segunda-feira, 16 de abril de 2012

A vida!

 Há já algum tempo que aqui não venho.
 Tenho andado ocupada a rever o texto que será o meu segundo livro editado pela Chiado "Mulheres Singulares" e fiquei extenuada.

 Não conseguia ler mais uma linha. Alterava a cada frase que lia o que tinha escrito, pois tudo me parecia mal escrito, mal pensado, impróprio e inadequado para o sentido que queria dar a cada frase.

 Estou realmente muito cansada. Até de ler, de escrever e muito mais de pensar.
 Dizem que não escrevo nada. Riem-se com o que escrevo e como escrevo. Devem ter razão. Também sei que não escrevo nada, afinal nunca fiz nada que valesse a pena.Sempre fiz coisas banais, vulgares.
 Fico calada, sorriu e não digo nada. Fazer o quê, se é a forma que tenho de me defender de uma coisa que hoje faço e é a única que me preenche o tempo e me dá algum prazer?

 Será que o que escrevo , o que agora acabei de escrever tem algum interesse? Se não tem, porque aposta a Chiado mais uma vez em mim?
  Estou cansada, vazia, sinto que não faço nada, não valho nada, não sei fazer nada.
  Trinta anos a trabalhar contrariada numa função que sempre detestei e agora, depois de tanta luta, foge-me tudo a mim e a eles das mãos.

  O meu pai não me fala vai para 5 anos. Tanto tempo a ouvir sair da sua boca palavras curtas, secas, só para perante as pessoas não cair mal o seu silêncio absoluto. A minha mãe e ele não me visitam exactamente desde essa altura. Na minha casa não voltaram a entrar, não que eu o não desejasse, mas porque ele perdeu o sentido deste meu lugar. Não vindo ele, ela também não vem pois apesar de não se darem muito bem, a minha mãe não faz nada que ele não faça.

  Amigos? Não tenho. Daqueles que são amigos de verdade, sim, não tenho e não sei o que são.
  Vamos almoçar ali. Queria tanto falar contigo. Preciso dizer-te que não estou feliz, ou então o inverso. Um amigo de verdade, que nos ouve, apoio  a cada hora que precisamos dele, um grupo de amigos de verdade..não, não tenho. Penso até que ninguém sabe de mim.

  Estou velha e enrugada. Não faço mais que mandar alguém fazer algumas coisas por mim.
  Doutora é o que alguns me chamam, senhora também, mas doutora e senhora do quê se nada tenho, nem mesmo vontade própria? Só tenho muito cansaço.

  Já são muitos os anos que passaram mas eu não dei conta que passariam tão depressa. Deixei-os voar e não fiz nada, para agora olhando para trás sentir que valeu a pena. E sinto a falta de muita coisa, porque vivi escondida, com medo, assustada, sem ter vivido de facto. Sempre ansiosa, temerosa, sempre presa a algo sem saber ao certo o quê, passei a vida a correr à espera de ser entendida e amada e na verdade só vejo que o tempo passou agora que me encontro completamente submissa e rendida à minha falta de atitude.
 Que vida  inútil que levei sem qualquer interesse, cheia de incompetência e um imenso vazio a rodear-me por nada ter feito em prol de mim, dos meus e muito menos da humanidade.
 Sei com toda a certeza, que nunca soube nada.

 Estou de facto muito velha, muito mais por dentro que por fora. Mas vou deixá-los falar e rir do que escrevo e vou continuar a fazê-lo senão darei em doida, sentada numa cadeira qualquer, num canto abandonada sem nada para fazer, sem ninguém para me ouvir, sem conseguir ver o Sol nascer, o verde dos jardins vibrar para não falar do mar que tão longe de mim um dia deixarei completamente de ver e escutar.
 Ou não será já este o presságio do que está para me acontecer um dia?
 Gosto tanto do verde dos jardins, do Sol a bater nas janelas e a vir ter comigo...gosto tanto de tanta coisa e afinal não tenho nada.

  Ando a pensar se valerá a pena continuar a dançar! Será que vale a pena? E se danço como escrevo?  
  Todos se rirão de mim, e fá-lo-ão sempre, porque eu sou assim!
  Afinal talvez esteja na hora de parar.
  Gostava tanto de fugir para algures e começar tudo de novo....

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