isabel isso doía-lhe, pois gostaria de fazer igual. Isabel era a mais velha da escola, os jovens querem-se, uns com os outros, e muitas vezes ela sentia-se como uma intrusa. Além disso o seu tempo de força e vigor já passara. Mas foi sempre andando sem desistir, ainda que muitos dias o entusiasmo lhe faltasse.
Um dia, porque estava cansada da forma de ensino daquela escola e também da maneira como era tratada, resolveu procurar um outro canto, uma nova escola. Tanto buscou que encontrou. Aquela escola era uma família, o seu director, professor e bailarino principal, os alunos, todos juntos, faziam um grupo espectacular. Ali Isabel sentia-se bem, sem nunca esquecer os seus amores antigos, ali arranjou um novo ninho, um novo encanto. O professor dava-lhe aulas particulares e Isabel rejubilava de alegria e satisfação, pela aprendizagem, pela partilha, pela amizade que foram construindo aos poucos. E Isabel aprendeu Salsa em linha, o Chá-chá-chá e outras danças e mais que tudo, aprendeu a libertar-se, e a deixar-se conduzir numa dança, como nunca sonhara antes.
Naquelas aulas, em que estava só ela e o seu mestre, Isabel era feliz, porque se sentia única, solta e realizada a cada instante, apesar de saber que era só ali, naquela sala, que isso acontecia, pois nas festas o peso da idade e os pensamentos que tinha sobre o dançar muito ou pouco, por falta de par ou de energia, voltavam sempre a ensombrá-la.
Fotos do Goggle
Um dia, nesta fase de meia soledade e vazio, resolveu que era a altura de aprender a dançar como sempre sonhara desde criança. Estavam a chegar a Portugal, danças que estavam a entrar pela Europa vindas da Argentina, de Cuba e de África. Pesquisou, informou-se e encontrou. Correu várias escolas até se fixar numa definitivamente, mas os primeiros dois, quase três anos, passou-os numa escola onde conheceu algumas pessoas que amou verdadeiramente, pela singeleza, porque se mostraram amigas e afáveis, mas também porque a ensinaram no que Isabel quase achou impossível aprender.
Um, dois, três, cinco, seis, sete, foi uma contagem que passou a fazer parte da sua vida. Iniciar-se no Merengue não foi tarefa fácil, quando começou a introduzir passos mais complicados na dança, para não falar, em tentar dançar numa Roda de Casino, ou a par um Funaná. Tudo aquilo que só a ver parecia simples ao princípio, lhe mostrava demasiado complicado a executar, com um ritmo que o seu corpo não assimilava. Mas Isabel conseguiu desembrulhar-se do complicado, que parecia simples, mas tinha que ser trabalhado para ser conseguido, e apreendeu o ritmo de Salsa Cubana. Depois, com alguma dificuldade, no kizomba e no Semba, lá conseguiu captar à sensualidade dos movimentos, apaixonando-se por essa forma de dança.
Mas mais difícil que isso, conseguiu que o Pedro aderisse a esse prazer e se inscrevesse na sua escola, para também ter aulas de dança. Essa era uma batalha ganha, mas ficava sempre triste, quando lhe diziam que para a sua idade, dançava muito bem. Ela não queria, que na dança houvesse idade, só queria dançar bem, e de facto dançava mas o seu tempo tinha passado um pouco, e de facto dançava mesmo bem mas para a sua idade, pois nunca seria como uma jovem a dançar.
Sei de algumas histórias, que me contou e que viveu nestas lides das danças, que não as vou descrever, por serem tão reais e sinceras que não têm porque, nem como ser descritas, por serem tão intensamente sentidas, mas dançar bem e não ter com quem dançar não é fácil suportar, bem melhor, é não saber dançar, nem querer aprender, nem ir ver dançar, detestar mesmo a dança, para depois não ter que olhar os outros e ficar parada no canto da sala a ver a sua agilidade e beleza, a forma como os seus corpos se contorcem e bamboleiam, sempre ao ritmo sincopado da música.
Olhar e contemplar sem saber como fazer, apreciar só, não custa nada, mas a Isabel isso doía-lhe, pois gostaria de fazer igual. Isabel era a mais velha da escola, os jovens querem-se, uns com os outros, e muitas vezes ela sentia-se como uma intrusa. Além disso o seu tempo de força e vigor já passara. Mas foi sempre andando sem desistir, ainda que muitos dias o entusiasmo lhe faltasse.
