sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Os sonho de Nita

- Não deves ralar-te com o que as pessoas possam dizer do teu vestido, ou da casa para onde irás viver. A Celeste trabalha muito bem e se te fizer o vestido de noiva, fá-lo-á muito bem, tenho a certeza, e a tua casa mesmo simples quando a tiveres, será tua e o que precisas é que dentro dela não te falte paz e amor, porque penso que nem tu nem o Carlos são preguiçosos, portanto o pão de cada dia não vos faltará. O que precisas saber é se gostas do Carlos para viveres o resto tua vida e perderes um pedaço dessa tua presunção.


- Estás-me a chamar vaidosa, vaidade não custa dinheiro, cada um toma a que quer, ou não?
- Ai custa, custa, a tua custa que bem vejo, mas isso não vem agora ao caso. Tens é que conversar com o Carlos, entenderem-se um com o outro e teres a certeza se ele é o homem que te convém. Olha que beijos e abraços não sustentam barriga.

- Gosto dele sim mãe, mas ele às vezes bebe realmente um copo a mais. E se isso piorar e eu não o conseguir controlar? Sabes que não sei se sonhei se alguém me disse, que bebe desde pequeno porque o pai em vez da merenda lhe dava vinho, quando o levava para trabalhar.

- Raios, ó rapariga cala-te com esse sonho, e com esses ditos e mexericos, que já me estás a moer os ouvidos com tanta coisa. Pões-me aflita. Olha lá, pergunta-lhe se isso é verdade, e fica tudo esclarecido.

- Vou tentar falar com ele sobre este assunto, mas com cuidado para ele não desconfiar que penso que bebe demais. O Carlos é lindo e eu gosto dele. Sei lá se se vai chatear comigo, por lhe falar desta questão? Uma coisa que eu sei, é que ele é ciumento e desconfiado.

- O que também não é muito bom. Mas hoje não tens mais que fazer, não vais trabalhar? Vá, bebe o café, cala-te e vai-te vestir, senão perdes a camioneta.

Nita trabalhava em casa de uma senhora em Viseu, cujo marido era um médico de renome naquela cidade, e ia e vinha, todos os dias de camioneta para a cidade. Esperava que o marido da senhora, o senhor doutor, um dia lhe arranjasse um emprego nos serviços do posto médico onde trabalhava, como auxiliar fosse do que fosse, por isso nunca abandonaria os serviços daquela casa, além de que gostava muito da senhora.

Nas horas que tinha depois de sair da senhora e depois de chegar à aldeia, ganhava umas horas nesta e naquela casa, nalguma limpeza para que lhe falavam ou então a passar a ferro, o que fazia na perfeição. E desta forma ia ultimamente aos poucos arranjando o seu pé-de-meia.

A mãe de Nita, a Fernanda, levantava-se sempre cedo pois tinha que dar a ração e “lavagem” às galinhas que tinha na capoeira, à porca que tinha no curral e a duas cabritas que tinha presas noutro curral mesmo ao lado, que lhe davam algum dinheiro a ganhar. As galinhas serviam para a alimentação da família, a porca para fazer criação e as cabras também, ainda que de vez em quando, fosse uma festança lá em casa quando fazia a matança de um porco nascido da porca e que ela não vendia e criava para tal, ou de um cabrito que matava para alguma ocasião especial, como era a Páscoa ou o Natal.

Naquela manhã apesar de não ter referido isso à filha, ficou incomodada com a sua enorme preocupação pelo sonho intenso que tinha tido. Como qualquer mãe, não queria nada que a filha se casasse e viesse a ser infeliz. Aquela aflição da filha também a apoquentou.

E se o rapaz fosse mesmo mais pegado ao vinho, que a tudo o resto? Seria isso tudo verdade? Do que conhecia dele tudo lhe parecia possível, mas o que havia de fazer? Era o namorado da filha, estavam fartos de andar juntos e se se largasse a Nita iria ficar falada na aldeia.

Se se pudesse saber o futuro, mas sabia que a filha não podia nunca casar com um doutor, pois era simples e sem estudos, mas se isso acontecesse nada garantia que o seu futuro lhe fosse mais risonho.

A sorte não está na fortuna nem nos títulos, ainda que estes ajudem, mas no trabalho e na honestidade de cada um, e depois tem que se ter saúde, que o resto bem por arrasto. E era assim que a Fernanda, a mãe da Nita, pensava. O rapaz era bonitão e aparentava ser trabalhador e a Nita era muito jeitosa, e também não era preguiçosa, por isso parecia-lhe que estavam bem um para o outro.

Quem seria capaz de prever o futuro?
 Raios, aquilo tinha sido um sonho, mais nada. Todos os homens que conhecia na aldeiam bebiam e tinham as suas vidas.

A filha havia de ser feliz com aquele rapaz.



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