quarta-feira, 20 de abril de 2011

Uma mãe de verdade

Aquele dia foi com certeza, pelo conteúdo densidade dramática, o mais longo da vida de Helena, mas ainda não tinha chegado ao fim.

Celeste andava num reboliço, a compor o quarto que a senhora destinara a Helena, como esta lhe tinha ordenado, sem entender nada, não fazendo perguntas pois o clima estava denso. Mas a cada instante crescia dentro dela uma curiosidade cada vez mais intensa. Via que a cara de ambas, tanto da senhora como de Helena não estavam bem e como o caso parecia sério mantinha-se em silêncio, pois não faltariam ocasiões para saber muito bem sabido, quando as coisas acalmassem, tudo o que se passava, era o que pensava, pois Helena lhe contaria tudo, mas entretanto ia morrendo de curiosidade.

Em breve Helena estava instalada no quarto de cima com a Maria Luísa, e pediu á senhora que precisava conversar com ela uns instantes.

-Sim Helena fala rápido pois preciso descansar.

-Também eu, minha senhora, mas primeiro preciso de lhe dizer o que preciso aqui no quarto, para cuidar como deve ser da sua, quero dizer da minha filha. E como a Luzinha precisa de médico não se esqueça de arranjar um muito bom, para a ver logo que possível. Amanhã seria o ideal. Quero uma cama e uma banheira para lhe dar banho, produtos como o médico falou lá na serra para lhe cuidar do corpo, e mais roupinha para lhe vestir á medida que for crescendo. Preciso ter a certeza que me vai dar a tal mesada e aumentar o salário, porque senão quando o senhor Manuel me chamar, desminto tudo, e quero ver em quem acredita ele, se em mim se na senhora. Afinal é a senhora que está a dar leite, não eu, que ele ainda não secou, ou já?

-Tem calma Helena, terás tudo isso, que também eu quero muito que a Maria Luísa seja bem tratada. Não te esqueças que saiu de dentro de mim.

-A senhora desculpe, mas não parece. Sabe, nunca fui mentirosa, e agora que vou ter que engolir esta mentira, a si pelo menos tenho que dizer o que sinto.

E Justina não podia dizer nada. Saiu deixando-a no quarto às voltas com a sua revolta. Preparou uma lista de produtos que deu a Fernando e fê-lo sair imediatamente para os ir comprar, sem lhe responder a quaisquer perguntas.

Fernando já estava alarmado por muitas coisas que Celeste lhe tinha contado. Perplexo, traído e admirado, confuso e entristecido, primeiro, porque se sentia atraiçoado por Helena por quem tinha tanto amor e por quem esperara aqueles meses com tanta ansiedade, depois porque sequer tinha sido avisado daquele acontecimento pelas cartas que ela lhe fora escrevendo sempre tão curtas, enquanto ele lhe declarava em cada uma delas, sempre o seu eterno e imenso amor. Afinal todo aquele tempo, ele supunha Helena com uma grave doença que não aquela. Vivera numa mentira inventada por ela. E isso, ele não lhe perdoaria.

Helena mentira-lhe o tempo todo, andara a iludi-lo, a brincar com ele com os seus sentimentos, fizera passar-se perante ele, por uma jovem inibida, ingénua e envergonhada e afinal era uma qualquer, que o tentara enganar e ele nem dera conta disso. Palerma era o que ele fora. À noite, quando o patrão quisesse falar com os dois, ele lhe diria o que pensava de tudo isso. Mulher desavergonhada, que tentou enganá-lo com as suas falinhas mansas, fazendo-se passar por ingénua e em quem ele acreditou por amar verdadeiramente. Estava triste e infeliz porque lhe queria muito bem e sonhara casar com ela, mas tendo um filho de outro homem, nunca o faria. E isso mesmo sem falar com ela só pelo que Celeste lhe contara, era o suficiente para estar mais que decidido. Só assim é que também entendia o facto de Helena ainda não ter arranjando um bocadinho para o ter procurado.

Mal sabia Fernando as preocupações que iam na mente e no coração de Helena. Só almas supremas o poderiam entender.


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