domingo, 19 de janeiro de 2014

PERDIDA!



Perdida!

Estou prostrada, tenho vontade de chorar
Mas não posso, não devo, não consigo
Chorar não me leva a nada,
Só me cansaria

Gritar a dor que tenho no peito
Desespera-me
Cria em mim um desencanto sem medida
Que me aperta e amolece,
E no fundo, mais profundo de mim, não sei resultaria

Os meus gritos loucos, são mudos,
Um pranto sem som que me corrói e deixa perdida
Gritar é um delírio,
Um gesto feito benefício que sei me aliviaria
Sei disso.
Mas ficaria igual, ou pior ainda
Com o mesmo peso em cima
Ou mais ainda, como o saberia?

Algo em mim me derruba, me aperta e consome
Me empurra, impele,
E eu deixo
E permito que essa coisa estranha me inunde e anule
E fingindo que não
Sinto uma dor, um cansaço,
Que me dói tudo, me paralisa,
Me corrói a alma, as entranhas e tudo
E finjo que não sei nem sinto

Mas pressinto essa dor e pena, feitas mágoas a dominarem-me
Destruírem-me, num cansaço que não sei de onde vem e me aniquila
Ou sei bem, e finjo que não, porque não adiantaria

Quanta perdição, quanto encanto e magia perdidos em vão.
Dor sem fim, esta que me afunda, me pesa e destrói
Que me diz, ao ouvido, que cada dia será pior ainda

Queria chorar, mas não choro.
Queria gritar, mas calo tudo
Noutros dias distantes, chorei, gritei tudo

Não tenho lágrimas, estou seca de todas as vontades
Dizem que chorar alivia,
Mas se eu chorasse ficaria
Mais pesada, dorida, muito mais sofrida ainda

Encosto-me num canto e sossego tanto desencanto
Prefiro calar

Escrever o que sinto e neste gesto espalhar as palavras
Esvoaçando pelo mundo.


Inês Maomé

19/01/2014

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