Quando Isabel e Pedro chegaram àquela aldeia, não conheciam ninguém, como ninguém os conhecia a eles. Levavam consigo uma mala com alguma roupa, pouca, e o coração cheio de esperança de conseguir concretizar muitos sonhos. A casa que os esperava, muito pequena, com uma minúscula janela que dava para a rua principal, tinha sido arranjada anteriormente pelos pais dela e enfeitada por ela, com o indispensável para os dois se sentirem no mínimo confortáveis.
Uma divisão muito simples, a que chamaram quarto, com o mobiliário que conseguiram adquirir, bem diferente daquele que Isabel idealizara, mas com o suficiente para conseguirem começar uma vida juntos, seria o seu refúgio de amor. Nas paredes uns cortinados brancos, ocultavam um pouco a rudeza das paredes, dando ao quarto, um ar mais nobre e aconchegado, o mesmo encanto com que procurava enfeitar os seus dias. Deste passava-se para a cozinha, onde uma mesa redonda, feita pelo avô Francisco, tinha lugar de honra, rodeada por quatro cadeiras, que ficariam para a história, compradas a propósito. No início, na sala só havia no espaço que parecia amplo, a tábua de passar a roupa.
Nem sofás, nem cadeiras, nem mesa, nem móvel, nem nada para lá colocarem, além deles próprios, que muitas vezes se rebolaram e menearam nesse chão, fazendo dele seu enxergão, e nele se amaram, enrolando-se sem cansaço, contando-lhe mil e um segredos, nesse tempo em que Isabel e Pedro, como todos os jovens amantes e enamorados, idealizavam que o amanhã será sempre como aquele instante, risonho e fácil.
Uma casa de banho, onde a água caía do chuveiro, liberta como do céu, podendo molhar-se à vontade as paredes e o chão, escorrendo depois livre para a rua. Mais adiante a porta de saída para o quintal, com um pequeno e minúsculo canteiro de flores. Junto à porta, um tanque onde Isabel lavaria a roupa à mão.
Tudo feito a propósito para os noivos viverem bem, e não se sentirem mal acomodados, porque tudo, era manifestamente pouco, ainda que para início de vida, a Isabel, tudo parecesse muito e grandioso. Ali, naquela casa, começava a sua vida com Pedro, uma vida que ela aspirava ser de liberdade, de muito amor, paz e muita felicidade. Ao princípio, ali, Isabel quase se sentiu uma rainha, e digo sentiu, porque mais tarde me confessou, que passados uns tempos começou a aspirar ter uma casa maior, com mais algum conforto, um melhor quarto, com uma janela que pudesse abrir e lhe permitisse arejar a casa e todo o lar. ~
Uma porta que desse para a rua, mesmo que não tivesse sala de entrada, por onde pudesse entrar e sair quando quisesse, já que a entrada desta sua pequena casa, era feita pelo quintal das traseiras.
Este tanque de lavar a roupa, trazia-lhe à mente recordações menos agradáveis da infância. A mãe passava o dia de volta da roupa da família, e também ela ali, tinha que lavar toda a roupa, atá aos tapetes do chão, o que não a incomodava, porque tinha a esperança de um dia mudar, mas que a arrastava e puxava a ficar presa ao passado com pensamentos contínuos que não a largavam. ~
Que sonho tão simples era o de Isabel, o de um dia sacudir o pano de limpar o pó da casa, numa janela frondosa, porque nesta altura ainda não lhe passava pela cabeça a ideia de comprar uma máquina de lavar roupa, engenho muito dispendioso.
Era uma casa interior, muito pequena, junto ao local de trabalho de Isabel, uma casa daquelas onde o Sol nunca entra, nem pede para penetrar, e para ele se poder olhar, tem que se vir à rua, onde é de todos e não vive a paredes meias com ninguém, nem pede licença para entrar.
Isabel pretendia inúmeras coisas, e a primeira de todas era poder conviver com o Sol, vê-lo todos os dias a sorrir-lhe, e umas atrás das outras, as realidades que naquela altura não conseguia alcançar, poder um dia segurá-las nas suas mãos.
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