Ele era meigo e sedutor, e com meia dúzia de beijos e promessas de amor perpétuo, Nita esquecia sempre as pauladas, os encontrões, as negras que ele lhe fazia, e não lhe conseguia resistir, porque nestas ocasiões as suas mãos ficavam mais macias que a seda e conseguiam fazê-la sonhar e imaginar que estava no céu.
Ela pensava sempre que homem que é homem bebe, e portanto se o seu bebia não era nada de tão grave assim, e depois havia ocasiões em que ele até a fazia rir.
E um dia, como já era de prever, uma dessas reconciliações acabou numa cena louca de amor que a deixou grávida. Foi um deus nos acuda para contar à mãe e depois ao pai, aquela situação. Tanto ela como o namorado pensaram e discutiram muito sobre a gravidez, pois o Marques pensava que o melhor era ela fazer um aborto. Mas isso era muito caro, e nenhum deles tinha dinheiro para pagar tal coisa, e além disso proibido e Nita sabia que podia até ir presa se o fizesse e fosse descoberta, pois já o ouvira dizer a alguém.
Nita não conhecia amiga nenhuma que alguma vez o tivesse feito, e não podia chegar ao médico e dizer que não queria aquele filho, só porque era solteira e o namorado também não o queria. Além disso, a ideia de fazer um aborto incomodava-a e dava-lhe medo, por ser algo que bem no fundo desejava não fazer, pois amava o namorado e o que mais queria era casar com ele. E assim um dia o Marques confessou-lhe que queria esse filho e queria casar com ela. Gostava dela e apesar de pobres haviam de sobreviver e de ter ainda mais filhos. Esse dia foi um dos mais felizes dias na vida da rapariga que nunca ouvira o seu namorado falar-lhe daquele jeito.
O que mais assustava Nita era lembrar-se da vergonha e aflição que passaria para dizer ao pai que estava grávida, mas tinha que o fazer. Ela tinha o seu orgulho, sempre com a mania de saber fazer tudo perfeito, meio mandona e autoritária, e como naquela situação falhara, sentia-se comprometida. Mas tinha que o fazer, mesmo que o pai lhe dissesse o que ela não queria ouvir e lhe desse alguma paulada, a não ser que conseguisse convencer a mãe a fazê-lo por ela. Assim, pensando melhor resolveu contar primeiro à mãe que ficou alarmadíssima e ralhou com ela como se o mundo fosse acabar, dizendo-lhe depois de acalmar um pouco:
- Já sabia que de ti não podia esperar outra coisa. Tanto namoro e apertão, tanta saída sei lá eu para onde, não podia dar coisa melhor. Não és a primeira a casar de barriga, e não serás a última, mas o rapaz será que te irá fazer feliz, não vês as cenas que faz quando bebe? Que falta de tino, tu, que tinhas a mania de ser tão esperta olha como te deixaste levar.
- Mas não vês como gosto dele, mãe? É dele que gosto, de mais ninguém. E depois que me importa estar grávida, já estávamos a pensar em casar, sabias, não sabias? Pronto, assim já vai o trabalho feito.
- Tu e as tuas respostas descaradas e sempre na ponta da língua. Anda, vai lá dizer isso ao teu pai e ouve o que ele te diz.
- Ao meu pai dizes-lhe tu. Olha, sabes que mais, podíamos nem lhe contar, tratávamos do casamento, antes da minha barriga crescer e pronto, estava o caso resolvido. Sabes, já tenho andado a comprar umas coisas para o meu enxoval e também não é preciso muito.
- Tu, e as tuas ideias malucas, mas parece que pelo menos, estás a fazer algo acertado, pensando no enxoval, pois bem que te vejo a trazer algumas coisas para casa. O que te posso dar não é muito, pois o dinheiro é escasso e para fazer o casamento à pressa. Acho mesmo que o melhor será casares, que se não for com este será com outro, e se ele te tratar mal não será por não saberes e não teres sido avisada. Pelo menos já sabes o que levas. Vê se o consegues endireitar.
- Sendo assim, não te esqueças de falar ao pai que eu e o Carlos estamos a pensar casar, ouviste? Depois ele passa por aqui e começamos a preparar tudo. E tu, mãe, vais comprar-me também umas coisitas que preciso que o meu dinheiro é curto.
- Tu e as tuas ideias. Julgas que não me preocupa essa tua pressa...
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