Um dia, porque estava cansada da forma de ensino daquela escola e também da maneira como era tratada, resolveu procurar um outro canto, uma nova escola. Tanto buscou que encontrou. Aquela escola era uma família, o seu director, professor e bailarino principal, os alunos, todos juntos, faziam um grupo espectacular. Ali Isabel sentia-se bem, sem nunca esquecer os seus amores antigos, ali arranjou um novo ninho, um novo encanto. O professor dava-lhe aulas particulares e Isabel rejubilava de alegria e satisfação, pela aprendizagem, pela partilha, pela amizade que foram construindo aos poucos. E Isabel aprendeu Salsa em linha, o Chá-chá-chá e outras danças e mais que tudo, aprendeu a libertar-se, e a deixar-se conduzir numa dança, como nunca sonhara antes.
Naquelas aulas, em que estava só ela e o seu mestre, Isabel era feliz, porque se sentia única, solta e realizada a cada instante, apesar de saber que era só ali, naquela sala, que isso acontecia, pois nas festas o peso da idade e os pensamentos que tinha sobre o dançar muito ou pouco, por falta de par ou de energia, voltavam sempre a ensombrá-la.
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terça-feira, 8 de março de 2011
tanto Brasil que eu amo
Isabel voltou ao Brasil com Maria, porque ela e Pedro lhe tinham prometido essa viagem, e Pedro nessa altura não podia viajar. Isabel que nunca viajara verdadeiramente sozinha até ao estrangeiro, sentiu-se uma valente, subiu no avião, aterrou e foi até ao resort com a filha. Fez passeios com Maria, e mostrou-lhe tudo o que conhecera com Pedro nas redondezas e na cidade de Salvador da Baia. O Mercado, o Pelourinho, a igreja de São Francisco e a igreja de senhor do Bom Fim, nada ficou por ver.
Maria divertiu-se quanto quis, passeou e fez os passeios que eram para fazer. Viram os espectáculos da noite no hotel e no final iam à discoteca, e ambas divertiram-se como duas amigas de verdade. Isabel gostou destes dias, e aproveitou cada segundo que esteve com a filha com a certeza, que uma ocasião como esta não voltaria a acontecer-lhe, mostrando-lhe o local onde gostava de passar férias com o pai, deixando-a livre o resto do tempo para se divertir, aproveitando os entretenimentos que o Sauipi tinha para lhe oferecer.
De longe quando a observava no circo do hotel, pensando ser tudo mentira, sorria só de vê-la a divertir-se, como se fosse um sonho estarem juntas naquele espaço lindo, tão longínquo de casa. E se Isabel lhe queria bem e confiava nela. Maria era a sua menina, a sua relíquia, o seu bem-querer e estava uma senhorinha. Isabel vivia ali um sonho lindo, como nunca imaginara ser possível com a filha.
Dias como estes, Isabel também não voltará a ter, porque Maria cresceu, e Manuel que nesta altura já não quis viajar com a mãe, igualmente, e as férias dos filhos dificilmente serão alguma vez mais, passadas conjuntamente com a mãe e com o pai, mas Isabel sabe que também eles cresceram com ela, pela forma como ela soube estar junto deles nestas alturas, quando faziam férias conjuntas, dando-lhes liberdade e espaço para eles serem gente.
Enquanto Sérgio permanecesse no Brasil, seria mais fácil Pedro e Isabel voltarem ao Brasil, e na verdade pelo facto de ele ter mudado de cidade, Isabel não deixou de visitar esse país, antes pelo contrário, pois assim tinham muitas mais cidades para visitar. De visita a Sérgio, voltaram várias vezes para visitar a cidade de Vitória no Estado de Espírito Santo onde o amigo passou a ter residência própria. Naquela cidade linda, Isabel muitas vezes sonhava poder viver, mas depressa acordava desse sonho louco. Vitória fica muito longe da sua casa, muito mais que o Rio de Janeiro, e a sua realidade é outra bem distinta. Mas pelas vezes que lá esteve, muitas mais que Pedro, que por vezes só aparecia no final das férias para regressar com ela, pois o seu trabalho não lhe permitia mais que isso, Isabel adorava o quarto que Fernanda, a esposa de Sérgio lhe oferecia na sua casa.
Virada para a avenida principal, com uma vista magnífica para o mar, acordava bem de madrugada com aquela vista maravilhosa das palmeiras e das ilhas, que lhe pareciam entrar pelo quarto adentro no sétimo andar. Em Vitória não deixaram nada por ver, e voltaram para visitar outras cidades bonitas que Sérgio lhes recomendou, e para todas estas viagens Isabel ia ganhado coragem mas nunca perdendo o medo das longas horas de voo.
