Esta será talvez a primeira e a última carta que te escreverei.
Sabes que te amo. Amar-te-ei sempre porque és um pedaço de mim, porque te desejei desde o primeiro segundo que as duas células que por amor se juntaram e multiplicaram até que tu fosses capaz de vir ao mundo, estavam dentro de mim. E tu e eu sabemos que uma dessas células era minha. E ainda dentro de mim amei-te cada dia mais e mais.
Cresceste tanto e tão depressa que quase parece um sonho. Mas ainda recordo bem a tua mão pequena presa à minha, procurando com doçura o caminho certo a seguir fosse o que fosse, quase nunca para pedir, porque te dei sempre o que gostavas e ainda o que tu nunca exigias, mas porque encontravas apoio e aconchego na minha mão maior que a tua que sempre me afagava.
Já mais crescida a tua mão fugiu à minha, já não precisava mais desse conforto e eu que senti a sua falta, mas aceitei o teu desejo. Tinhas crescido e decerto encontraste outra mão por companhia. Sei disso. Ainda bem.
Mas tenho saudades desse teu carinho pequenino. Dos teus olhos ternurentos e meigos, pequeninos e tão lindos procurando o meu apoio constante, o meu amor, o meu abraço e mimo.
Como tenho saudades de ti com os teus lacinhos, com as fitas de cabelo coloridas, das tranças cruzadas que te ficavam tão bem e que eu te fazia com tanto amor e ternura. Muito mais tarde que saudades de te ver sair à noite arranjada no teu estilo tão próprio e acordares já tarde de má cara, porque a noite longa não te deixara dormir o suficiente. Foste sempre rabugenta ao acordar.
Que saudades de tudo que tu eras, só porque eras mais minha, e porque por seres pequenina, te sentavas ao meu colo, me olhavas e ouvias atenta, me apreciavas, e simplesmente, me chamavas simplesmente mãe.
És a minha princesa, a minha rainha. Cresceste e hoje és já uma senhora.
Uma mulher calma, segura, competente, independente, muito sóbria, bonita e valente, uma mulher que me orgulha por seres a minha filha, um amor meu sempre presente.
Mas hoje já não me olhas como antes. Não tens tempo, nem paciência. Eu ocupo-te o tempo que precisas para viver a tua vida. De ti pouco sei, e há muito que as minhas mãos vazias nem sabem mais se as tuas estão quentes ou estão frias´. O que mais desejo é que os teus dedos finos e delicados dessas tuas mãos que já não são minhas, nunca venham na vida que te espera, a estar frias ou vazias.
Minha filha, minha dádiva de Deus, que cada dia me foge mais e mais para todo o sempre, desejo que sejas para sempre eternamente uma rainha.
Hoje já não me és quase nada, pois tens a tua vida, e precisas vivê-la bem diferente e longe da minha, mas sinto tanto a tua falta e tenho tanta nostalgia..., que precisava dizê-lo aqui , e calar-me depois para sempre.
Deixa-me ficar com as minhas saudades até que me habitue e aceite que te perdi, mas deixa que isso aconteça devagarinho, para que me habitue a viver sem sentir tanta esta dor e toda esta melancolia.
Não sou capaz de pensar que não me amas, que não me ligas, que me tratas com indiferença e alguma crueldade, exactamente o contrário do que queria que fizesses, mas digo-te hoje que é isso que muitas vezes sinto, que não me estimas como devias. Nunca mais to direi, pois sei que vais ser feliz, e não precisarás mais de mim, nem do meu carinho diário e atento.
Não te importes comigo pois hei-de sobreviver, mas não te esqueças que o que sinto dói, e que desejo que um dia não venhas nunca a experimentar esta dor que me fazes muitas vezes sentir. Previne-te.
Quem sabe se te amei sempre demais e não soube aprender a ouvir o teu amor. Mas penso que não, pois não o pressinto assim. Parece-me que o teu amor me fugiu, partiu contigo, e tu estás certa que eu aqui fiquei segura e bem.
Mas não fiquei, pensas errado, se é que pensas algo de mim. Eu precisava que me chamasses mais vezes “mãe”, que continuasses a pegar-me de quando em vez na minha mão, me levasses a passear quem sabe para falarmos, sem discutir, somente de futilidades e quem sabe me perguntasses: “ MÃE ESTÁS BEM?”
Que saudades tenho sempre de ti minha filha querida, ontem, hoje e amanhã, para toda a vida, e como te quero bem.
Sinto tanto a tua falta, que o coração me dói que parece rebentar… Mas é a vida e desejo que sejas eternamente feliz, muito mais que alguma vez eu consegui ser.
Serão estas coisas, coisas de mãe, simplesmente, não sei?.
Mas nesta carta fecho o que sinto e espero continuar a viver com o que me resta…, que é pouco, porque me sentirei eternamente mal-amada, mas isso que te importa ou a alguém!
Adoro-te sempre, para além de mim, mesmo depois de um dia partir para algures, de onde nunca mais voltarei a vir até aqui.
A tua mãe que te adora.
Fotos do Google
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