Visitaram Ouro Preto, cidade património mundial e Tiradentes, Senhora da Conceição. E tanto que havia a dizer destas cidades lindas e ricas de património, mas Isabel guardou na memória as calçadas em pedra, as igrejas, as casas pintadas de cor, os pintores, sabendo que o ouro partia destas zonas para Parati que conhecera anos antes para depois chegar a Portugal. Em Ouro Preto olhando aquelas montanhas, onde muitos anos antes, mas depois de 1500, muitos negros escravos terão trabalhado duramente, sentia-se uma privilegiada por poder apreciar aquela beleza natural, ela que vivia a tantos milhares de quilómetros dali. Também eles tinham viajado milhares de quilómetros, mas tinham tido pior sorte, pois não sendo daquelas terras, acabaram por ali ficar acorrentados como escravos.
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Maria divertiu-se quanto quis, passeou e fez os passeios que eram para fazer. Viram os espectáculos da noite no hotel e no final iam à discoteca, e ambas divertiram-se como duas amigas de verdade. Isabel gostou destes dias, e aproveitou cada segundo que esteve com a filha com a certeza, que uma ocasião como esta não voltaria a acontecer-lhe, mostrando-lhe o local onde gostava de passar férias com o pai, deixando-a livre o resto do tempo para se divertir, aproveitando os entretenimentos que o Sauipi tinha para lhe oferecer.
De longe quando a observava no circo do hotel, pensando ser tudo mentira, sorria só de vê-la a divertir-se, como se fosse um sonho estarem juntas naquele espaço lindo, tão longínquo de casa. E se Isabel lhe queria bem e confiava nela. Maria era a sua menina, a sua relíquia, o seu bem-querer e estava uma senhorinha. Isabel vivia ali um sonho lindo, como nunca imaginara ser possível com a filha.
Dias como estes, Isabel também não voltará a ter, porque Maria cresceu, e Manuel que nesta altura já não quis viajar com a mãe, igualmente, e as férias dos filhos dificilmente serão alguma vez mais, passadas conjuntamente com a mãe e com o pai, mas Isabel sabe que também eles cresceram com ela, pela forma como ela soube estar junto deles nestas alturas, quando faziam férias conjuntas, dando-lhes liberdade e espaço para eles serem gente.
Enquanto Sérgio permanecesse no Brasil, seria mais fácil Pedro e Isabel voltarem ao Brasil, e na verdade pelo facto de ele ter mudado de cidade, Isabel não deixou de visitar esse país, antes pelo contrário, pois assim tinham muitas mais cidades para visitar. De visita a Sérgio, voltaram várias vezes para visitar a cidade de Vitória no Estado de Espírito Santo onde o amigo passou a ter residência própria. Naquela cidade linda, Isabel muitas vezes sonhava poder viver, mas depressa acordava desse sonho louco. Vitória fica muito longe da sua casa, muito mais que o Rio de Janeiro, e a sua realidade é outra bem distinta. Mas pelas vezes que lá esteve, muitas mais que Pedro, que por vezes só aparecia no final das férias para regressar com ela, pois o seu trabalho não lhe permitia mais que isso, Isabel adorava o quarto que Fernanda, a esposa de Sérgio lhe oferecia na sua casa.
Virada para a avenida principal, com uma vista magnífica para o mar, acordava bem de madrugada com aquela vista maravilhosa das palmeiras e das ilhas, que lhe pareciam entrar pelo quarto adentro no sétimo andar. Em Vitória não deixaram nada por ver, e voltaram para visitar outras cidades bonitas que Sérgio lhes recomendou, e para todas estas viagens Isabel ia ganhado coragem mas nunca perdendo o medo das longas horas de voo.
Visitaram Ouro Preto, cidade património mundial e Tiradentes, Senhora da Conceição. E tanto que havia a dizer destas cidades lindas e ricas de património, mas Isabel guardou na memória as calçadas em pedra, as igrejas, as casas pintadas de cor, os pintores, sabendo que o ouro partia destas zonas para Parati que conhecera anos antes para depois chegar a Portugal. Em Ouro Preto olhando aquelas montanhas, onde muitos anos antes, mas depois de 1500, muitos negros escravos terão trabalhado duramente, sentia-se uma privilegiada por poder apreciar aquela beleza natural, ela que vivia a tantos milhares de quilómetros dali. Também eles tinham viajado milhares de quilómetros, mas tinham tido pior sorte, pois não sendo daquelas terras, acabaram por ali ficar acorrentados como escravos.
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